Se Trump for condenado, como a equipe de Biden seguirá no ataque?

Campanha do presidente se divide entre manter direitos ao aborto e democracia no centro do debate eleitoral e focar em condenação de Trump, caso esta seja confirmada

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Por Reid J. Epstein (The New York Times) e Nicholas Nehamas (The New York Times)
Atualização:

Normalmente, ver seu candidato oponente à presidência condenado por um crime seria motivo de celebração.

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Mas estamos em 2024. Conforme aguardam um possível veredicto na acusação criminal de Donald Trump em Nova York, a campanha do presidente Joe Biden e seus aliados mais próximos chegaram a uma decisão coletiva de que nem mesmo uma condenação deve alterar seu plano de definir o debate eleitoral em torno dos assuntos que os guiam: direitos ao aborto e democracia.

Ao mesmo tempo, muitos democratas estão perplexos com a ideia de Trump se tornar um criminoso condenado e a campanha de Biden não fazer todo o possível para recordar os eleitores desse fato.

Essa tensão definirá a reação democrata se o júri de Manhattan que processa Trump realmente considerá-lo culpado nos próximos dias, um desfecho que poderá cair como um raio nos meios de imprensa e na classe política do país. Nenhum político americano da estatura de Trump já concorreu à presidência após ser condenado por um crime, e não há precedentes a respeito de como responder ou sobre como isso poderá afetar a eleição de 2024. Se Trump for absolvido ou se os jurados ficarem divididos, é evidente que todo o Partido Democrata tentará avançar o mais rapidamente possível, mesmo que ele se gabe de que a justiça foi feita.

Imagem de abril mostra ex-presidente Donald Trump durante julgamento, em Manhattan. Condenação do magnata tornaria estratégias para eleição presidencial incertas Foto: Angela Weiss/AP

Na terça-feira, a campanha de Biden deu as caras organizando uma coletiva de imprensa no tribunal de Manhattan onde Trump é julgado, com Robert De Niro e dois ex-agentes da Polícia do Capitólio dos Estados Unidos. Depois da coletiva, De Niro saiu totalmente do roteiro que a campanha de Biden lhe escrevera abordando diretamente a possibilidade da condenação de Trump.

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“Na verdade não importa se ele for absolvido ou se os jurados ficarem divididos. Ele é culpado — e todos nós sabemos disso, afirmou De Niro. “Eu nunca vi um cara se livrar de tanta coisa. Todo mundo sabe disso.” A uma pergunta sobre Trump dever ou não estar na cadeia, em sua opinião, De Niro respondeu: “Com certeza sim. Sem dúvida”.

A campanha de Trump acusou rapidamente Biden de fabricar uma artimanha política.

Biden deverá romper seu longo silêncio sobre o julgamento quando o desfecho ficar claro, depois de restringir seus comentários a fazer piadinhas leves por Trump ter adormecido na corte e sobre outros assuntos não judiciais. E se o júri condenar o ex-presidente, a campanha de Biden deverá salientar o novo registro criminal de seu oponente. A equipe de redes sociais da campanha de Biden, por exemplo, discutiu preliminarmente se deve ou não rotular o presumível indicado do Partido Republicano para concorrer à presidência como “o criminoso condenado Donald Trump” em seus posts.

Mas a equipe de Biden vê pouca evidência de que um veredicto de culpado possa alterar o curso da corrida presidencial e acredita que é melhor colocar foco no contraste entre os dois candidatos sobre os temas em que o presidente é mais forte. Há também a preocupação de colaborar com as alegações sem fundamento de Trump de que um Biden vingativo orquestrou o indiciamento criminal.

“Não devemos esperar que uma condenação influencie esta eleição, porque nada em relação a Trump nunca seguiu a sabedoria convencional”, afirmou Jim Messina, que coordenou a campanha para reeleição do ex-presidente Barack Obama, em 2012, e atua como conselheiro externo de confiança para a equipe de Biden.

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A campanha do presidente, acrescentou Messina, “não precisa enfatizar nenhuma futura condenação criminal quando há temas maiores e mais importantes para os eleitores, que impactam diretamente suas vidas”.

A campanha de Biden dificilmente reluta em atacar Trump. Na semana passada, a equipe do presidente escalou seu ataque retórico de meses e adicionou um elemento pessoal. O marido da vice-presidente Kamala Harris, Doug Emhoff, qualificou Trump “um antissemita notório”, e um anúncio eleitoral narrado por Robert De Niro declarou que Trump “pirou” depois que perdeu a eleição de 2020.

Imagem mostra Robert De Niro em frente ao tribunal onde Donald Trump é julgado. Trump considerou presença do ator uma 'artimanha política' Foto: Seth Wenig/AP

Uma condenação de Trump abriria uma nova via para ataques, mas dedicar tempo e energia para isso ocasionaria um risco estratégico.

A medida em que uma condenação mudaria a maneira que as pessoas consideram Trump segue sendo a pergunta de US$ 64 mil da campanha. Pesquisas públicas têm sido inconsistentes — e em parte porque o país nunca teve um criminoso condenado indicado por um dos principais partidos para concorrer à presidência, os resultados não inspiram confiança.

Ainda assim, em uma pesquisa da Universidade Quinnipiac publicada na semana passada, apenas 6% dos eleitores declarados de Trump afirmaram que uma condenação tornaria menos provável que eles votassem no ex-presidente em novembro. Entre independentes, 23% afirmaram que seria menos provável eles apoiarem Trump após uma condenação.

