MOSCOU - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs incentivos à natalidade para evitar que o país veja sua população diminuir ainda mais. A proposta tem viés eleitoral e foi anunciada há quatro meses das eleições para o Kremlin.
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Pela primeira vez em cinco anos, a Rússia perdeu mais de 100 mil pessoas em um ano. Analistas alertam que esse é apenas o princípio de uma nova realidade que pode se estender até pelo menos 2025.
"A situação demográfica na Rússia volta a ser preocupante. Devemos relançar políticas para promover a natalidade e reduzir a mortalidade", disse Putin ao anunciar o plano para reverter a tendência.
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A natalidade caiu mais de 11%, e o país vive um novo "buraco demográfico" como o que ocorreu na década de 1990, quando os nascimentos caíram vertiginosamente devido à pobreza, à alta mortalidade da população masculina e à insegurança.
Na época surgiu uma geração que, ao entrar na idade adulta, voltou preferir ter menos filhos, perpetuando assim as reduções demográficas que ocorrem em ciclos desde a Segunda Guerra Mundial.
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O nível da qualidade de vida dos russos caiu pelo quarto ano consecutivo, o que mostra que não é uma simples casualidade que a natalidade tenha começado a perder terreno no mesmo período.
"Devemos prestar especial atenção às famílias jovens. Se trata, no geral, de famílias com poucos recursos, que ou estudam ou acabam se incorporando ao mercado de trabalho. E tudo isso freia frequentemente o nascimento do primeiro filho", destacou Putin.
Ações para aumentar a nalidade
A medida mais ambiciosa das propostas do presidente russo prevê subsidiar parte dos juros das hipotecas para que as famílias tenham um segundo ou um terceiro filho a partir de janeiro de 2018.
Em um país onde os juros superam os 10% ao ano, deixar a casa dos pais é um problema para maioria das famílias jovens, sobretudo em grandes cidades, como Moscou e São Petersburgo.
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Se a iniciativa for aprovada, as famílias beneficiadas pagarão apenas 6% de juros. O restante será assumido pelo governo. Putin também anunciou outros incentivos à natalidade, mas os especialistas questionam se eles serão eficientes porque teriam pouca repercussão no bem-estar econômico das famílias russas.
Uma das medidas é uma espécie de bolsa que o governo repassará 10.500 rublos (cerca de 150 euros) por ano para as famílias que tenham seu primeiro filho a partir de janeiro do próximo ano. O presidente russo também propôs ampliar até 2022 um programa que prevê uma ajuda de 450 mil rublos (6.500 euros) pelo nascimento de cada novo filho além do primogênito das famílias.
Esse auxílio, no entanto, só pode ser usado para a compra ou reforma de imóveis e para a futura educação dos filhos. Por isso, os analistas acham que a medida é pouco efetiva. Apenas 1% dos entrevistados pelo Centro de Opinião Pública da Rússia afirmaram que tiveram filhos pelos benefícios do programa.
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A queda da população é um drama para o maior país do mundo, que teme inclusive perder parte de seus territórios no futuro por causa do despovoamento de grandes áreas, especialmente na Sibéria. Mais de 25 anos depois da queda da União Soviética, a Rússia contemporânea não conseguiu recuperar a população que tinha em 1991.
Os últimos dados indicam que 146,8 milhões de pessoas vivem no país atualmente. Na época da União Soviética eram 148 milhões. A crescente pobreza, a baixa natalidade e o envelhecimento de uma parte da população ainda é piorada pela alta mortalidade dos homens russos. Um estudo internacional publicado pela revista britânica The Lancet alertou que 25% da população masculina da Rússia morre antes de completar 55 anos, um dado que os cientistas atribuíram em grande medida ao excessivo consumo de bebidas alcóolicas. / EFE
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