Simpatizante do nazismo que se vestia como Hitler é condenado a prisão por ataque ao Capitólio

Timothy Hale-Cusanelli foi sentenciado a quatro anos de prisão por sua participação no ataque de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Trump tentaram impedir a certificação da eleição

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Por Redação

NOVA YORK - Um homem de Nova Jersey que foi um dos primeiros manifestantes a invadir o Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021 foi condenado na última quinta-feira, 22, a quatro anos de prisão. Timothy Hale-Cusanelli, que costumava se vestir de Adolf Hitler, tinha “motivação racista e antissemita” quando tentou interromper a certificação eleitoral, segundo o juiz do caso.

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O réu, de 32 anos, estava trabalhando como segurança em uma estação naval em Nova Jersey quando se juntou à multidão pró-Trump que invadiu o Capitólio. Em um julgamento em maio no Tribunal Distrital Federal em Washington, Hale-Cusanelli foi condenado por cinco acusações criminais, incluindo obstrução da certificação dos resultados das eleições de 2020, que ocorreu em uma sessão conjunta do Congresso em 6 de janeiro.

Hale-Cusanelli, que tinha uma autorização de segurança no momento do ataque, tentou minimizar seu papel na invasão dizendo ao júri que não fazia ideia de que o Congresso se reunia no Capitólio. Ele afirmou se sentir “um idiota”. Mas pouco antes de emitir a sentença, o juiz Trevor McFadden chamou seu depoimento de uma “mentira risível” e uma “tentativa óbvia de evitar a responsabilidade”.

Timothy Hale-Cusanelli em uma foto anexada a uma queixa criminal apresentada pelo procurador do Distrito de Columbia Foto: Procurador dos EUA para o Distrito de Columbia via Washington Post

Os promotores argumentaram na audiência desta quinta-feira que Hale-Cusanelli estava na linha de frente quando membros da multidão agrediam a polícia e quebravam portas e janelas para entrar no Capitólio. Hale-Cusanelli também instou aqueles ao seu redor a “avançar” no prédio, disseram os promotores.

Em um documento de sentença apresentado na semana passada, o governo observou que nos dias após 6 de janeiro, Hale-Cusanelli disse a seu colega de quarto na estação naval que ele havia ficado empolgado com a invasão do Capitólio, comparando-a a uma “guerra civil”. O memorando também dizia que Hale-Cusanelli disse a seu colega de quarto que queria “eliminar interesses arraigados” nos Estados Unidos, especificamente “interesses judeus manipulando a mídia, grandes corporações, o Partido Democrata, Joe Biden e o governo como um todo.”

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Depois de proferir a sentença, o juiz McFadden disse acreditar que as ações passadas de Hale-Cusanelli refletiam “profunda hostilidade e insensibilidade” em relação às minorias étnicas e religiosas, o que, acrescentou, teve consequências significativas, incluindo o incentivo a um recente aumento de ataques antissemitas em todo o país.

Segundo o juiz, a “motivação racista e antissemita” do réu para tentar interromper o processo de certificação eleitoral destacou seu caso de dezenas de outros invasores daquele dia.

Em uma imagem fornecida pelo Departamento de Justiça, Timothy Hale-Cusanelli, um imitador de Hitler acusado de invadir o Capitólio Foto: Departamento de Justiça dos EUA via NYT

Embora os promotores tenham dito em seu memorando que Hale-Cusanelli “subscreve as ideologias da supremacia branca e dos simpatizantes do nazismo”, o júri em seu julgamento viu apenas uma pequena parte das evidências do governo de que ele tinha visões extremistas. Os documentos judiciais do governo diziam que Hale-Cusanelli gostava de utilizar um “bigode de Hitler” enquanto trabalhava.

“Hale-Cusanelli é, na melhor das hipóteses, extremamente tolerante com a violência e a morte”, escreveram os promotores. “O que Hale-Cusanelli estava fazendo em 6 de janeiro não era ativismo, era o preâmbulo de sua guerra civil.”

Os promotores pediram mais de seis anos, mas o juiz federal decidiu que suas ações não obstruíam “a administração da justiça”, embora obstruíssem os procedimentos oficiais do Congresso naquele dia.

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Embora os promotores tenham passado grande parte do julgamento destacando comentários sexistas e racistas que Hale-Cusanelli havia feito antes do tumulto, eles insistiram na quinta-feira que o caso não era sobre seu direito de “ter opiniões desagradáveis”, mas sobre o que eles descreveram como tentativa de fugir da responsabilidade. “Ele se sentou naquela cadeira e mentiu para o júri deste tribunal”, disse a promotora Kathryn Fifield. “Ele mentiu sob juramento.”

Caricatura: Timothy Hale-Cusanelli aparece com a advogada de defesa Andrea Bergman perante a juíza Tonianne Bongiovanni e o procurador-adjunto Sammi Malek durante uma audiência virtual em um tribunal de Nova Jersey em 19 de janeiro de 2021 por acusações relacionadas à invasão do Capitólio em Washington em 6 de janeiro Foto: Jane Rosenberg/Reuters

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Na audiência, o advogado de Hale-Cusanelli, Nicholas Smith, reconheceu que seu cliente havia feito “comentários feios e infantis” no passado. Mas enfatizou que Hale-Cusanelli não cometeu os mesmos crimes que outros manifestantes que haviam levado armas para o Capitólio ou atacaram policiais.

Hale-Cusanelli se tornou o centro de uma controvérsia este mês quando Cynthia Hughes, que se descreve como sua “tia adotiva”, apareceu em um comício de Donald Trump na Pensilvânia e falou sobre seu caso. No comício, Hughes, que administra um site de arrecadação de doações para os réus de 6 de janeiro, apontou os quase dois anos que Hale-Cusanelli passou na prisão antes de seu julgamento como um exemplo das injustiças enfrentadas os acusados no ataque ao Capitólio.

Hughes compareceu à audiência de sentença. Ela se juntou a outros apoiadores proeminentes dos réus de 6 de janeiro, incluindo Nicole Reffitt, cujo marido, Guy Wesley Reffitt, foi condenado no mês passado a mais de sete anos de prisão, e a mãe de Ashli Babbitt, uma invasora que foi morta a tiros pela polícia durante o ataque.

Até agora, mais de 850 pessoas foram acusadas em conexão com os eventos do Capitólio, e as prisões continuam quase diariamente. Quase 300 pessoas se declararam culpadas; cerca de 250 delas foram condenadas. Pouco mais da metade deles foram condenados à prisão, com sentenças de apenas alguns dias a até 10 anos./NYT e W.POST

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