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Sem munição, Ucrânia terá mais de R$ 10 bi em auxílio financeiro da UE para recompor arsenal

Forças ucranianas estão disparando projéteis de artilharia mais rápido do que os fabricantes podem produzi-los

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Por Redação
Atualização:

BRUXELAS - A União Europeia prometeu nesta quarta-feira, 8, desembolsar mais € 2 bilhões (mais de R$ 10 bilhões) para aumentar a produção e entrega de munições para a Ucrânia. O anúncio foi feito pelo chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, ao final de uma reunião dos ministros da Defesa da UE, em Estocolmo, na Suécia, para discutir planos de aquisição conjunta de armas, com o objetivo de aumentar as entregas de munição à Ucrânia e reabastecer os estoques esgotados de países do bloco.

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A Ucrânia está tão desesperada por munição que está racionando os disparos de projéteis, segundo seu ministro da Defesa. Mesmo assim, está gastando projéteis mais rápido do que o Ocidente pode produzi-los ou fornecê-los.

Fabricar mais projéteis é um processo caro e as empresas do setor trabalham com encomendas com depósitos antecipados para entregá-los. Na esperança de resolver esses problemas, os ministros da Defesa da União Europeia se reuniram nesta quarta-feira, 8, em Estocolmo para avaliar algumas propostas de orçamento para encomendar e comprar até 1 milhão de projéteis para a Ucrânia.

Soldado ucraniano na linha de frente em Toretsk, na região de Donetsk; reserva de munição em baixa  Foto: Tyler Hicks/The New York Times - 7/3/2023


A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comparou o projeto à estratégia usada pela Europa para garantir vacinas no início da pandemia de covid-19 – reunindo recursos para oferecer mais dinheiro antecipadamente para incentivar os fabricantes “a investir em novas linhas de produção”.

A Estônia compareceu à reunião com seu próprio plano para um fundo voluntário de € 4 bilhões, enquanto Borrell disse que € 1 bilhão do Fundo Europeu para a Paz - um fundo fora do orçamento que os estados membros podem usar para obter parte do que forneceram à Ucrânia — poderia ser disponibilizado, segundo reportagem da agência Euronews.

Os € 2 bilhões provisoriamente acertados pelos ministros consistiria em os estados membros fornecerem € 1 bilhão em munição de seus estoques e fazendo pedidos de € 1 bilhão adicionais. Esses pedidos, segundo Borrell, seriam feitos coletivamente, com os estados membros apresentando suas propostas na esperança de que isso levasse a preços mais baixos e prazos de entrega mais rápidos.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse a seus países membros para não se preocuparem muito com a redução de seus próprios estoques por enquanto, apesar dos requisitos formais da aliança militar, pois eles poderiam reabastecê-los mais tarde. Mas ele alertou no mês passado que “o tempo de espera por munição de grosso calibre aumentou de 12 para 28 meses”.

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Inicialmente, o desafio da Ucrânia era encontrar munição suficiente da era soviética para satisfazer o antiquado arsenal que possuía. Mas os países europeus recentemente enviaram armas ocidentais modernas para a Ucrânia. Essas requerem um projétil de tamanho diferente, 155 milímetros.

Argumentando que seus esforços para conter os atuais ataques russos em Donbas estão sendo prejudicados pela falta de munição, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, disse aos ministros da UE em uma carta obtida pelo Financial Times que, no mínimo, Kiev precisava de 250 mil projéteis de artilharia por mês. Ele também alegou que suas forças estavam disparando apenas cerca de 120 mil por mês, um quinto dos cartuchos que normalmente usariam.

Mas um alto funcionário europeu, que falou sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto, disse que as 12 empresas em 10 países da UE que fabricam tais projéteis de artilharia podem atualmente produzir apenas 650 mil por ano - e isso inclui outros tipos de munição que estão em falta, incluindo cartuchos de 120 milímetros necessários para os tanques alemães Leopard 2 e cartuchos de 105 milímetros necessários para os tanques Leopard 1 mais antigos.

Coreia do Sul

Os Estados Unidos já enviaram à Ucrânia cerca de 1 milhão de projéteis de artilharia de 155 milímetros de seus estoques e os estão reabastecendo em parte com compras da Coreia do Sul, que se recusa a vender diretamente para a Ucrânia.

