Rússia toma Bakhmut e Ucrânia planeja cercar a cidade em tentativa de retomada

Bakhmut tem valor simbólico para Kiev e Moscou e disputa deve se arrastar por tempo indeterminado

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Por Redação
Atualização:

As forças da Ucrania foram reduzidas a pequenos pontos de apoio na devastada cidade de Bakhmut, que, apesar de sua importância estratégica limitada, emergiu como um dos campos de batalha mais importantes da guerra.

“Estou nas trincheiras. Nós nos fortalecemos nas posições que a Rússia já ocupou”, afirmou Yuriy, um soldado da 5ª Brigada de Assalto do exército ucraniano, que escreveu em uma mensagem de texto de uma posição ao sul de Bakhmut. Ele falou sob condição de anonimato por questões de segurança.

“Ao nosso redor há muitos russos mortos”, disse ele.

Soldados ucranianos viajam em um veículo de combate de infantaria BMP em direção a Bakhmut, em 20 de maio de 2023, em meio à invasão russa da Ucrânia Foto: Sergey Shestak/AFP

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A Ucrânia ainda detém partes da cidade, incluindo a área ao redor do que se tornou um marco do último reduto do país: uma escultura destruída de um caça soviético MiG, de acordo com vários militares envolvidos na defesa da posição, que as forças russas continuam contestando.

O comandante militar da região leste da Ucrânia, Oleksandr Syrsky, fez uma visita surpresa para os militares ucranianos na cidade e reconheceu que Kiev domina apenas uma “pequena parte” de Bakhmut. Contudo, Syrsky avaliou que o novo objetivo da Ucrânia é cercar a cidade.

O militar admitiu também que apenas um pequeno contingente de soldados ucranianos está agora dentro de Bakhmut, um reconhecimento de que a Rússia prevaleceu em sua campanha de quase um ano para tomar a cidade. Syrsky disse que essas poucas tropas continuariam defendendo seu território para fornecer “oportunidades de entrar na cidade em caso de mudança de circunstâncias”.

Um militar ucraniano ferido recebe tratamento em um ponto de estabilização perto de Bakhmut, em 20 de maio de 2023, em meio à invasão russa da Ucrânia Foto: Sergey Chestak / AFP

Zelenski

A notícia dessa estratégia para prolongar a luta pelo domínio da cidade, independentemente de quem tecnicamente tivesse o controle de Bakhmut, surgiu quando o presidente ucraniano Volodimir Zelenski foi pessimista ao falar sobre o estado da cidade, durante uma visita a Hiroshima, Japão, para a reunião da cúpula do G-7.

Seus comentários levantaram questões sobre como seria uma vitória ucraniana, dada a destruição da cidade e os custos que seus defensores já pagaram.

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“Você tem que entender, não há nada lá”, afirmou Zelesnki no domingo – nada de Bakhmut.

A cidade, no nordeste da região de Donetsk, abrigava cerca de 70 mil pessoas antes de a Rússia invadir a Ucrânia no ano passado. Desde então, Bakhmut foi palco de fortes conflitos, à medida que as tropas russas e as forças mercenárias do Grupo Wagner, compostas em grande parte por prisioneiros russos libertados, ganhavam terreno bloco a bloco.

Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, afirmou que seu grupo garantiu o domínio russo da cidade de Bakhmut  Foto: Assessoria de imprensa de Yevgeny Prigozhin / AP

Uma rara vitória de Putin

A captura da cidade seria uma vitória rara para Moscou, que tem lutado para obter vitórias desde os primeiros dias da guerra.

No sábado, 20, o chefe do Grupo Wagner, Yevgeniy Prigozhin, afirmou que suas forças finalmente capturaram a cidade inteira e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, elogiou a vitória militar de Bakhmut, referindo-se a cidade pelo seu nome antigo dos tempos de União Soviética: Artyomovsk. A Ucrânia rejeitou as reivindicações.

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Mas o lado russo está dividido por diferenças internas sobre Bakhmut, com Prighozin criticando publicamente diversos militares russos.

De acordo com analistas, Moscou precisava de uma vitória neste momento, especialmente depois que sua ofensiva de inverno falhou na tentativa de tomar diversas cidades que seguem sob controle ucraniano.

Mas a vitória em Bakhmut não aproxima necessariamente a Rússia de capturar a região de Donetsk – o objetivo declarado de Putin no início da invasão. Em vez disso, abre caminho para batalhas mais duras em direção a Sloviansk ou Kostiantynivka, a 20 quilômetros de distância, afirma Kateryna Stepanenko, analista da Rússia no Instituto para o Estudo da Guerra, uma think tank com sede nos EUA.

