Rússia reconhece avanços da Ucrânia em seu território enquanto Kiev busca ‘desestabilizar’ Moscou

Exército russo admitiu que forças ucranianas chegaram em cidades localizadas a 30 quilômetros da fronteira; agrupamento foi deslocado para conter ofensiva

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Por Ania Tsoukanova (AFP) e Jonathan Brown (AFP)
Atualização:

SUMY, Ucrânia - A Rússia admitiu, neste domingo, 11, que tropas da Ucrânia penetraram a região de Kursk, na incursão que, segundo um alto funcionário de segurança de Kiev, tem como objetivo “desestabilizar” Moscou e dispersar suas tropas.

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Na terça-feira, Kiev lançou uma operação surpreendente em larga escala na região fronteiriça de Kursk, do lado russo, depois de meses de recuo a Ucrânia e depois de meses de recuo perante as forças da Rússia no front leste.

De fato, o exército russo reconheceu, neste domingo, que a Ucrânia entrou profundamente em seu território, ao afirmar, em um comunicado, que tinha impedido tentativas de avanço em Tolpino, Juravli e Obshchi Kolodez, três cidades localizadas a cerca de 30 km da fronteira com a antiga república soviética.

Os avanços foram contidos por bombardeios aéreos, drones e artilharia, assim como pelo envio de contingentes do agrupamento norte, deslocado na região ucraniana de Kharkiv, segundo a mesma fonte.

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Coluna de veículos russos dafinificada por artitlharia da Ucrânia na região de Kursk.  Foto: Anatoliy Zhdanov/Associated Press

“Estamos na ofensiva”, disse, por sua vez, o alto funcionário de segurança ucraniano na noite de sábado, sob a condição do anonimato. “O objetivo é deslocar as posições do inimigo, infligir o máximo de perdas, desestabilizar a situação na Rússia – porque eles são incapazes de proteger suas próprias fronteiras – e transferir a guerra para o território russo”, disse.

O funcionário assegurou que milhares de soldados ucranianos participavam da operação.

Jornalistas da AFP viram, neste domingo, dezenas de veículos blindados ucranianos em rodovias da região de Sumy, fronteiriça com a de Kursk, com triângulos brancos pintados, supostamente para identificar as tropas ucranianas que participam da incursão.

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e desde então mantém uma ofensiva implacável, ocupando faixas do leste e do sul do país, e submetendo as cidades ucranianas a ataques diários de artilharia, mísseis e drones.

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‘Deslocar a guerra’

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, admitiu pela primeira vez no sábado o envolvimento do seu país na incursão na Rússia, afirmando que a operação visa “deslocar a guerra para o território do agressor”.

Segundo Moscou, que prometeu uma resposta severa, os ucranianos atiraram, na noite de sábado, um míssil contra um prédio na cidade de Kursk, ferindo 15 pessoas.

A Rússia já anunciou a retirada de mais de 76.000 pessoas da região. O operador ferroviário russo fretou trens de emergência de Kursk para Moscou, a 450 km de distância, para quem quiser deixar o local.

“Dá medo ter helicópteros sobrevoando a sua cabeça todo o tempo. Quando foi possível ir embora, parti”, declarou Marina, que chegou à capital russa de trem neste domingo. Ela preferiu não falar o sobrenome.

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A Ucrânia, por sua vez, pediu a pelo menos 20 mil civis que deixassem a região de Sumy.

Em um centro de retirada na capital regional homônima, Mykola, um aposentado de 70 anos que deixou sua aldeia - Khotyn, a cerca de 26 km da fronteira com a Rússia - afirmou, neste domingo, que a ofensiva em território russo lhe deu uma dose de ânimo. “Deixemos que descubram o que é. Não entendem o que é a guerra. Deixemos que provem dela”, declarou.

Segundo analistas, Kiev provavelmente lançou o ataque para aliviar a pressão sobre suas tropas em outras partes do front, onde enfrenta a escassez de soldados e armas.

Mas por enquanto, a incursão não fragilizou de forma significativa a ofensiva russa no leste ucraniano, onde Moscou ganha terreno há meses, informou o alto funcionário de segurança da Ucrânia.

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“A pressão no leste continua, não retiraram suas tropas desta área”, afirmou, embora “a intensidade dos ataques russos no leste tenha baixado um pouco”.

Kiev diz ter avisado aliados

A Rússia impôs estado de emergência na região de Kursk e anunciou o início de uma “operação antiterrorista” em outras regiões fronteiriças.

O funcionário de segurança ucraniano admite que a Rússia deterá cedo ou tarde as tropas ucranianas na região de Kursk, mas se “depois de certo tempo não conseguir retomar estes territórios, estes poderiam ser usados com fins políticos”, por exemplo, em negociações de paz.

Prédio é atingido por disparos de artilharia em Kursk.  Foto: Associated Press

Também afirmou que a Rússia, em resposta à incursão, prepara um ataque maciço com mísseis contra centros de comando na Ucrânia e assegurou que Kiev tinha avisado seus aliados ocidentais sobre a operação.

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“Dado que foram usadas ativamente armas ocidentais”, disse sobre a ofensiva, “nossos parceiros ocidentais participaram indiretamente em seu planejamento.”

O funcionário ucraniano também assegurou que Kiev respeita estritamente o direito humanitário em sua ofensiva e que não tem a intenção de anexar as áreas que ocupa atualmente.

“É muito importante que a Ucrânia não viole nenhuma convenção, respeitamos estritamente o direito humanitário: não executamos prisioneiros, não estupramos mulheres, não saqueamos”, detalhou.

Incêndio em usina nuclear

Neste domingo, Zelenski também afirmou que os russos causaram um incêndio na usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa. Em comunicado na rede social X, antigo Twitter, Zelenski criticou os russos, disse que até o momento os níveis de radiação estão normais e pediu tranquilidade aos moradores da região.

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“No entanto, enquanto os terroristas russos mantiverem o controle sobre a usina nuclear, a situação não é e não pode ser normal”, afirmou o presidente ucraniano. “A Rússia tem usado a usina nuclear de Zaporizhzhia apenas para chantagear a Ucrânia, toda a Europa e o mundo”, completou. Autoridades russas culparam ataques de drones e o bombardeio da cidade vizinha de Enerhodar por parte dos ucranianos pelo ocorrido.

Em comunicados separados, os governos de Rússia e Ucrânia afirmaram que uma das torres de resfriamento foi danificada. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), declarou ter identificado uma fumaça escura vinda da área norte da usina, mas que nenhum impacto foi relatado para a segurança nuclear.

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