Rússia quadruplica ataques e aumenta efetivo militar para tomar o leste da Ucrânia

Pequena cidade de Kreminna está agora sob o controle das forças russas, o que permitiria que os russos avançassem em direção a Kramatorsk, uma das principais cidades de Donbas

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Por Redação
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KIEV - A Rússia quadruplicou ataques aéreos na Ucrânia nesta terça-feira, 19, em relação ao dia anterior e aumentou o efetivo militar que combate no país, no que o Kremlin chamou de nova fase da guerra. Depois de atacar 300 alvos na segunda-feira, aviões e peças de artilharia russas lançaram mais de 1,2 mil ataques em território ucraniano

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A movimentação era esperada desde a retirada dos arredores de Kiev, no começo de abril. Agora o objetivo é capturar a região de Donbas, no leste, onde os separatistas apoiados por Moscou lutam contra as forças ucranianas há oito anos.

A pequena cidade de Kreminna está agora “sob o controle” das forças russas, o que permitiria que os russos avançassem em direção a Kramatorsk, uma das principais cidades de Donbas, também alvo de bombardeios. Segundo o Pentágono, os russos ampliaram o efetivo militar na região e revisaram estratégias após o fracasso do cerco a Kiev.

Na costa do Mar Negro, no entanto, os russos enfrentam mais dificuldades. A resistência ucraniana se nega a entregar Mariupol, importante porto no Mar de Azov entre Donbas e a Península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Kherson e Mikolaiv também registram importantes focos de resistência ucraniana.

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A região de Donbas é importante em razão de ser a parte mais industrializada da Ucrânia, bem como por ser rica em recursos minerais como carvão e gás. Também ali vive a maior parte da população de origem russa da Ucrânia, pretexto utilizado pelo líder russo Vladimir Putin para invadir o país

A ofensiva foi anunciada pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, que prometeu a “libertação completa” de Donetsk e Luhansk . O governador regional de Luhansk disse nesta terça que a cidade oriental de, capital da região de Donbas. Na segunda-feira, o presidente ucraniano Volodmir Zelenski já tinha alertado que as tropas russas começaram a batalha por Donbas.

Em um post no Telegram, o governador de Luhansk, Serhiy Haidai, disse que as tentativas de retirar os moradores da região continuariam. Cerca de 70 mil civis permanecem na região. Segundo ele, aqueles que permanecem em Kreminna agora são “reféns”.

Por que Donbas é importante?

Se for bem-sucedida, a ofensiva daria a Putin uma peça vital da Ucrânia e uma vitória extremamente necessária na guerra de sete semanas que ele poderia apresentar ao povo russo em meio a crescentes baixas e dificuldades econômicas causadas pelas sanções do Ocidente.

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Também cortaria efetivamente a Ucrânia em duas e a privaria dos principais ativos industriais concentrados no leste, incluindo minas de carvão, fábricas de metais e fábricas de construção de máquinas.

No que parecia ser uma intensificação dos ataques à Ucrânia, o porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, major-general Igor Konashenkov, disse que mísseis lançados do ar destruíram 13 locais de tropas e armas ucranianas, enquanto a força aérea atingiu 60 outras instalações militares ucranianas, incluindo depósitos de armazenamento de ogivas de mísseis.

Um militar ucraniano toma posição numa zona entre as áreas de Luhansk e Donetsk, em 18 de Abril de 2022, em meio ao aumento da atividade militar russa em Donbas  Foto: EFE/EPA/STR

A artilharia russa atingiu 1.260 instalações militares ucranianas e 1.214 tropas nas últimas 24 horas, disse Konashenkov nesta terça. As alegações não puderam ser verificadas de forma independente.

Ofensiva mais metódica

Segundo autoridades ucranianas e americanas, a ofensiva de agora será muito mais metódica. Em vez de ataques relâmpagos das linhas de frente russas, as forças de Moscou - dispostas em um semicírculo que se estende de oeste a leste da cidade de Izium a Sieverodonetsk - aumentaram suas barragens de artilharia e enviaram pequenos destacamentos de tropas para operações de reconhecimento das linhas ucranianas.

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Muitas das tropas ucranianas que estão em Donbas estão entrincheiradas em terraplenagens que estão lá há quase uma década.