Soldado relata situação das forças ucranianas em Bakhmut

O soldado do 24º Batalhão, Stanislav Bunyatov, de 22 anos, afirmou que sua unidade foi capaz de atacar posições russas no momento em que combatentes do Grupo Wagner estavam sendo substituídos por soldados russos.

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“Eles não estavam preparados para nós”, disse Bunyatov, que está na cidade de Dnipro se recuperando de um ferimento causado por estilhaços de granada.

Soldado ucraniano Stanislav Bunyatov, 22, depois de receber tratamento para sua mão direita ferida fora de um centro médico em Dnipro, Ucrânia, no domingo, 21 Foto: Heidi Levine/The Washington Post

Os relatos do sucesso ucraniano fora de Bakhmut contrastam com as histórias de contratempos dentro da cidade. Nas estradas para Chasiv Yar, uma cidade a oeste de Bakhmut que serve como base para as forças ucranianas, alguns soldados apresentaram visões pessimistas da batalha pela cidade.

“Bakhmut está acabada”, disse no domingo um soldado de 47 anos da 24ª Brigada, que falou sob condição de anonimato para compartilhar sua avaliação sincera. Ele disse que esteve na cidade no dia anterior.

Qual é a importância de Bakhmut

A cidade de Bakhmut tem pouca importância do ponto de vista estratégico, como até admitiu Zelenski em uma entrevista ao jornal frances Le Figaro em fevereiro: “Do ponto de vista estratégico, a cidade não tem muita importancia, porque os russos destruíram a cidade por completo com sua artilharia”, apontou o político.

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Moscou também não esperava lutar de forma ferrenha para dominar Bakhmut, mas encontrou forte resistência ucraniana na cidade.

O local passou a ter valor simbólico e Zelenski já se referiu a cidade de “fortaleza de Bakhmut” em dezembro.

Para os russos, o domínio da cidade passou a ter maior relevância porque seria a primeira vitória significativa de Moscou na guerra desde o final do ano passado.

Soldados ucranianos disparam um morteiro de 120 mm contra posições russas na linha de frente perto de Bakhmut, região de Donetsk, Ucrânia Foto: Evgeniy Maloletka / AP

Baixas russas

Para a Ucrânia, o fator importante tem sido o alto número de baixas russas no confronto em Bakhmut e o esgotamento do moral de seu adversário para o pequeno trecho da linha de frente de 1.500 quilômetros, enquanto a Ucrânia se prepara para uma grande contraofensiva.

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Nos últimos meses, fortes combates foram travados no centro urbano de Bakhmut. Mas mesmo agora, as forças ucranianas estão fazendo avanços significativos perto de estradas estratégicas, com o objetivo de cercar os combatentes do Grupo Wagner dentro da cidade.

Líderes militares ucranianos afirmam que sua resistência valeu a pena porque limitou as capacidades da Rússia em outros lugares e permitiu avanços ucranianos.

“A ideia principal é exauri-los e depois atacar”, afirmou o coronel ucraniano Yevhen Mezhevikin, comandante de um grupo especializado em combate em Bakhmut, na quinta-feira passada, 18.

Os ganhos táticos da Ucrânia na área rural fora de Bakhmut podem ser mais significativos do que parecem, dizem alguns analistas.

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“Foi quase como se os ucranianos tivessem aproveitado o fato de que, na verdade, as linhas russas eram fracas”, afirmou Phillips O’Brien, professor de estudos estratégicos da Universidade de St. Andrews. “O exército russo sofreu perdas tão altas e está tão desgastado perto de Bakhmut que não pode mais avançar.”

As forças ucranianas conseguiram resistir nos arredores da cidade, fazendo com que o exército de Kiev que estava posicionado no sul da cidade pudesse avançar, principalmente após informações de drones que mostraram que os russos estavam na defensiva.

Histórico

Cerca de 55 quilômetros ao norte da capital regional de Donetsk, controlada pela Rússia, Bakhmut era um importante centro industrial, cercado por minas de sal.

A cidade, batizada de Artyomovsk em homenagem a um revolucionário bolchevique quando a Ucrânia fazia parte da União Soviética, era conhecida por seu vinho espumante produzido em cavernas subterrâneas. Era popular entre os turistas por suas avenidas largas e arborizadas, parques exuberantes e centro imponente com mansões do final do século XIX.

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Neste momento, tudo isso se tornou um deserto./W. Post. AP e NY Times

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