A revelação de que as autoridades mais altas de segurança nacional dos Estados Unidos publicaram detalhes de um ataque militar no Iêmen em um grupo de bate-papo no aplicativo Signal com a presença de um jornalista, horas antes do ataque ocorrer, levantou questões sobre leis violadas, vazamento de informações confidenciais e possíveis consequências.
O ‘Signalgate’, como o caso ficou conhecido, expôs que a cúpula da Casa Branca discutia planos de guerra americanos no aplicativo Signal, que não possui autorização do governo americano para discutir assuntos secretos pelo risco de ser hackeado.
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Logo depois da publicação do caso pelo editor-chefe da revista americana The Atlantic, Jeffrey Goldberg, que diz ter sido convidado pelo conselheiro de segurança nacional de Donald Trump, Mike Waltz, a participar do grupo, as autoridades negaram que haviam discutido informações confidenciais no aplicativo. “Ninguém estava enviando planos de guerra por mensagens de texto”, disse o secretário de defesa, Pete Hegseth, a um repórter.

Em audiência no Senado e na Câmara dos Representantes nesta terça e quarta-feira, os membros do grupo voltaram a negar que as informações discutidas eram secretas. “Não havia material confidencial compartilhado naquele grupo”, disse a diretora de inteligência nacional, Tulsi Gabbard, aos membros da Comissão de Inteligência do Senado. Trump também minimizou o vazamento.
Inicialmente, a The Atlantic não expôs as mensagens enviadas com a justificativa de que elas poderiam comprometer a vida de americanos. “Por isso que escolhemos caracterizar a natureza das informações que estão sendo compartilhadas, não detalhes específicos”, escreveu a revista.
Com as declarações minimizando o caso, no entanto, a The Atlantic escolheu publicar as mensagens - e expor o que as autoridades conversaram e quem eram os participantes do grupo.
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“Há um claro interesse público em divulgar o tipo de informação que os conselheiros de Trump incluíram em canais de comunicação não seguros, especialmente porque figuras seniores da administração estão tentando minimizar a importância das mensagens que foram compartilhadas”, afirmou a revista.
A publicação da conversa fornece mais informações sobre as discussões das autoridades americanas. Abaixo, veja o que se sabe sobre o caso e leia no fim a reprodução completa das capturas de tela feitas por Jeffrey Goldberg:
O que foi discutido em termos gerais
Grande parte da conversa no grupo, chamado “Pequeno grupo Houthi”, se referia ao momento e plano de ataque aéreos aos rebeldes houthis do Iêmen. O ataque tinha o objetivo de destruir a capacidade dos rebeldes de lançaram mísseis contra navios que navegam no Mar Vermelho, que ocorre desde o início da campanha militar de Israel na Faixa de Gaza após o 7 de outubro de 2023.
Os mísseis afetam uma das principais rotas do comércio global, sobretudo para países aliados de Israel, como EUA e as nações europeias. Os houthis são aliados do Hamas e começaram os ataques para pressionar um cessar-fogo de Israel em Gaza.


Nos diálogos, autoridades como o vice-presidente americano J.D. Vance expressaram incômodo em ajudar os europeus com os ataques, temores de aumento nos preços de petróleo e planos de proteger instalações petrolíferas da Arábia Saudita.



O que foi discutido em termos operacionais
No dia do ataque, sábado, as autoridades compartilharam detalhes operacionais dos ataques cerca de meia hora antes dele ocorrer. Em sua reportagem, Goldberg destaca que os membros não perceberam a presença de um número desconhecido - o dele - e poderiam ter causado prejuízo aos americanos caso fosse recebido por outra pessoa.

Hegseth continuou o compartilhamento das informações momentos depois.

Às 13h48, o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz enviou mensagens contendo informações inteligência em tempo real sobre as condições em um dos locais de ataque, aparentemente em Sanaa. Ele descreve que um prédio foi demolido para matar um dos lançadores de mísseis dos Houthis, que estaria visitando a namorada.

Após as informações serem compartilhadas, diversas autoridades elogiaram os ataques.
Quem eram os membros do grupo
O grupo criado por Mike Waltz possuía 19 membros, incluindo Goldberg. Além da cúpula de segurança, havia membros de outros departamentos do governo, como Departamento do Tesouro. Não está claro quem eram todos os membros do grupo.
Foram identificados: Pete Hegseth, secretário de defesa dos EUA; diretor da CIA, John Ratcliffe; Tulsi Gabbard, diretora de inteligência nacional; Dan Katz e Scott Bessent, do Departamento de Tesouro; Brian McComark e Walker Barrett, do Conselho Nacional de Segurança; Joe Kent, diretor Centro Nacional de Contraterrorismo;


