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Rússia prende pai de menina que fez desenho contra a guerra na Ucrânia

Alexei Moskalyov, que é pai solteiro, estava em prisão domiciliar e, como não compareceu ao tribunal, era considerado foragido

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Por Redação

O pai da menina russa que fez um desenho contra a guerra na Ucrânia foi preso. O homem era considerado foragido da Justiça, mas acabou sendo detido, segundo um advogado informou à Reuters, nesta quinta-feira, 30.

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O caso ganhou repercussão mundial nas últimas semanas. Masha Moskaleva, de 13 anos, fez o desenho em abril de 2022. A imagem mostra mísseis indo em direção a uma mulher e uma criança. A menina também desenhou as bandeiras da Rússia e da Ucrânia e escreveu “Não à guerra” e “Glória à Ucrânia”.

Na terça-feira, 28, um tribunal russo condenou Alexei Moskalyov a 2 anos de prisão após sua filha, Maria Moskalyova, apelidada de Masha, uma estudante de 13 anos, fazer um desenho considerado pelas autoridades crítico à guerra na Ucrânia. A Justiça disse que Moskalyov, que é pai solteiro, cumpria prisão domiciliar desde 1º de março e, como não compareceu ao tribunal de Efremov para o veredito, foi dado como foragido. A menina foi apreendida pelas autoridades e mandada para um orfanato.

Alexei Moskalyov durante uma audiência em um tribunal de Efremov, na região de Tula, um dia antes de sua sentença ser anunciada Foto: AP - 27/3/2023

Em entrevista à agência de notícias Reuters, o advogado de Moskalyov, Vladimir Biliyenko, disse que não encontrava com seu cliente desde segunda-feira, 27, e não sabia se ele havia realmente fugido. “No momento, para ser honesto, estou em estado de choque”, disse o advogado.

O que era para ser uma tarefa escolar cotidiana viralizou durante semanas na Rússia, causando indignação nas autoridades. A professora de Masha foi quem denunciou o caso à polícia. O tribunal considerou Moskalyov, de 54 anos, culpado por depreciar as Forças Armadas russas.

Com o desaparecimento do pai, Masha está sob tutela e ficar permanentemente em um orfanato. O advogado Biliyenko também comentou que, em sua última visita à Masha, na terça-feira, 28, ela escreveu uma carta para o pai, dizendo, “Pai, você é meu herói”. A menina de 13 anos está em um lar infantil chamado Centro de Reabilitação Social para Menores Número 5.

Segundo a Rádio França Internacional (RFI), está programado para o dia 6 de abril outro julgamento, no qual o tribunal decidirá o destino da família. Não está excluída a possibilidade de que Moskalyov perca a guarda da menina. A mãe de Masha está afastada da família.

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Como sinal de indignação e repúdio, mais de 144 mil pessoas assinaram uma petição online para exigir a devolução da criança ao pai. Uma das assinaturas é do chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigojine, cujos homens lutam na linha de frente na Ucrânia, que expressou apoiou a Masha e criticou as autoridades locais. Se completar as 150 mil assinaturas, será uma das petições mais assinadas na Change.org, a maior plataforma de abaixo-assinados do mundo, com mais de 200 milhões de usuários em 196 países.

Essa história se tornou um dos principais símbolos da repressão impiedosa da Rússia contra pessoas que se opõem à guerra na Ucrânia.

O desenho de Masha

A filha de Moskalyov desenhou em um papel em branco, de um lado, uma mãe segurando a mão de uma criança, com uma expressão de tristeza e fazendo o sinal de ‘pare’ atrás da bandeira da Ucrânia. Do outro lado, dois mísseis próximos da bandeira da Rússia, em direção às pessoas desenhadas. Na bandeira ucraniana, ela escreveu “Glória à Ucrânia”, enquanto na bandeira russa, “Não à guerra”. O desenho foi feito em abril do ano passado, quando Masha tinha 12 anos.

Masha tinha 12 anos quando fez o desenho que pede fim à guerra na Ucrânia Foto: Michael Bociurkiw/Twitter/Reprodução

Do império russo ao governo atual de Vladimir Putin, a Rússia tem um regime centralizador, com um governo autoritário. O desenho de Masha motivou, neste contexto, uma perseguição já existente às vozes críticas à ofensiva na Ucrânia.

Além do desenho, as autoridades russas investigaram as redes sociais de Moskalyov e anunciaram que foram encontradas diversas postagens criticando a operação no solo ucraniano, endossando os motivos para sua condenação.

Moradores de Lviv, na Ucrânia, tentam recuperar seus pertences após duplo ataque russo no dia 9 de março  Foto: Mykola Tys / EFE

De acordo com a agência Reuters, a polícia também começou a examinar as redes sociais de Moskalyov e o multaram em US$ 460 (cerca de R$ 2.367) por comentários críticos ao Exército russo. Em dezembro, os investigadores abriram outro processo contra ele por suspeita de depreciar as Forças Armadas, desta vez com base em outra postagem nas redes sociais, em junho.

A sanção penal não é isolada. A Rússia tem aplicado uma série de condenações para reprimir críticas ao Exército, incluindo penalizações a celebridades que se manifestam contra os ataques aos ucranianos.

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