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Russos pedem vitória sobre a Ucrânia no funeral de Daria Dugina

Assassinato da filha do guru de Putin enfureceu russos, que pedem ação mais energética contra Ucrânia

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Por Robyn Dixon e Mary Ilyushina

Os russos deram adeus nesta terça-feira, 23, a Daria Dugina, filha do ideólogo de extrema direita Alexander Dugin, no mesmo momento em que se intensificaram chamados dentro da Rússia por uma estratégia mais dura contra a Ucrânia e o Departamento de Estado dos EUA alertou que Moscou provavelmente intensificará os ataques contra alvos civis e instituições governamentais ucranianas nos próximos dias.

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A cerimônia fúnebre deu força a chamados de russos belicosos para que o país adote uma ação mais enérgica para esmagar a resistência militar ucraniana.

Dugina morreu no sábado, em um ataque com carro-bomba no centro de Moscou. O serviço de segurança russo FSB colocou a culpa no serviço de segurança ucraniano pela morte nesta segunda-feira. As autoridades da Ucrânia negaram responsabilidade sobre o ataque, qualificando a ação como resultado de disputas domésticas.

Retrato de Daria Dugina, filha do ideólogo de Putin morta no último sábado, colocado no seu funeral em Moscou, nesta terça-feira, 23. Ao lado, um russo usa camisa com a letra 'Z', que se tornou símbolo na guerra da Ucrânia Foto: Kirill Kudryavtsev / AFP

Em uma cerimônia civil, centenas de pessoas fizeram fila para passar ao lado do caixão de Dugina, em um salão à meia-luz na sede da TV estatal Ostaninko, em Moscou – deixando rosas e cravos, fazendo o sinal da cruz e se curvando ao lado do esquife. Um foco de luz iluminava uma imagem em branco e preto do rosto dela. Grandes coroas fúnebres, de rosas vermelhas e lírios brancos, alinhavam-se no recinto, juntamente com mais fotos de Dugina.

Carros oficiais pretos apontavam luzes azuis para a sede da TV, guardada fortemente por membros da Guarda Nacional e policiais antidistúrbio. Os russos passaram por quatro detectores de metais antes de entrar no recinto do funeral.

Políticos, âncoras de TV famosos e outras personalidades públicas compareceram ao local, culpando a Ucrânia pelo ataque e pedindo esforços renovados para derrotar os ucranianos militarmente. O presidente Vladimir Putin enviou um representante para expressar suas condolências, e o ministro de Relações Exteriores Sergei Lavrov mandou uma mensagem qualificando a morte como “um crime vil e desumano”.

“Sua partida trágica é uma perda irreparável para o pensamento e o patriotismo da nossa sociedade”, afirmou Lavrov.

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Entre os que compareceram ao funeral estava o abastado empresário Ievgenii Prigozhin, que está sancionado pelos EUA e é descrito pelo Departamento de Estado como gerente e financiador do grupo mercenário Wagner, que combate ao lado do Exército russo as forças ucranianas no leste da Ucrânia.

Dugin, personalidade influente, conservador de direita e cristão-ortodoxo, conclama há anos uma guerra russa para derrotar a Ucrânia e desenvolveu o conceito de um “mundo russo”, segundo o qual Estados vizinhos como Ucrânia e Belarus não são nações soberanas; em vez disso, são parte da Rússia. Sua ideologia nacionalista foi refletida pela visão de Putin de que a Ucrânia não pode ser independente do jugo da Rússia, um pretexto crucial para sua invasão à Ucrânia em fevereiro.

Dugina, editora-chefe de um website russo de desinformação que também estava sancionada pelos EUA, também se mostrava enormemente favorável à guerra de Putin contra a Ucrânia.

Nacionalistas linha-dura e críticos domésticos da estratégia militar russa têm pedido há meses uma mobilização militar, caminho que o Kremlin tem evitado porque seria profundamente impopular, preferindo minimizar a guerra qualificando-a como uma limitada “operação militar especial” e ocultando o número de baixas militares de Moscou.

Às lágrimas durante o funeral, Dugin afirmou que sua filha morreu pela Rússia e que “este sacrifício final, o preço mais alto que pagamos, só pode ser justificado pela vitória”.

Ele afirmou que ela não gostaria que os russos a glorificassem, mas que, em vez disso, “eles lutem por nosso grande país, defendam nossa fé, a ortodoxia santa e amem nosso povo russo, porque ela morreu pelo povo”.

“Na nossa última conversa, ela disse: ‘Pai, eu me sinto como uma heroína e uma guerreira. É isso o que quero ser. Não quero nenhum outro destino. Quero estar com o meu povo, o meu país. Quero estar do lado da luz’”, disse ele.

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Imagem mostra investigadores russos no local onde o veículo em que estava Daria Dugina explodiu, em Moscou. Ucrânia foi acusada pelos russos de ser responsável pelo atentado Foto: Comissão de Investigação da Rússia/AP

O parlamentar russo Leonid Slutski, que integrou a delegação russa em negociações de paz fracassadas com a Ucrânia, afirmou que a morte de Dugina dificulta negociações de paz, qualificando o ataque como “uma tragédia monstruosa”.

“Estamos bem cientes da situação. Pessoas invisíveis que falam nossa mesma língua estão matando nossos filhos”, afirmou ele, referindo-se a alegações de que agentes ucranianos de inteligência assassinaram Dugina no centro da capital russa.

O empresário russo Konstantin Malofeiev, presidente do canal de TV de direita Tsargrad e colaborador próximo de Dugin, chamou Dugina de “guerreira”.

“Por causa de sua morte, definitivamente venceremos esta guerra”, afirmou ele. “Ela queria isso. Ela vivia por isso.”

Na segunda-feira, Putin laureou Dugina postumamente com uma medalha de Estado, da Ordem da Coragem, que foi entregue ao seu pai durante o funeral.

Autoridades ucranianas negaram qualquer envolvimento com a explosão que matou Dugina e sugeriram que a ação pode ser resultado de alguma disputa doméstica. “Certamente não tivemos nada a ver com isso”, afirmou Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, no domingo, à TV ucraniana. Autoridades ucranianas também negaram relação com o assassinato em entrevistas ao Washington Post.

Andrii Yusov, porta-voz da diretoria de inteligência militar da Ucrânia, disse ao Post anteriormente que sua agência não comentaria a morte de Dugina. Mas Yusov notou: “Posso afirmar que o processo interno de destruição do ‘Russky Mir’, ou do ‘mundo russo’, começou”. E ele previu que “o mundo russo vai se consumir e se devorar por dentro”.

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