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Russos fogem após convocação de civis para guerra na Ucrânia; Finlândia quer endurecer fronteira

Fluxo de russos tentando deixar o país aumenta na Finlândia e na Turquia, bem como nos principais aeroportos da Rússia; Kremlin nega êxodo

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Por Redação
Atualização:

MOSCOU - Um dia após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciar a convocação de 300 mil reservistas em meio a guerra na Ucrânia, os russos já começaram a receber suas cartas de recrutamento e muitos estão tentando fugir para os países vizinhos a fim de evitar a linha de frente. Países vizinhos, como a Finlândia, relataram ao longo desta quinta-feira, 22, um aumento no fluxo de migrantes russos na fronteira e já cogitam barrar sua entrada alegando questões de segurança.

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Na fronteira sul da Finlândia com a Rússia, na cidade de Vaalima, próxima de São Petersburgo, 4,8 mil russos atravessaram a fronteira - um aumento de cerca de 50% comparado à semana passada, quando 3,2 mil russos cruzaram o posto de controle. O congestionamento hoje tinha uma extensão de 300 metros - um fluxo ainda pequeno, mas preocupante, segundo autoridades finlandesas.

A Finlândia é o único da União Europeia que ainda recebe cidadãos russos com vistos de turistas, depois de sanções impostas pelo bloco barrarem voos e a entrada de visitantes da Rússia, como represália pela invasão da Ucrânia. A primeira-ministra Sanna Marin defendeu conter a entrada de turistas russos no país.

“A vontade do governo é muito clara, acreditamos que o turismo russo deve ser interrompido, assim como o trânsito pela Finlândia”, disse a premiê. “Acredito que a situação precisa ser reavaliada após as notícias de ontem”.

Em outras cidades, russos procuram voos para deixar o país rumo a antigas repúblicas soviéticas, como a Armênia, a Geórgia e o Azerbaijão, akém da Turquia. Todos esses países ainda recebem voos e cidadãos russos.

Carros chegando da Rússia esperando em uma longa fila na fronteira com a Finlândia Foto: Olivier Morin/AFP

Para o Usbequistão, de mala e cuia

O russo Aleksandr, 37, não esperou Putin terminar seu discurso televisivo para começar a preparar as malas e partir rumo ao aeroporto em Moscou. Sem revelar seu sobrenome por medo de represálias, o russo relatou ao New York Times que preferia ir para a Turquia, mas já não havia passagens disponíveis. Ele então decidiu ir para Namangan, no Usbequistão, cidade da qual nunca tinha ouvido falar.

Ele passou a tarde no aeroporto perto de Moscou, esperando passar pelo controle de passaportes o mais rápido possível, temendo que a fronteira pudesse fechar para reservistas a qualquer momento. “Percebi que as chances eram muito altas”, disse já em Namangan. “Eu já estava pronto para tudo, que eles simplesmente me mandassem embora na fronteira”. O avião, disse ele, estava cheio de pessoas como ele.

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Desde o anúncio de Putin na última quarta-feira, russos que até então pensaram estar a salvo de serem enviados para a linha de frente perceberam que poderiam ser convocados a qualquer momento. Alguns, inclusive, já estavam recebendo as cartas de convocação e sendo colocados em ônibus com destino a locais de treinamento, segundo relatos em mídias sociais e na imprensa local.

Muito russos tentam deixar o país às pressas, pagando preços cada vez mais altos. Segundo a agência de notícias Reuters, uma passagem da Rússia para países próximos chega a custar US$ 5.000 (R$ 25,8 mil).

Os russos chegam a Istambul com enormes malas de rodinhas, cheias de roupas e outros pertences pessoais que esperavam tornar mais fácil estabelecer uma nova vida em outro lugar. Outros saíram às pressas com pequenas sacolas contendo algumas mudas de roupa.

Na área de desembarque do aeroporto de Yerevan na Armênia, Sergei chega abatido e exausto depois de fugir às pressas da Rússia com seu filho por medo de ser enviado para o front na Ucrânia. “A situação na Rússia me fez decidir sair. Sim, saímos da Rússia por causa da mobilização”, declarou Sergei, 44, à AFP. Seu filho de 17 anos, Nikolai, concorda: “Decidimos não esperar ser convocados para o Exército”.

