China concordou em fornecer armas secretamente à Rússia, mostram documentos vazados dos EUA

Informação obtida pela espionagem americana indica que chineses planejavam disfarçar equipamentos militares como itens civis; funcionários do Pentágono dizem que não há evidências de envios

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Por Karen DeYoung e Missy Ryan
Atualização:

Um dos documentos ultrassecretos do governo americano que foi vazado na internet por meio do aplicativo de mensagens Discord indica que a China aceitou enviar armas aos russos na guerra na Ucrânia e planejava disfarçar equipamentos militares como itens civis.

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A interceptação, aparentemente obtida através de escutas instaladas no Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (SVR), está em um relatório ultrassecreto do Pentágono datado de 23 de fevereiro. O vazamento levou à prisão do oficial da Guarda Nacional Jack Teixeira, de 21 anos.

Segundo os arquivos secretos do Pentágono, a Comissão Militar Central da China aprovou o fornecimento adicional de armas e queria que isso fosse mantido em segredo, segundo o vazamento. Não há indicativos até o momento se ou quando essas armas foram enviadas. O governo americano diz oficialmente que não há evidências disso.

“Não vimos evidências de que a China tenha transferido armas ou fornecido assistência letal à Rússia. Mas continuamos preocupados e continuamos a monitorar de perto”, disseram sob anonimato dois funcionários do alto escalão do governo.

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Presidente da Rússia, Vladimir Putin (esq.), ao lado do presidente da China, Xi Jinping (dir.) durante a viagem do chinês à Moscou, no dia 21 de março Foto: Grigory Sysoyev/Sputnik/via AP

China critica vazamentos

A China, que afirma ser neutra sobre a guerra na Ucrânia, denunciou as declarações e disse que não aceitaria coerção ou “os EUA apontando dedos” enquanto fornece enormes quantidades de armas para a guerra.

Entretanto, o documento mostra que a relação entre Rússia e China, que se transformou na principal aliada estrangeira de Moscou após o isolamento diplomático do presidente russo, Vladimir Putin, é maior do que o sugerido em público. Até o momento, a China se absteve de endossar totalmente os planos de Putin e se posiciona como um mediador para um acordo de paz no conflito. O líder chinês, Xi Jinping, viajou a Moscou no mês passado e defendeu uma saída para o conflito.

Os Estados Unidos e a Otan, no entanto, responderam com ceticismo aos apelos de Pequim por um cessar-fogo e ao plano de paz apresentado e afirmam que nenhuma solução deve permitir que a Rússia “descanse e se rearme”. A Ucrânia, por sua vez, exige que qualquer acordo respeite suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, o que exigiria que a Rússia se retirasse da Crimeia e de outras áreas ocupadas do país.

Em outro documento vazado, a inteligência americana avalia que Pequim enxergaria um ataque significativo de Kiev a Moscou como “indicativo de que Washington é diretamente responsável pela escalada do conflito”, caso os ucranianos estivessem usando armas fornecidas pelos EUA ou pela Otan. Isso daria aos chineses, diz a avaliação, uma “justificativa adicional para a China fornecer ajuda letal à Rússia”.

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Autoridades americanas dizem ter alertado Kiev para não usar armas fornecidas pelos EUA ou pela Otan para qualquer operação fora do território ucraniano. Acredita-se que a Ucrânia tenha patrocinado ou apoiado uma série de ataques feitos dentro da Rússia.

Tensão entre EUA e China

As revelações ocorrem em um momento de tensões elevadas entre Washington e Pequim. envolvendo particularmente Taiwan. Em fevereiro o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, cancelou uma viagem à Pequim após um suposto balão de espionagem chinês sobrevoar instalações militares dos EUA. O balão foi derrubado sobre o Oceano Atlântico por um caça americano e o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, chamou a reação de “histérica” e de um “esforço para desviar atenção dos problemas domésticos”.

Em 19 de fevereiro, um dia depois de se encontrar com Wang em uma conferência de segurança em Munique, Blinken disse à CBS News que as preocupações antigas do governo americano de que a China poderia fornecer apoio bélico à Rússia haviam aumentado. “Nós os vimos fornecer apoio não letal à Rússia para uso na Ucrânia”, disse Blinken. “A preocupação agora é baseada em informações que temos de que eles estão considerando fornecer apoio letal, e deixamos muito claro para eles que isso causaria um sério problema para nós e para as nossas relações.”

Questionado sobre o que significava apoio “letal”, Blinken respondeu: “Armas. Armas. Toda uma gama de coisas que se encaixam nessa categoria, desde munição até as próprias armas.” Funcionários do alto escalão do governo disseram que os carregamentos considerados pela China incluíam munição de artilharia, que a Rússia precisa com urgência. Blinken disse que compartilhou as preocupações dos EUA com Wang.

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Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse que Washington “deve refletir sobre as próprias ações. São os Estados Unidos, e não a China, que enviam incessantemente armas para o campo de batalha.”

O diretor da CIA, William J. Burns, em uma entrevista à CBS em 26 de fevereiro, disse que o governo americano estava “confiante de que a liderança chinesa considera o fornecimento de equipamentos letais”. Ele indicou que tornar essa informação pública tinha a intenção de dissuadir Pequim. Tanto Blinken quanto o presidente Joe Biden, segundo Burns, “acharam importante deixar muito claro quais seriam as consequências disso”.

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