A Rússia vetou nesta terça-feira, 11, no Conselho de Segurança da ONU, a prorrogação da abertura de uma passagem na fronteira com a Turquia por onde passa a ajuda humanitária para milhões de pessoas nas áreas controladas pelos rebeldes na Síria, que expirou na segunda-feira, 10.
Os 15 membros do Conselho estão tentando há dias chegar a um acordo para estender o mecanismo que, desde 2014, permite que alimentos, água e medicamentos sejam transportados da Turquia através da passagem na fronteira de Bal Al Hawa para pessoas no noroeste da Síria sem a autorização de Damasco.
Dadas as necessidades urgentes, que foram exacerbadas pelos terremotos de fevereiro, a ONU, os trabalhadores humanitários e a maioria dos membros do Conselho de Segurança pediram que o mecanismo fosse prorrogado por pelo menos mais um ano para permitir uma melhor organização da ajuda.
O texto inicial, redigido pela Suíça e pelo Brasil, propunha sua prorrogação por mais doze meses.
Mas a Rússia vetou a resolução, e a China se absteve. O restante dos 13 membros votou a favor.
O Conselho também rejeitou por dois votos a três, com 10 abstenções, um texto paralelo apresentado pela Rússia propondo uma extensão de seis meses e denunciando as sanções ocidentais contra a Síria.
“É um momento triste para este Conselho, exceto para um país”, disse a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, que chamou o veto da Rússia de “crueldade absoluta”.
“Esse cronograma teria nos ajudado atravessar os rigorosos meses de inverno”, lamentou a embaixadora suíça Pascale Baeriswyl, que se disse muito “decepcionada”.
“Não deixaremos que esse veto ponha fim aos nossos esforços para encontrar uma solução”, disse ela, antes de acrescentar que ela e seu colega brasileiro “retomarão o trabalho imediatamente”.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou sua “decepção” com o fracasso e pediu a “todos os membros do Conselho de Segurança que redobrem seus esforços para garantir que a distribuição transfronteiriça de ajuda continue”, disse seu porta-voz, Stephane Dujarric, antes de acrescentar que a ONU havia estocado ajuda dentro do país em antecipação à suspensão.
O embaixador russo Vassili Nebenzia acusou os países ocidentais de “provocação para forçar a Rússia a recorrer ao seu veto”, dizendo que o mecanismo “não leva em conta os interesses do povo sírio de forma alguma”.
“A ajuda humanitária deve se basear nas necessidades, não na política”, disse Floriane Borel, da Human Rights Watch, que denunciou o “veto cínico” da Rússia.
A ONU “deve explorar imediatamente meios alternativos para garantir que os sírios recebam a quantidade suficiente de alimentos, medicamentos e outros tipos de ajuda de que precisam desesperadamente, sem ter que implorar à Rússia ou ao presidente sírio por acesso”, disse Borel.
O mecanismo criado em 2014 permite que a ONU leve ajuda humanitária às populações em áreas controladas pelos rebeldes no noroeste da Síria, sem autorização do governo de Damasco, que denuncia regularmente a violação de sua soberania.
Inicialmente, o acordo previa quatro pontos de entrada na Síria controlada pelos rebeldes, embora a passagem de Bab al Hawa fosse atualmente a mais movimentada.
O mecanismo de ajuda é renovado a cada seis meses devido à pressão do aliado de Damasco, Moscou, o que complicou o planejamento da ajuda.
Por enquanto, duas outras passagens de fronteira permanecem abertas, embora sejam muito menos usadas do que Bab al Hawa.
O presidente sírio Bashar al-Assad autorizou a abertura das passagens após os terremotos de fevereiro, mas somente até meados de agosto.
“Tenho muita esperança de que seja renovada novamente”, disse o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, que se reuniu com Assad em Damasco no final de junho.
Após os terremotos mortais de 6 de fevereiro, mais de 3.700 caminhões de ajuda da ONU cruzaram as passagens de fronteira, de acordo com a ONU, mas a grande maioria passou por Bab al Hawa. Somente na segunda-feira, 79 chegaram.
De acordo com a ONU, quatro milhões de pessoas no noroeste da Síria, a maioria mulheres e crianças, dependem de ajuda humanitária para sobreviver após anos de conflito, crises econômicas, epidemias e aumento da pobreza, exacerbados por terremotos devastadores.
O mecanismo estava fornecendo ajuda a 2,7 milhões de pessoas por mês.
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