Russos chegam ao aeroporto de Yerevan, capital da Armênia em 21 de setembro Foto: Karen Minasyan/AFP

Preocupação para Europa

Quem não pode pagar as escassas e caras passagens de avião, tem optado por cruzar a pé temendo um fechamento das fronteiras terrestres.Os agentes de fronteira finlandeses, no entanto, ressaltam que apesar de o movimento ter aumentado nos últimos dias, ainda não chegou a níveis alarmantes.

“O tráfego fronteiriço na fronteira terrestre russa finlandesa permanece em nível mais alto do que o habitual”, disse Matti Pitkaniitty, responsável pelo controle de fronteira de Vaalima no Twitter. “Mas a intensidade é semelhante à que normalmente vemos nos finais de semana.”

Os três estados bálticos vizinhos dizem que não estão preparados para oferecer asilo automaticamente aos russos que fogem da mobilização. Diferentemente da Finlândia, havia poucos sinais de pressão nas fronteiras da Estônia, Letônia e Lituânia já que esses países fecharam suas entradas para a maioria dos russos no início da semana.

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O ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkevics, disse nesta quinta que seu país não emitiria vistos humanitários ou outros para russos que buscam evitar a mobilização, citando razões de segurança. Não devemos ceder à chantagem de Putin e devemos apoiar a Ucrânia o máximo que pudermos. A Rússia hoje é tão perigosa para a Europa e para a paz mundial quanto a Alemanha nazista foi no século passado”, disse Rinkevics, segundo o Baltic News Service.

A União Europeia disse por meio de um porta-voz que o bloco se solidariza com os milhares de homens que não querem lutar. Na prática, no entanto, oferecer-lhes asilo ou mesmo um processo de visto mais rápido para ajudá-los a sair rapidamente da Rússia seria um desafio.

Diplomatas da UE disseram que, embora houvesse vozes fortes dentro do bloco defendendo uma abordagem generosa aos russos que tentam evitar o serviço militar, havia uma enorme preocupação sobre como verificar a identidade e os antecedentes das pessoas para garantir que aqueles que buscam proteção da UE são requerentes reais de asilo e não agentes do Kremlin.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse nesta quinta que os relatos de um êxodo de russos são “muito exagerados”. Segundo o governo russo, cerca de 10.000 homens se alistaram no exército da Rússia desde o anúncio de Putin.

Civis convocados

Nesta quinta a escalada do esforço de guerra de Putin já estava reverberando em todo o país, de acordo com testemunhas, vídeos e postagens nas redes sociais de moradores e parentes de recrutas que foram convocados para lutar.

Na Sibéria, a mídia russa noticiou que ônibus escolares estavam sendo requisitados para transportar tropas para campos de treinamento, e as escolas estavam se tornando centros de recrutamento. Vídeos circularam nas redes sociais com a intenção de mostrar novos recrutas se despedindo chorosos antes de embarcar nos ônibus.

As convocações começaram horas depois do anúncio em vídeo gravado por Putin, no qual ele aumentou as apostas na guerra e intensificou seu confronto com o Ocidente, apesar dos reveses da Rússia no campo de batalha. Ao declarar pela primeira vez que civis russos poderiam ser colocados em serviço na Ucrânia, Putin arriscou uma reação pública, mas disse que a medida era “necessária e urgente” porque o Ocidente “cruzou todas as linhas” ao fornecer armas sofisticadas à Ucrânia.

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Carros esperam em fila para cruzar a fronteira entre Rússia e Finlândia em Lappeenranta, Finlândia Foto: Lauri Heino/Lehtikuva/via Reuters

Autoridades russas disseram que a convocação seria limitada a pessoas com experiência em combate. Mas Yanina Nimayeva, jornalista da região da Buriácia, na Sibéria, escreveu que seu marido – pai de cinco filhos e funcionário do departamento de emergência da capital regional – foi convocado apesar de nunca ter servido nas forças armadas. Segundo ela, ele recebeu uma convocação para uma reunião urgente às 4 horas da manhã, na qual foi anunciado que um trem havia sido organizado para levar reservistas à cidade de Chita.

Não se sabe quantas pessoas receberam intimações. Uma mulher do Daguestão, uma das regiões mais pobres da Rússia, que já havia perdido um de seus filhos na guerra com a Ucrânia, disse a um repórter do New York Times que três ônibus transportando soldados recém-mobilizados deixaram sua cidade. Ela enviou vídeos mostrando veículos blindados dirigindo pelas estradas esburacadas, embora sua autenticidade não pudesse ser verificada imediatamente./AFP, AP, NYT e EFE

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