Rússia reforça segurança e retira 76 mil pessoas de Kursk após incursão da Ucrânia na fronteira

Ofensiva surpresa expôs vulnerabilidades militares russas e causou constrangimento público para o presidente Vladimir Putin

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Por Redação

MOSCOU - A Rússia anunciou neste sábado, 10, medidas para reforçar a segurança de Kursk, depois que a incursão da Ucrânia na região fronteiriça surpreendeu as tropas e expôs as vulnerabilidades militares de Moscou na guerra.

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Mais de 76 mil pessoas foram retiradas de Kursk e levadas para locais seguros desde que as forças ucranianas avançaram sobre a região em ofensiva surpresa no começo da semana, informou a agência estatal de notícias Tass.

Em discurso esta noite, o presidente ucraniano Volodmir Zelenski pareceu se referir indiretamente à operação. Foi o mais perto que uma autoridade ucraniana chegou de reconhecê-la.

Zelenski elogiou as brigadas de combate ucranianas em toda a linha de frente, incluindo a região de Sumy, que faz fronteira com Kursk. Ele disse ainda que o comandante das Forças Armadas, o general Oleksandr Sirski, enviou relatórios do front sobre as ações para “levar a guerra ao território do agressor.”

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Foto divulgada pelo governo de Kursk mostra moradores deixando a região na sexta-feira, 9 de agosto.  Foto: Governo de Kursk / Via AP

Com a continuidade dos combates na região de Kursk, a Rússia enviou reforços com o deslocamento de lançadores múltiplos de foguetes, canhões de artilharias e tanques, afirma o Ministério da Defesa. Foram implementadas ainda medidas de segurança para regiões fronteiriças, que liberam o governo para realocar residentes e controlar comunicações telefônicas, por exemplo.

O ataque é a maior incursão transfronteiriça da guerra e levanta preocupações sobre a expansão dos combates. A Rússia interrompeu os avanços rápidos que a Ucrânia conseguiu com o ataque surpresa em Kursk na terça-feira, mas as forças ucranianas parecem estar se mantendo.

No sábado, disseram ter capturado um pequeno vilarejo na região vizinha de Belgorod. Analistas apontam que as forças ucranianas controlam também a maior parte de Sudzha, em Kursk. A cidade palco de combates fica a cerca de 10 quilômetros da fronteira e possui um importante hub para o transporte de gás natural russo.

Para Pasi Paroinen, analista do Black Bird Group, organização sediada na Finlândia que analisa imagens de satélite e conteúdo de mídia social do campo de batalha, as evidências sugerem que Moscou conseguiu impedir os principais avanços no território russo no final da semana.

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“Estamos agora entrando na fase em que os ganhos fáceis foram obtidos”, disse ele sobre o avanço inicial da Ucrânia. “Essa fase, nos três primeiros dias, registrou o movimento mais rápido”, acrescentou. “E ontem, creio eu, começamos a ver os efeitos da resposta russa.”

Os objetivos estratégicos da incursão são incertos e ainda não está claro o que tudo isso significa para Ucrânia. A decisão de cruzar a fronteira para Rússia aparentemente surpreendeu não apenas o Kremlin, mas também os Estados Unidos e analistas que acompanham os movimentos das tropas na guerra.

Alguns especularam que Kiev espera afastar as forças russas das linhas de frente na Ucrânia para dar o descanso necessário às suas tropas exaustas. Mas analistas afirmam que isso ainda não aconteceu.

Do lado russo, a ofensiva alarmou a população, que viu a guerra se aproximar e as consequências da incursão são o constrangimento público para o presidente Vladimir Putin. Autoridades russas e a mídia estatal tem dito repetidamente nos últimos dias que a situação está sob controle, no entanto, continuam perdendo mais terreno.

“Não há um sistema militar em vigor para proteger a fronteira, não há reservas e nem segundas linhas de defesa,” criticou o militar aposentado e membro do Parlamento Andrei Guruliov. “Se as Forças Armadas da Ucrânia passaram dois meses se preparando para isso, como deixamos isso passar despercebido?”, questionou./COM AP, AFP e NY Times

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