Conhecidos como “operações de modelagem” nos círculos militares, esses ataques russos menores costumam ser precursores de movimentos de tropas maiores ou servem como distração para outras frentes. Nos últimos dias, os russos enviaram cerca de 11 grupos táticos de batalhões para o Donbas, elevando o número para cerca de 75, segundo oficiais do Pentágono. Cada grupo tem cerca de mil soldados.

Em Horlivka, uma cidade ocupada por separatistas apoiados pela Rússia, um morador disse que, após uma semana de silêncio, agora havia fogo de artilharia pesado vindo do lado russo, junto com movimentos de tropas e jatos russos sobrevoando.

Houve ataques em toda a Ucrânia nos últimos dias, sinalizando uma nova escalada: em Kharkiv, por exemplo, a artilharia russa atingiu uma área residencial frequentemente bombardeada, matando pelo menos três pessoas. O ataque letal ocorre após dois dias de disparos de foguetes e artilharia em partes da cidade que raramente eram atingidas no mês passado.

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Outras cidades como Zaporizhzhia, Lviv e Kiev, a capital, foram atingidas por mísseis de cruzeiro e fogo de artilharia enquanto as forças russas preparavam tropas terrestres para atacar Donbas.

“Em comparação com as primeiras semanas da guerra, esta próxima ofensiva é muito menos decisiva do que pode parecer”, disse Michael Kofman, diretor de estudos russos do CNA, um instituto de pesquisa em Arlington, Virgínia. “Não importa o que aconteça no Donbas, os custos provavelmente serão tão altos que os militares russos serão uma força gasta”.

Batalhas na costa ucraniana

Enquanto as forças russas estão sondando as linhas de frente ucranianas e colocando forças em posição no extremo norte de Donbas, a luta no sul – ao redor da cidade de Mariupol – se transformou em um cerco completo, com os defensores ucranianos mal resistindo. Milhares de civis foram feridos ou mortos na batalha de um mês, segundo autoridades ucranianas.

Pela segunda vez, Moscou exigiu a rendição dos ucranianos em Mariupol, enquanto líderes locais disseram que a siderúrgica onde combatentes e civis estão escondidos estava sob ataque. “Todos os que deporem suas armas têm a garantia da preservação da vida”, disse o Ministério da Defesa da Rússia, dando às forças ucranianas até o meio-dia, horário local, para se renderem. O prazo já acabou.

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Frame de um vídeo não datado, disponibilizado pela Câmara Municipal de Mariupol, mostra a fumaça a partir da fábrica de aço Azovstal, onde soldados ucranianos resistem, durante os ataques aéreos em Mariupol, no leste da Ucrânia Foto: EFE / EFE

Capturar Mariupol é uma parte fundamental da campanha russa no leste da Ucrânia. A queda da cidade permitiria à Rússia completar uma ponte terrestre entre o território russo e a Crimeia ocupada. Também permitiria que as forças russas se reconstituíssem e avançassem para o norte, para posições ucranianas ao redor da cidade de Zaporizhzhia. Isso poderia permitir que eles pressionassem ainda mais as tropas ucranianas do norte e do sul, enfatizando as linhas de abastecimento e outros recursos.

As forças ucranianas respondem na mesma moeda à escalada russa, disparando sua própria artilharia – uma mistura de obuses, morteiros e foguetes não guiados – para interromper e atrasar qualquer ataque maior.

Mas, apesar dos suprimentos e dos compromissos renovados dos Estados Unidos e de outros países da Otan, as autoridades ucranianas continuam a expressar profundas preocupações sobre seu próprio suprimento de munição e se será suficiente para manter as forças russas afastadas.

Os militares ucranianos “repeliram sete ataques inimigos, destruíram 10 tanques, 18 unidades blindadas e oito veículos, um sistema de artilharia e um morteiro inimigo”, disse o Ministério da Defesa da Ucrânia em comunicado nesta terça-feira. Essas alegações não puderam ser verificadas de forma independente.

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A cidade portuária de Kherson, no Mar Negro, ao norte da península da Crimeia, anexada à Rússia, foi a primeira grande cidade ocupada pelos russos na guerra. Nos quase dois meses desde então, as forças ucranianas lançaram vários contra-ataques e recuperaram algumas aldeias na região./AP, REUTERS, NYT e W.POST

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