Uma médica da Rússia acusada de criticar a guerra na Ucrânia na frente de pacientes foi condenada na terça-feira, 12, por espalhar informações falsas sobre os militares russos, e sentenciada a 5 anos e meio de prisão, parte de uma repressão implacável do Kremlin à dissidência.
Nadezhda Buyanova, 68, foi presa em fevereiro depois que Anastasia Akinshina, mãe de um de seus pacientes, denunciou a pediatra às autoridades. Anastasia alegou que Nadezhda disse a ela e ao filho que o pai do menino, um soldado russo que aparentemente foi morto na Ucrânia, era um alvo legítimo para as tropas de Kiev e havia culpado Moscou pela guerra. Nadezhda, que nasceu no oeste da Ucrânia, negou a acusação, insistindo que nunca disse o que foi acusada de dizer. Em uma declaração de encerramento chorosa ao tribunal na semana passada, ela pediu que fosse absolvida.
“Uma pediatra não é capaz de desejar mal a uma criança”
Um vídeo da indignada Anastasia reclamando sobre Nadezhda foi amplamente divulgado e o chefe do Comitê Investigativo da Rússia, Alexander Bastrykin, exigiu pessoalmente que um processo criminal fosse aberto contra a médica.
A defesa de Nadezhda alegou que a promotoria não apresentou evidências de que a suposta conversa ocorreu, incluindo quaisquer gravações dela, e alegou que sua acusadora inventou a história por animosidade contra os ucranianos, de acordo com o site de notícias independente Mediazona, que relatou todas as audiências do julgamento.
Em sua declaração de encerramento ao tribunal, Nadezhda disse que era “doloroso” ler as acusações e desabou. “Uma médica, especialmente uma pediatra, não é capaz de desejar mal a uma criança, sua mãe ou traumatizar a psique da criança. Somente um monstro é capaz disso — e das palavras que eu supostamente disse a eles”, disse ela, segundo o Mediazona.
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“Vergonha!”
O caso de Nadezhda Buyanova atraiu atenção nacional, com mais de 6.500 pessoas assinando uma petição online exigindo sua liberdade e apoiadores comparecendo regularmente às audiências judiciais. Enquanto o juiz lia o veredito, eles gritavam: “vergonha!” antes que os oficiais de justiça escoltassem todos para fora do tribunal.
O advogado dela, Oscar Cherdzhyev, disse aos repórteres depois que o veredito foi “inesperadamente duro” e “monstruosamente cruel”. “Não esperávamos isso”, afirmou.
“Espalhar informações falsas” sobre o exército é uma infração criminal desde março de 2022, quando a Rússia adotou uma série de leis proibindo qualquer expressão pública sobre a invasão que se desviasse da narrativa oficial. As autoridades começaram a usá-las ativamente contra críticos e manifestantes.
De acordo com o OVD-Info, um dos principais grupos de direitos da Rússia que rastreia prisões políticas, mais de 1.000 pessoas foram implicadas em processos criminais por acusações relacionadas a falar ou agir contra a guerra. / AP
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