Em reunião com o ministro das Relações Exteriores, José Serra, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, elogiou a forma como o Brasil trata a crise na Venezuela, incentivando o diálogo entre governo e oposição. Ele quis ouvir uma avaliação do ministro brasileiro. Porém, o tema não foi aprofundado. A Venezuela foi citada como ponto de diálogo também na conversa que o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, teve com o presidente Michel Temer.
“Foi uma conversa geral”, contou Serra ao Estado, por telefone, de Bonn, na Alemanha, onde participa da reunião de chanceleres do G-20. “Foi um bom começo e parece que vamos ter uma boa linha de diálogo.”
Além da Venezuela, os dois ministros trataram de temas gerais. “Na nossa agenda para frente, a avaliação é que não há conflito entre Brasil e Estados Unidos”, disse o ministro.
No front econômico, por exemplo, os temas de negociação não deverão mudar. As conversas deverão se concentrar na remoção de barreiras não tarifárias para as exportações. É um trabalho que já vem sendo feito e passa, por exemplo, pela aproximação dos padrões técnicos para os produtos, de forma que o que é produzido aqui pode ser exportado com mais facilidade para lá e vice-versa.
Ex-presidente da Exxon Mobil, Tillerson comentou que a exploração do pré-sal brasileiro exige investimentos bastante elevados. Serra, por sua vez, falou do programa de concessões em infraestrutura no Brasil.
Além do americano, Serra reuniu-se também com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov. Os dois discutiram a necessidade de fortalecer a atuação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O russo propôs a ampliação do bloco, com consultas a outros países em desenvolvimento.
Em seu discurso durante a reunião do G-20, Serra afirmou que o grupo não pode mais se limitar a discutir os fluxos financeiros no mundo, e sim discutir as causas da crise, que ameaça o futuro da globalização e aspectos da democracia liberal. “Nosso principal desafio, hoje, é saber comolidar com tantos fatores imprevisíveis, que alimentam nosso estado de crise e caos”, afirmou. “Imprevisibilidade e conflito estão no centro da crise atual.”
O brasileiro afirmou que a crise de imigração não seria tão aguda se houvessem prosperado as negociações para abrir os mercados dos países desenvolvidos para as exportações agrícolas dos países em desenvolvimento. Ele destacou os avanços do Brasil na agenda de desenvolvimento sustentável, como o fato de o País ter 80% de sua matriz energética em fontes renováveis.
O ministro ainda ressaltou que o Brasil tem 61% de seu território coberto por mata nativa. “Ironicamente, muitos ainda apoiam a ideia de barreiras protecionistas contra os produtos agrícolas do Brasil, com base no argumento absurdo de que nossa agricultura ameaça o meio ambiente.”
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