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Seis ministros renunciam no Peru em meio a escândalo de relógios de luxo de Dina Boluarte

A presidente será ouvida pelo Ministério Público peruano na sexta-feira, quando deverá exibir e justificar a compra da suposta coleção de pelo menos três relógios Rolex não declarados

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Por Redação

LIMA - A presidente do Peru, Dina Boluarte, empossou no fim da noite de segunda-feira, 1º, às pressas seis novos ministros, após a renúncia de seis membros de seu gabinete. A crise política tem origem na investigação do Ministério Público, que acusa Dina de enriquecimento ilícito por não ter declarado relógios de luxo em sua posse – o chamado “Rolexgate”.

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O escândalo veio à tona em meados de março, após uma reportagem que revelou o uso de vários relógios Rolex pela presidente, de 61 anos. Dina não teria declarado nenhum deles. As investigações começaram imediatamente, no dia 18 de março. Na madrugada de sábado, 30, uma operação policial bateu à porta da casa da presidente e do palácio do governo em busca dos bens, ampliando a crise já profunda no governo peruano.

Desde a noite de segunda-feira, o governo peruano entrou em parafuso. O ministro do Interior, Víctor Torres, foi o primeiro a entregar o cargo, seguido horas depois pelos titulares das pastas da Mulher, Educação, Produção, Desenvolvimento Agrário e Comércio Exterior. Nenhum dos ministros, porém, falou abertamente sobre o escândalo dos relógios ou ligou às demissões ao caso.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, posa com seus recém-nomeados ministros de Estado após uma cerimônia de posse em Lima, Peru, em 1º de abril de 2024 Foto: Sebastian Castaneda/Reuters

Torres, por exemplo, alegou “problemas familiares” para deixar o governo. “Coordenei com a presidente e estou saindo porque pedi, e ela concordou”, disse Torres ao deixar o palácio presidencial, após participar pela última vez do conselho de ministros.

Torres era o responsável pela polícia, que realizou no fim de semana, juntamente com o Ministério Público, a busca e apreensão na residência e no gabinete de Dina. A defesa da presidente afirmou que os policiais encontraram alguns relógios durante as operações no Palácio do Governo, mas nenhum Rolex.

A presidente classificou a atuação do Ministério Público como “arbitrária, desproporcional e abusiva”. Ela afirmou que está sendo atacada sistematicamente e as investigações, portanto, seriam “um ataque à democracia e ao Estado de governo, provocando instabilidade política, social e econômica”.

Dina, que assumiu o poder em dezembro de 2022 em substituição ao destituído e preso Pedro Castillo, será ouvida pelos promotores na sexta-feira, 5. Após a batida policial, ela pediu para ter o seu depoimento antecipado, alegando “instabilidade política” gerada pela investigação. O MP, no entanto, negou o pedido. Segundo os advogados da presidente, o órgão disse “não ser responsável pelo turbilhão político”.

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Na diligência de sexta-feira, ela deverá exibir e justificar a compra da suposta coleção de pelo menos três relógios Rolex, que a imprensa atribui a ela por meio de diversas fotos publicadas nos últimos dias.

Se for indiciada, Dina só responderia em um eventual julgamento após julho de 2026, quando termina seu mandato, conforme estabelece a Constituição. No entanto, o escândalo pode resultar em um pedido de impeachment pelo Congresso, sob alegação de “incapacidade moral”.

Para que isso ocorra, os partidos de direita, que controlam o Parlamento unicameral e são o principal apoio da presidente, deveriam apoiar os partidos de esquerda, que são minoritários, em uma aliança teoricamente difícil de se concretizar.

No sábado, 26 dos 130 deputados apresentaram uma “moção de vacância” (impeachment) da presidente à mesa diretora do Parlamento. No entanto, para ser levada a debate, o pedido deve ser aprovado por mais de 50 legisladores.

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Nesta terça, a comissão de fiscalização do Congresso intimou Dina de última hora para esclarecer o caso dos relógios. No entanto, é improvável que isto ocorra porque a presidente antecipou no domingo que irá primeiro ao MP. Ela não é obrigada a se apresentar.

Dina era vice-presidente até assumir o cargo em 7 de dezembro de 2022, depois que o Congresso destituiu o presidente de esquerda Pedro Castillo, por sua tentativa de dissolver o Parlamento e governar por decreto.

O futuro de seu mandato, que termina em julho de 2026, “é incerto, embora seja jogado em duas cordas separadas que são a judicial e a política”, disse à AFP o analista Augusto Alvarez Rodrich. “Até o momento, não há possibilidade de uma vacância porque o Congresso está ciente de que seria inevitável convocar eleições antecipadas e prefere evitar esse risco”.

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Durante seu período no poder, a esquerda apresentou duas moções de impeachment contra a presidente. Nenhuma delas foi admitida para debate. “As principais forças no Congresso pretendem manter o estado de coisas pelo maior tempo possível”, disse à AFP o cientista político Carlos Meléndez, da Universidade chilena Diego Portales.

Policiais do lado de fora da casa da presidente Dina Boluarte durante uma operação ordenada pelo Ministério Público com o objetivo de apreender relógios de luxo em 30 de março Foto: Martin Mejia/AP

Mas ele advertiu que “seria um milagre se ela terminasse seu mandato, porque ninguém quer ser aliado de um presidente impopular em um contexto eleitoral”, referindo-se às eleições de 2025.

A presidente descartou a possibilidade de renunciar e insiste que esclarecerá o caso do relógio com o Ministério Público. Se ela renunciar, o chefe do Congresso assumirá a presidência e convocará uma eleição geral em seis meses.

“A melhor coisa que poderia acontecer ao país é que essa provação termine e que a política nacional seja reiniciada com novas eleições gerais que incluam o Congresso”, disse o analista Juan Carlos Tafur ao portal de notícias Sudaca.

Dina eleva para seis o número total de presidentes manchados por casos de corrupção até o momento no século XXI. O Peru teve seis presidentes desde 2016, sendo que dos últimos cinco, quatro foram removidos do cargo.

Além deste caso, o MP também investiga Dina desde 2023 pelos supostos crimes de “genocídio, homicídio agravado e lesões graves”, pela morte de mais de 50 civis durante as mobilizações sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 que exigiram sua renúncia e eleições antecipadas. /Com AFP

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