KIEV - A Rússia vem movimentando milhares de tropas e colunas de veículos blindados e de suprimentos para um novo assalto à região de Donbas, no leste da Ucrânia. Nesta segunda-feira, forças russas voltaram a bombardear infraestrutura e equipamentos para enfraquecer as defesas ucranianas.
Autoridades ocidentais estimam que a Rússia tente “dobrar ou talvez triplicar” o número de soldados em Donbas nos próximos dias, ao deslocar forças de Kiev e de outros lugares. Ainda não se sabe quantas unidades poderiam ser remanejadas para o próximo front da guerra, mas agências de inteligência dos EUA e da Europa acreditam que a manobra levaria “algum tempo”.
Nesta segunda-feira, imagens de satélite, incluindo fotos de um comboio russo de 13 quilômetros de comprimento, confirmaram o movimento de tropas na direção de Donbas. O Pentágono e analistas militares alertaram que a nova ofensiva será muito diferente das batalhas travadas até agora nas cidades ucranianas.
A zona rural de Donbas, um terreno mais plano e mais aberto, favorece as unidades blindadas e a superioridade aérea da Rússia, que até então vinha patinando contra a guerrilha urbana montada nos grandes centros pelas forças ucranianas.
Autoridades regionais da Ucrânia alertaram aos civis que ainda vivem em Donbas que o tempo para escapar estava acabando. Cerca de 13,4 mil civis foram retirados do leste da Ucrânia desde sexta-feira, mas as rotas de fuga continuam arriscadas, com relatos de civis sendo mortos nas tentativas de deixar a região.
‘Estrada da Morte’
Autoridades da cidade de Kramatorsk, perto de Kharkiv, no leste da Ucrânia, atualizaram para 57 o número de mortos em um ataque russo contra a estação de trem lotada – 109 pessoas ficaram feridas. A magnitude da destruição e das atrocidades vai aumentando à medida que os ucranianos retomam os territórios abandonados pelos russos no norte do país.
Taras Didich, prefeito de Dmitrivka, compartilhou imagens de cadáveres carbonizados e corpos mutilados empilhados uns sobre os outros. Os cerca de 50 cadáveres foram descobertos ao longo da rodovia que liga o sul de Kiev à cidade de Zhitomir – Didich chamou de “Estrada da Morte”.
Para ajudar os ucranianos a catalogar os crimes de guerra, uma equipe de especialistas franceses chegou nesta segunda-feira à Ucrânia. Segundo o governo da França, o time composto por dois legistas e mais de dez investigadores forenses ajudará na identificação de corpos e na coleta de evidências.
Apoio da Índia
Nos EUA, o presidente Joe Biden aumentou a pressão para desmontar um importante apoio da Rússia: o da Índia. Biden conversou por videoconferência com o premiê indiano, Narendra Modi. Na conversa, Biden citou a parceria de defesa entre os dois países para convencê-lo a abandonar a neutralidade no conflito.
“A raiz da nossa aliança é a profunda ligação entre nossos povos, laços de família, de amizade e valores compartilhados”, disse o americano. Modi descreveu a situação na Ucrânia como “preocupante” e lembrou que um estudante indiano morreu no conflito.
Ele disse ainda ter falado com Vladimir Putin e com Volodmir Zelenski, fazendo a ambos um apelo à paz. A Índia continua comprando petróleo da Rússia e, recentemente, adquiriu sistemas russos de defesa aérea, apesar da pressão dos EUA./NYT e AP
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