BEIRUTE - O regime de Bashar Assad sofre uma ofensiva militar que ameaça derrubar seu governo, com o avanço das forças rebeldes sírias que já chegaram aos subúrbios de Damasco neste sábado, 7.
No poder há quase três décadas, o ditador sírio vem perdendo força com o enfraquecimento de seus principais aliados (Irã e Hezbollah), envolvidos diretamente com o conflito contra Israel. A Rússia, outro grande apoiador do regime Assad, tem direcionado toda a sua atenção para a Guerra na Ucrânia, que já dura dois anos.
A ofensiva rebelde iniciada em novembro é o primeiro grande movimento de oposição desde o início da guerra civil na Síria, que começou a partir de protestos populares em janeiro de 2011.
A situação fragmentou ainda mais o país nos anos seguintes, e o território foi fatiado a partir da formações de milícias, forças paramilitares e outros grupos terroristas.
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Do lado de Assad, o exército sírio se retirou de grande parte do sul do país no sábado, mas permanece no controle de cinco capitais provinciais - Damasco, Homs e Quneitra, bem como Latakia e Tartus, na costa do Mediterrâneo.
Muitas lojas na capital foram fechadas e outras sofrem com a falta de produtos básicos, como açúcar. Algumas lojas estavam vendendo itens bem mais caros devido à demanda superaquecida pela invasão dos jihadistas. É a primeira vez que forças da oposição chegaram aos arredores de Damasco desde 2018, quando tropas sírias recapturaram a área após um cerco de anos.
Confira os principais grupos envolvidos e quais territórios eles controlam
Hayat Tahrir al Sham (HTS)
Liderados por Mohamed al Jolani, a milícia jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS) há uma semana tenta derrubar o regime de Bashar al-Assad.
O grupo é derivado do antigo braço sírio da Al-Qaeda, a frente al-Nusra, que surgiu em 2012 como uma das forças mais organizadas da oposição armada durante a guerra civil.
Tem atuação forte na região de Idlib, no noroeste do país. Quando o HTS foi fundado, em 2017, incorporando a frente al-Nusra e outros grupos jihadistas menores, ele continuou investindo pesado contra Assad, confiscou propriedades de minorias religiosas e enviou a polícia religiosa para impor vestimentas modestas às mulheres da sua área de atuação.
Os Estados Unidos e a ONU classificam o HTS como uma organização terrorista.
Abu Mohamed al Jolani é o líder do grupo rebelde islâmico. Durante anos, ele operou nas sombras, mas agora está no centro das atenções, concedendo entrevistas e participando de ações de combate. Ao longo dos anos, Jolani também deixou de usar o habitual turbante jihadista e optou por roupas militares.
Desde que rompeu relações com a Al Qaeda em 2016, o líder jihadista tem tentado apresentar-se como um líder mais moderado.
Forças do governo
Após o início do conflito em 2011, o Exército sírio perdeu a maior parte de seu território para facções da oposição, combatentes curdos e, mais tarde, jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
A intervenção da Rússia em 2015 reverteu a situação. Com o apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento islamista libanês Hezbollah, o regime recuperou o controle de dois terços da Síria.
Agora, ele controla apenas a ameaçada província de Homs, a capital Damasco e grande parte do litoral. No oeste da Síria, em Latakia, a Rússia tem a base aérea de Hmeimim e uma base naval no porto de Tartus, a única fora da antiga União Soviética.
Rebeldes no sul
Aproveitando o colapso do regime Assad, forças rebeldes anunciaram que assumiram o controle da província de Daraa e da cidade com o mesmo nome, no sul do território sírio, berço da revolta de 2011.
Os rebeldes do sul são diferentes das facções do norte lideradas pelo grupo rebelde islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Ainda assim, esses grupos visam o mesmo objetivo, que é derrubar Assad. Eles também conquistaram um posto de fronteira com a Jordânia, que fechou sua passagem para a Síria.
Daraa tinha voltado ao controle do governo sírio em 2018, por conta de um acordo de cessar-fogo negociado pela Rússia. Os rebeldes na área também alegaram ter conquistado a província de Sweida, um reduto da minoria drusa na Síria, após a retirada das forças do governo.
O exército sírio confirmou neste sábado que retirou suas forças militares das duas províncias.
Curdos
Os curdos estabeleceram califados em partes do norte e do leste do país, após a retirada do governo de grande parte das regiões no início do conflito há 13 anos.
Com o apoio dos Estados Unidos, as Forças Democráticas da Síria (FDS), dominadas pelos curdos, expandiram progressivamente seu território, obtendo vitórias consecutivas contra o Estado Islâmico (EI).
Eles controlam o nordeste da Síria e parte da província de Deir Ezzor no leste, especialmente a margem leste do rio Eufrates.
Na sexta-feira, os combatentes capturaram grande parte da província oriental de Deir el-Zour, que faz fronteira com o Iraque, bem como a capital da província que leva o mesmo nome.
A captura de áreas em Deir el-Zour é um golpe contra a influência do Irã na região, pois a área é a porta de entrada para o corredor que liga o Mediterrâneo ao Irã, uma linha de suprimentos para combatentes apoiados pelo Irã, incluindo o Hezbollah, do Líbano.
As forças dos Estados Unidos, posicionadas como parte de uma coalizão internacional anti-EI, estão estacionadas em várias bases no território curdo, inclusive na província de Deir Ezzor. Elas também estão presentes no sul, na base estratégica de al-Tanf, perto das fronteiras da Jordânia e do Iraque.
A Turquia e as facções
As forças turcas e seus aliados sírios controlam uma faixa descontínua de território entre Afrin e Ras al Ain, no noroeste, ao longo da fronteira turca.
Paralelamente à ofensiva em Aleppo, esses grupos tomaram Tal Rifat, controlado pelos curdos. Desde 2016, os militares turcos lançaram várias operações militares no norte da Síria, visando principalmente os combatentes curdos.
Estado Islâmico
Depois de conquistar vastas áreas na Síria e no Iraque em 2014, o grupo jihadista sofreu sucessivas derrotas até perder todos os seus territórios na Síria em 2019. O grupo chegou a controlar no Iraque e na Síria um território equivalente ao tamanho do Reino Unido.
Durante seu domínio, o EI foi responsável por milhares de ataques e atraiu uma legião de homens e mulheres de todo o mundo para se juntarem às suas fileiras.
Os combatentes que se refugiaram no deserto sírio continuam executando ataques violentos contra civis, forças do regime e combatentes curdos. /COM AFP E AP
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