KIEV ― Rússia e Ucrânia renovaram nesta quinta-feira, 17, o acordo sobre o escoamento da produção de grãos ucraniana pelo Mar Negro, enquanto projéteis russos continuavam a cair na frente de batalha, provocando novas baixas. O acordo, conhecido como Iniciativa de Grãos do Mar Negro, permitiu a exportação de mais de 11 milhões de toneladas de cereais dos portos ucranianos em quatro meses, e se encerraria no sábado, 19.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou “satisfação” com o acordo, que permitirá “a navegação segura da exportação de grãos, alimentos e fertilizantes da Ucrânia”, afirma um comunicado do Centro de Coordenação Conjunta (JCC, na sigla em inglês), que supervisiona o transporte de cereais, com sede em Istambul. Autoridades turcas e ucranianas confirmaram que o acordo foi renovado por 120 dias (4 meses), seguindo as mesmas condições estabelecidas atualmente.
Enquanto o prolongamento do acordo era comemorado, a Rússia lançou uma nova série de ataques em várias regiões da Ucrânia, informaram autoridades de Kiev. De acordo com a agência britânica Reuters, duas pessoas morreram em bombardeios em Zaporizhzhia.
Na região de Odesa, no sul do país, várias infraestruturas foram atingidas, segundo as autoridades regionais. Já na cidade de Dnipro (centro-leste), duas infraestruturas foram atingidas e uma pessoa ficou ferida. Há ainda relatos de explosões seguidas de colunas de fumaça na cidade de Dzhankoi, no norte da península da Crimeia, território ucraniano que foi ilegalmente ocupado pela Rússia em 2014.
Em Kiev, dois mísseis de cruzeiro foram abatidos pela defesa ucraniana.
Também nesta quinta-feira, 17, mísseis russos atingiram a região de Odessa, no sul da Ucrânia, e a cidade de Dnipro, pela primeira vez em semanas. De acordo com o prefeito Boris Filatov, oito pessoas, incluindo uma adolescente de 15 anos , ficaram feridas.
Autoridades das regiões de Poltava, Kharkiv, Khmelnitskyi e Rivne também pediram aos moradores que fiquem em abrigos antiaéreos em meio à ameaça persistente de ataques com mísseis. Ontem, disparos em série de míssil já haviam sido notificadas por autoridades ucranianas.
A Rússia tem recorrido cada vez mais a ataques à rede elétrica da Ucrânia à medida que o inverno se aproxima e as perdas no campo de batalha aumentam. A barragem mais recente ocorreu após a retomada pela Ucrânia da cidade de Kherson, no sul.
O chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, Andrii Iermak, chamou os ataques a alvos de energia de “uma tática ingênua de perdedores covardes”, em um post no Telegram na quinta-feira. “A Ucrânia já resistiu a ataques extremamente difíceis do inimigo, que não levaram aos resultados que os covardes russos esperavam”, escreveu Iermak, pedindo aos ucranianos que não ignorem as sirenes de ataque aéreo.
Ucrânia culpa russos por míssil na Polônia
Um dia após autoridades ocidentais atribuírem à defesa antiaérea da Ucrânia a explosão que provocou duas mortes em território da Polônia, autoridades de Kiev negaram envolvimento no caso e disseram que a Rússia é totalmente responsável pelo incidente no território da Otan.
Após uma reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o chanceler Dmitro Kuleba, da Ucrânia, afirmou que ambos compartilharam “a opinião de que a Rússia é totalmente responsável por seu terror com mísseis e suas consequências no território da Ucrânia, Polônia e Moldávia”, escreveu o ministro ucraniano no Twitter.
O ministro ucraniano também elogiou a “ajuda crucial” americana na área de defesa e insistiu que “as entregas de sistemas de defesa antiaérea à Ucrânia devem acelerar” diante do aumento de ataques de mísseis russos, pedindo que Washington forneça o Patriot, um sistema de mísseis terra-ar que utiliza, em particular, um radar muito potente.
Após colocarem suas defesas em níveis elevados de alerta, líderes da Otan tentaram diminuir as tensões com a Rússia — uma vez que um ataque direto a um país-membro da aliança obrigaria todos a reagirem, em razão do acordo de defesa coletivo.
Polônia e Otan afirmaram que a explosão provavelmente foi provocada por um míssil ucraniano de defesa aérea lançado para interceptar projéteis russos disparados contra a infraestrutura civil. Varsóvia e a Aliança Atlântica acusaram Moscou por ter iniciado o conflito. /AFP, EFE e AP
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