BERLIM - O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, acusou neste sábado, 15, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, de interferir de maneira inaceitável nas eleições iminentes de seu país em favor de um partido que minimizou as atrocidades cometidas pelos nazistas há 80 anos.
Um dia depois de Vance surpreender a Conferência de Segurança de Munique, ao dizer aos líderes alemães que permitissem que o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) entrasse no governo federal, Scholz acusou o vice-presidente dos EUA de violar, na prática, um compromisso de nunca mais permitir que a Alemanha fosse governada por fascistas capazes de repetir os horrores do Holocausto.
As eleições gerais na Alemanha estão marcadas para o dia 23 e a AfD pode ter 20% dos votos.
“Um compromisso com o ‘nunca mais’ não é compatível com o apoio à AfD”, disse Scholz na manhã de sábado, em um discurso que abriu o segundo dia do evento.
Scholz afirmou que a AfD banalizou atrocidades nazistas, como o campo de concentração de Dachau, que Vance visitou na sexta-feira. O chanceler declarou que a Alemanha “não aceitaria” sugestões de estrangeiros sobre como conduzir sua democracia — nem ordens para colaborar com tal partido.

“Isso não se faz, certamente não entre amigos e aliados”, disse Scholz. “Para onde nossa democracia irá a partir daqui, cabe a nós decidir.”
Os participantes do discurso de JD Vance esperavam ouvir detalhes sobre os planos do governo Trump para as negociações de paz na Ucrânia e as políticas de defesa da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). No sábado, o próprio presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, colocou o foco na guerra em seu país, descrevendo de forma contundente a ameaça representada pelo exército russo, endurecido pelo combate, e fazendo um apelo apaixonado para que os europeus assumam sua própria segurança, inclusive por meio da formação de um “Exército da Europa” que complementaria o poder dos EUA no continente.
Seu discurso recebeu aplausos de pé, em contraste com a recepção ao discurso de Vance no dia anterior.
As sessões de sábado da conferência de segurança foram dominadas por reações, em sua maioria negativas, ao pronunciamento de Vance.
Scholz foi acompanhado nas críticas por Friedrich Merz, seu rival e candidato a chanceler pela União Democrata Cristã (CDU), que, segundo as pesquisas, é o favorito para ser o próximo líder da Alemanha.
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JD Vance dedicou grande parte de seu discurso na sexta-feira a repreender os europeus, a quem acusou de desrespeitar a liberdade de expressão por aprovar leis duras contra notícias falsas e discursos de ódio, como o racismo e o neonazismo.
No sábado, Friedrich Merz, da União Democrata Cristã, favorito na eleição defendeu as leis alemãs que proíbem certas formas de expressão, incluindo discurso de ódio e slogans nazistas banidos, inclusive nas redes sociais.
Merz também sugeriu que o governo de Trump estava suprimindo a liberdade de expressão nos Estados Unidos, após a decisão da administração, na sexta-feira, de expulsar a Associated Press dos grupos de cobertura jornalística e do avião de Trump. A medida foi tomada porque a agência de notícias se recusou a atender à exigência de Trump de renomear o Golfo do México como “Golfo da América”.
“Nós seguimos as regras estabelecidas por nossas instituições democráticas”, disse Merz. “A liberdade de expressão continua sendo liberdade de expressão e parte de nossa sociedade aberta e democrática. E as fake news, o discurso de ódio e as ofensas continuam sujeitos a restrições legais e controlados por tribunais independentes.”
“Acho que devo dizer”, acrescentou, “que, diante dos eventos que ocorreram ontem em Washington, nós nunca expulsaríamos uma agência de notícias da sala de imprensa do nosso chanceler.”
Chuva de críticas
Os comentários foram os mais recentes em uma série de críticas ao discurso de JD Vance por parte de políticos alemães, a poucos dias das eleições do próximo domingo. O Partido Social-Democrata (SPD) de Olaf Scholz está em terceiro ou quarto lugar na maioria das pesquisas. A AfD ocupa a segunda posição, e sua candidata a chanceler, Alice Weidel, se encontrou com Vance na sexta-feira, em Munique.
Nenhum partido no Parlamento alemão aceitará se unir à AfD para formar um governo. Partes da AfD foram classificadas como extremistas pela inteligência alemã. Alguns de seus membros foram condenados por violar a lei alemã que proíbe o uso de slogans nazistas. Outros foram presos por tentativas de derrubar o governo federal.
Esse isolamento coletivo da AfD e de outros partidos extremistas é conhecido como “firewall”. Na sexta-feira, JD Vance criticou essa estratégia, argumentando que a AfD e outros partidos de extrema direita na Europa representavam preocupações legítimas dos eleitores em relação aos altos níveis de migração de países do Oriente Médio e outras regiões para a Europa.
O vice-presidente também declarou que as restrições à liberdade de expressão representavam uma ameaça maior para a Europa do que a agressão militar da Rússia ou da China.
Olaf Scholz repreendeu Vance por essa ênfase durante uma sessão de perguntas e respostas após seu discurso. “Devemos deixar muito claro que liberdade de expressão na Europa significa que você não pode atacar outras pessoas de maneira que viole a legislação e as leis do nosso país”, afirmou Scholz. “E é assim que funciona. Não há diferença entre o mundo digital e o mundo analógico, para dizer de forma simples. Precisamos ser muito claros de que o ódio e tudo isso, que tanto prejudica nossas sociedades, não deve fazer parte do debate público.”
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