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Um número considerável de democratas considera que se Trump for condenado os aliados de Biden devem levar esse desdobramento ao centro do debate da disputa de 2024, mesmo que a campanha em si coloque foco sobre outros temas.

“Quer dizer que nós realmente vamos eleger um criminoso condenado?”, afirmou o deputado Robert Garcia, da Califórnia. “Não faz nenhum sentido evitar falar que Donald Trump foi condenado. Por que isso não seria parte de quem ele é e parte importante da campanha para presidente?”

A campanha de Biden anunciou na terça-feira que enviaria Harry Dunn e outros ex-agentes da Polícia do Capitólio dos EUA em um tour por Estados indefinidos a partir desta semana para enfatizar as ações de Trump que ocasionaram a insurreição de 6 de janeiro de 2021 — um esforço para minar a democracia que, acredita a equipe do presidente, ajudará a trazer mais eleitores para seu lado do que um veredicto de culpado em Manhattan.

Os eventos organizados pela equipe de Biden, que a campanha disse que teriam esquemas de segurança das autoridades policiais locais, são destinados a enfatizar a disposição de Trump de fomentar violência política e o que os democratas afirmam ser um profundo desprezo pelo estado de direito.

Ainda que a campanha de Biden não tenha planos imediatos para enfatizar uma eventual condenação de Trump nos anúncios que planeja veicular nos Estados indefinidos, outras entidades planejam fazê-lo.

O Projeto Lincoln, um grupo de centro-direita conhecido por escarnecer de Trump com anúncios envolventes, planeja veicular uma campanha publicitária em plataformas digitais com foco no Arizona e no Wisconsin a partir do momento em que o ex-presidente seja condenado, de acordo com Rick Wilson, um dos fundadores da organização.

Wilson afirmou que sua entidade, que com frequência desviou-se da ortodoxia democrata pós-2016 lançando ataques pessoais fulminantes contra Trump, também tem feito anúncios em celulares de associados próximos do ex-presidente e em canais de TV a cabo que costumam ser exibidos nas televisões dos clubes de Trump em Bedminster, Nova Jersey, e Palm Beach, Flórida.

Os assessores de Biden acreditam que o principal benefício de qualquer condenação poderá ser complementar — oferecendo uma dose de realidade para as legiões de eleitores que ainda não acreditam ou não aceitaram que a eleição será uma disputa entre o atual presidente e seu antecessor.

Segundo esse pensamento, qualquer lembrete de que Trump é o presumível indicado republicano para concorrer à presidência é bom para os prospectos de Biden. A cobertura da imprensa e as reações nas redes sociais a uma condenação lembrariam as pessoas de que Biden é a escolha contra um criminoso, então a campanha do presidente não precisaria arcar com esse peso.

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“Acho que ninguém considera isso uma bala de prata”, afirmou Matt Bennett, um dos fundadores do instituto de análise centrista Terceira Via, que auxilia os democratas no esforço para reeleger Biden. “Todos estão conscientes do risco de uma repercussão negativa, mas, por outro lado, o fato de ele ser condenado por um crime grave não deixará de ser mencionado.”

E então vem a dúvida sobre o que os democratas farão se Trump for absolvido ou se o júri não conseguir alcançar um veredicto e o julgamento for anulado. Para a campanha de Biden, as coisas continuariam as mesmas, e a equipe do presidente continuaria a bater em Trump nos temas do aborto e da democracia.

Os planos de Trump são previsíveis.

Ainda que relativamente silencioso a respeito de seu julgamento em razão de uma ordem para não discutir o caso publicamente, imposta pelo juiz de Nova York que conduz o processo, Trump tem um longo histórico de atacar seus inimigos furiosamente e vingativamente. Depois desse julgamento, ele deverá seguir nessa cartilha, seja qual for o desfecho.

Trump considerará uma grande vitória qualquer resultado que não seja a condenação, como fez quando foi absolvido em seu primeiro impeachment. E se dedicará a alterar a opinião pública sobre os três casos pendentes contra ele.

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E não seria difícil encontrar democratas num estado de pânico pós-judicial.

Os democratas querem ver Trump processado e condenado pela Justiça há anos. O ex-presidente também enfrenta indiciamentos federais, sobre suas ações terem ocasionado a insurreição de 6 de janeiro de 2021 e a respeito de manipulação de documentos secretos, assim como indiciamentos estaduais, na Geórgia, sobre seus esforços para reverter o resultado da eleição de 2020 no Estado.

Mas nenhuma outra acusação criminal contra Trump será julgada antes de novembro, o que torna o processo em Manhattan o único veículo possível para responsabilizá-lo por supostos delitos antes de ele recuperar a presidência e dissolver pelo menos os dois indiciamentos federais. Juristas geralmente classificam o caso de Manhattan como o menos grave dos quatro.

Alguns democratas, traumatizados por anos vendo Trump sobreviver a momentos que teriam derrubado qualquer outro político, recomendaram cautela sobre mensagens a respeito de um veredicto de culpado em Manhattan.

A ex-presidente do Partido Democrata em New Hampshire Kathleen Sullivan afirmou que a condenação de um ex-presidente seria um momento “sombrio” e que os democratas deveriam evitar parecer “contentes” ao tentar marcar pontos políticos. “Temos de ser cuidadosos para não ir longe demais”, afirmou ela. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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