O Senado dos Estados Unidos evitou por pouco uma paralisação do governo Donald Trump após o líder do Partido Democrata Chuck Schumer permitir que a medida provisória de gastos apresentada pelos republicanos avançasse.
A medida, que financiará o governo até 30 de setembro, foi aprovada por 54 a 46, margem que praticamente refle a divisão do Senado entre republicanos (53) e democratas (47). Mas a votação decisiva foi a que permitiu o avanço da proposta, com apoio de Schumer e outros nove deputados da sua bancada.
Em tentativa de evitar a paralisação do governo a poucas horas do prazo final, o pequeno grupo de democratas frustrou a obstrução liderada pelo próprio partido após dias de hesitação.

O debate sobre os gastos expôs a divisão no Partido Democrata sobre como enfrentar Donald Trump, que aproveita o controle da Casa Branca, Senado e Câmara para avançar com cortes de gastos e demissões em massa de funcionários públicos praticamente sem freios.
A mudança de posição repentina de Schumer irritou os democratas que estavam preparados para uma disputa em torno da paralisação como forma de demonstrar sua determinação em enfrentar Trump. Muitos no partido se opuseram fortemente à medida provisória sobre os gastos, argumentando que a proposta fortaleceria os esforços do republicano para desmantelar áreas do governo.
Até quarta-feira, Schumer se posicionava fortemente contra o projeto, propondo uma alternativa de curto prazo de um mês para permitir que o Congresso chegasse a um acordo sobre os gastos, com instruções específicas de como os recursos federais deveriam ser distribuídos.
Diante da iminência da paralisação e das preocupações de que os democratas seriam responsabilizados, ele mudou de posição na quinta-feira, depois que os republicanos negaram a proposta de curto prazo.
Reconhecendo que os democratas estavam diante de uma única alternativa — aceitar ou rejeitar —, Schumer argumentou que uma paralisação só beneficiaria Trump e Musk, cedendo mais poder a eles para controlar as agências federais.
Durante uma paralisação, disse ele, o governo Trump poderia decidir quais funcionários federais seriam considerados “não essenciais” e colocados em licença não remunerada. E alertou que os republicanos teriam pouco incentivo para reabrir o governo. “Por pior que seja”, disse Schumer, “acredito que permitir que o presidente Trump assuma mais poder é uma opção muito pior.”
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Na votação que permitiu o avanço da medida, Chuck Schumer foi seguido por nove senadores democratas. Dois deles, Jeanne Shaheen, de New Hampshire, e Angus King, do Maine, também votaram pela aprovação final da proposta. Apenas um republicano, Rand Paul, do Kentucky, foi contra.
A proposta dos republicanos manteria os recursos do governo nos níveis estabelecidos durante o governo Joe Biden, mas aumentaria os gastos militares em US$ 6 bilhões. Enquanto o orçamento do Distrito de Colúmbia seria reduzido em cerca de US$ 1 bilhão nos próximos seis meses. Como parte do acordo de Schumer com os republicanos para permitir o avanço do projeto, no entanto, o Senado deveria considerar uma medida separada para reverter o corte.
A divisão dentro do Partido Democrata se resumiu a uma disputa sobre qual resultado seria pior. Schumer e o pequeno grupo que votou para permitir o avanço alegaram que a paralisação daria a Donald Trump a liberdade para financiar ou cortar partes do governo como quisesse. Os que se opuseram argumentaram que financiar o governo enquanto o presidente agia de forma descontrolada era igualmente perigoso.
Entre aqueles que se opuseram à medida, há democratas de todos os espectros ideológicos, incluindo vários centristas. A principal preocupação entre eles é que a medida provisória não inclui instruções específicas sobre a destinação das verbas. Com isso, o governo Trump — que já desconsiderou diretrizes de gastos estabelecidas pelo Congresso — teria recursos livres, alertaram os críticos.
O que mais preocupa os democratas é que a medida provisória não contém as instruções específicas do Congresso para alocar dinheiro para programas geralmente incluídos em projetos de gastos. Os principais democratas, incluindo a senadora Patty Murray, de Washington, principal responsável pelo orçamento do partido, alertaram que a falta de instruções explícitas criaria essencialmente fundos livres para o governo Trump, num momento em que ele já desconsiderou as diretrizes de gastos estabelecidas pelo Congresso.

“Já vimos até onde o presidente Trump, Elon Musk e Russ Vought estão dispostos a distorcer — e até mesmo quebrar — nossas leis para atender à sua vontade”, disse a democrata Patty Murray, de Washington, referindo-se ao diretor de Orçamento da Casa Branca. “Mas os republicanos da Câmara estão preparando o terreno para que tudo até agora pareça brincadeira de criança.”
Por outro lado, o senador John Thune, líder da maioria republicana, culpou Schumer e os democratas pelo impasse no financiamento. Ele alegou que a falha em aprovar os projetos de gastos anuais enquanto o Senado estava sob controle democrata no ano passado causou o problema. E prometeu priorizar o orçamento para evitar que a crise se repita no futuro próximo.
“Para ser claro, os republicanos não estão entusiasmados com outra C.R.”, disse Thune usando a sigla em inglês para resolução contínua, um mecanismo temporário de financiamento. “Mas é nossa melhor opção para garantir que o fracasso do ano passado dos democratas não interfira no processo orçamentário deste ano.”/NY TIMES