TBILISI, GEÓRGIA – O Kremlin reconheceu nesta sexta-feira, 2, que Vadim Krasikov, assassino condenado na Alemanha que esteve no centro da maior troca de prisioneiros em décadas, é membro da agência de espionagem FSB, a sucessora da KGB soviética. O russo serviu em uma unidade especial com agentes que hoje protegem o presidente Vladimir Putin.
Os laços ajudam a explicar a determinação de Putin em libertar o Krasikov da prisão alemã onde cumpria pena por assassinato. O esforço resultou no retorno de Krasikov e de outros sete criminosos a Moscou, depois da troca de prisioneiros da Rússia com sete países do Ocidente. Ao todo, 24 pessoas estiveram envolvidas na negociação.
Esta foi a primeira vez que Moscou admitiu que Krasikov trabalhava para o Estado russo no Serviço Federal de Segurança, ou FSB, uma agência que é sucessora da KGB soviética, na qual Putin serviu no estágio inicial de sua carreira. O FSB também foi a agência que esteve no centro das negociações com a CIA sobre a troca, afirmou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.
Putin não escondeu a admiração por Krasikov, que estava preso na Alemanha desde 2019 pelo assassinato de um ex-combatente separatista checheno em Berlim. Em uma entrevista em fevereiro, o presidente russo se referiu a Krasikov como “patriota” que cumpriu o seu dever ao eliminar um inimigo do Estado russo.
Quando os prisioneiros libertados chegaram ao Aeroporto Internacional de Vnukovo, em Moscou, na noite de quinta-feira, Putin abraçou Krasikov, o primeiro dos libertados a desembarcar do avião.
Peskov disse que era “muito importante” para Putin cumprimentar pessoalmente os prisioneiros russos libertados. “Esta é uma homenagem às pessoas que servem seu país”, disse Peskov a repórteres durante uma coletiva por telefone. “Depois de provações difíceis, eles tiveram a oportunidade - graças ao trabalho árduo de muitas pessoas - de retornar à sua terra natal.”
Leia também
Peskov também revelou que os dois filhos de Artyom e Anna Dultsev, que serviram como espiões disfarçados no “programa de ilegais” russo e foram presos na Eslovênia, só souberam quando estavam no avião para Moscou que eram russos e “tinham algo a ver” com a Rússia.
As crianças aparentemente acreditavam que eram argentinas, já que seus pais estavam na Eslovênia com a identidade falsa de um casal da Argentina.
Krasikov e os outros retornados receberam as boas-vindas de Putin, que foi até ao aeroporto para cumprimentá-los, algo raro nos últimos anos.
O avião do governo russo parou em frente ao terminal VIP, reservado para dignitários estrangeiros. Segurando fuzis, oficiais da guarda de honra flanquearam o caminho pintado de vermelho que leva ao prédio do terminal.
Putin ficou ao lado da rampa do avião, com os degraus cobertos por um tapete vermelho, enquanto seus assessores seguravam flores para ele dar a Dultseva e sua filha.
Nos últimos anos, Putin não viajou ao aeroporto nem mesmo para cumprimentar líderes estrangeiros, incluindo o presidente Xi Jinping, da China, no ano passado. A presença dele ressaltou como ele vê a troca como um triunfo pessoal e uma demonstração de apoio aos leais, que cumpriram com as obrigações designadas.
Dentro do terminal, Putin agradeceu aos prisioneiros “que estão diretamente relacionados ao serviço militar” por sua lealdade ao seu “juramento, dever e pátria”. Ele prometeu condecorá-los com prêmios estatais e discutir seu futuro na Rússia.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.