Mas os EUA também não fabricam muitos projéteis de 155 milímetros e estão tentando aumentar sua própria produção. O país está aumentando de cerca de 14,4 mil rodadas por mês para 20 mil por mês nos próximos meses, com planos de fazer 90 mil rodadas por mês até 2025.

Todos esses números são insignificantes em comparação com as necessidades da Ucrânia, sem falar no número de projéteis que a Rússia está disparando contra o território ucraniano, estimado em 10 mil por dia, embora às vezes o dobro disso, explicou Borrell.

A Rússia também está enfrentando escassez de munição e suas fábricas estão trabalhando em alta velocidade. Mas também reduziu o número de projéteis que está disparando. No meio do ano passado, no Donbas, os russos disparavam de 40 mil a 50 mil tiros de artilharia por dia, enquanto os ucranianos disparavam de 6 mil a 7 mil por dia.

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A Ucrânia também precisa de munição para sua frota existente de tanques T-72 da era soviética, que as empresas ocidentais não fabricam.

François Heisbourg, um analista de defesa francês, elogiou a ideia da compra conjunta, mas alertou que, mesmo que o dinheiro chegue, a Ucrânia ou seus fornecedores ocidentais podem não ter a munição de que precisam em breve.

“Não está chegando rápido o suficiente, mas está chegando”, disse Heisbourg. “Não é uma questão de recursos ou dinheiro. O € 1 bilhão não é o problema, é colocar essas fábricas em funcionamento que leva tempo.”

Soldados ucranianos preparam munição para um obus de 105 mm em uma posição de artilharia na região do Donbas  Foto: Tyler Hicks/The New York Times - 5/3/2023

Mas também há preocupações de que a burocracia europeia, não importa o senso de urgência compartilhado, pode desacelerar as coisas, disse Christian Mölling, que dirige o Centro de Segurança e Defesa do Conselho Alemão de Relações Exteriores.

Seria muito melhor e mais rápido, disse ele, dar o dinheiro aos ucranianos e dizer-lhes para encomendar a munição de que precisam diretamente, em vez de passar por Bruxelas. “A UE deve fazer o que faz de melhor, dar dinheiro e não se envolver na burocracia de aquisição de munição”, afirmou.

Até agora, os ucranianos sabem do que precisam e o que funciona melhor com qual arma, como explicou Mölling. A munição não é o único problema, dada a necessidade de peças sobressalentes, manutenção e pessoal treinado, os mesmos requisitos que seguirão o fornecimento de complicados tanques ocidentais à Ucrânia. “Precisa ser um fluxo infinito”, disse ele.

A União Europeia e os Estados membros também poderiam ajudar, ele sugeriu, livrando-se de restrições políticas complicadas, como licenças de exportação para remessas de armas para a Ucrânia, que visam evitar que as armas caiam em mãos erradas, e regulamentos climáticos e outros sobre produção de munição. Isso poderia levar os banqueiros a investir em fábricas de armas, que alguns bancos boicotam sob pressão de acionistas, alguns dos quais não querem lucrar com armas.

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E a Otan poderia facilitar os regulamentos de certificação sobre o uso de certos projéteis para certas armas. Por exemplo, disse ele, é contra a lei alemã disparar projéteis não certificados de obuses alemães. Esses regulamentos são projetados para segurança, mas também podem beneficiar os fabricantes que produzem cartuchos para vender para armas que eles também fabricam, semelhantes aos cartuchos de impressora para impressoras específicas.

Camille Grand, ex-secretária-geral assistente da Otan para investimentos em defesa, disse que a aliança estimou que 80% dos projéteis de 155 milímetros poderiam ser disparados de qualquer arma ocidental, apesar das certificações restritivas.

Aumentar a produção em 50% seria fácil, disse ele, com mais turnos de trabalho, mesmo que às vezes haja problemas de abastecimento de ingredientes-chave. Mas aumentar a produção em 300% exigiria grandes investimentos em novas fábricas.

Entregar munição, especialmente projéteis de 155 milímetros, “é a questão mais urgente”, disse Borrell aos ministros das Relações Exteriores da UE no mês passado. “Se falharmos nisso, o resultado da guerra estará em perigo.”/COM NYT

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