BERLIM - A Alemanha inaugurou neste sábado (17) seu primeiro terminal de gás natural liquefeito (GNL), construído em tempo recorde para se adaptar a viver sem os combustíveis russos após a invasão da Ucrânia. Com o inverno chegando ao Hemisfério Norte e visando a segurança energética a partir de 2023, toda a Europa agora busca alternativas aos hidrocarbonetos que importava em grandes quantidades da Rússia.
A instalação no porto de Wilhelmshaven, no Mar do Norte, foi inaugurada pelo chanceler Olaf Scholz em uma cerimônia a bordo do navio conhecido como Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação (FRSU), batizado de Hoegh Esperanza. O terminal, já carregado com gás nigeriano que pode abastecer 50 mil residências por um ano, começará o fornecimento em 22 de dezembro.
Scholz celebrou o tempo recorde no qual o terminal foi inaugurado, em um país conhecido por licitações burocráticas. “Este é um bom dia para o nosso país e um bom sinal para todo o mundo de que a economia alemã estará em condições de continuar forte, de produzir e de enfrentar este desafio”, afirmou. “Esta é agora a nova velocidade alemã com a qual estamos avançando na infraestrutura”.
A Alemanha planeja abrir outros quatro terminais de GNL financiados pelo governo nos próximos meses, além de uma infraestrutura privada. Todos esses terminais juntos devem fornecer 30 bilhões de metros cúbicos de gás por ano a partir do ano que vem, o que representa um terço das necessidades totais do país.
As instalações portuárias foram concluídas há um mês e um navio especialmente equipado atracou na quinta-feira com 165 mil metros cúbicos de GNL. O Ministério da Economia adiantou que a regaseificação está prevista para começar nos próximos dias e o serviço regular em janeiro.
Os terminais fazem parte de um esforço para evitar uma crise de energia que também inclui a reativação temporária de antigas usinas movidas a óleo e carvão e a extensão da vida útil das últimas três usinas nucleares da Alemanha, que deveriam ser desligadas no final deste ano, até meados de abril.
Energia na Alemanha
Terminais sem gás?
Isso se Berlim encontrar GNL suficiente para enchê-los, já que o mercado do combustível é bastante limitando, sendo dominado por apenas três países: Estados Unidos, Austrália e Catar - além da Rússia.
Esses terminais permitem que o gás natural resfriado seja importado por via marítima e condensado em líquido para facilitar o transporte. As unidades FRSU armazenam GNL e o convertem em gás pronto para o uso. Até agora, a Alemanha não possuía esses terminais e 55% de seu abastecimento dependia do gás barato enviado por gasoduto da Rússia.
Mas desde a invasão da Ucrânia, as entregas de gás para a Alemanha caíram e Berlim foi forçada a recorrer ao GNL processado em portos da Bélgica, França e Holanda, pagando um bônus pelos custos de transporte. O governo decidiu investir para construir suas próprias instalações o mais rápido possível e gastou bilhões de euros para obter o FSRU.
No entanto, a Alemanha ainda não assinou nenhum contrato importante de longo prazo para garantir o fornecimento desses terminais a partir de janeiro. “A capacidade de importação existe. Mas estou preocupado com os suprimentos”, disse à AFP Johan Lilliestam, pesquisador da Universidade de Potsdam.
Existe um contrato com o Catar para abastecer o terminal de Wilhelmshaven, mas as entregas só estão previstas para 2026.
Os fornecedores querem contratos de longo prazo, mas a Alemanha não quer amarrar as mãos com acordos de muitos anos, já que o país pretende atingir a neutralidade de carbono até 2045. “As empresas precisam saber que as compras na Alemanha vão diminuir eventualmente se quisermos cumprir nossas metas de proteção climática”, disse o ministro da Economia, Robert Habeck.
Frio e inverno
Inicialmente, a primeira economia da zona do euro pode ser forçada a comprar GNL nos mercados à vista, o que significará preços mais altos para os consumidores. Além disso, o mercado pode encolher no próximo ano devido à demanda renovada da China, que deixa para trás sua rígida política anticovid, alertou à AFP Andreas Schroeder, especialista do instituto de energia ICIS.
“Se a Europa conseguiu receber tanto GNL nos últimos meses foi porque a demanda chinesa estava baixa”, explicou. O gigante asiático assinou um acordo para comprar gás do Catar por 27 anos, o mais longo da história, segundo o país árabe.
A Alemanha passou por um inverno frio até agora, o que reduziu as reservas mais rápido do que o esperado. “O consumo de gás está aumentando. Isso é um risco, especialmente se o frio continuar”, afirmou Klaus Mueller, diretor da agência governamental que regula o mercado de gás e eletricidade.
Existe um risco real de que a Alemanha sofra interrupções temporárias no fornecimento nos próximos meses, segundo Schroeder. /AFP e AP
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