Queda no contágio por covid-19 intriga América do Sul

Ainda sob ameaça da variante delta, região deixa de ser epicentro da pandemia; especialistas buscam explicação para redução rápida

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Por Ernesto Londoño, Daniel Politi e Flávia Milhorance

RIO DE JANEIRO - Há poucas semanas, o coronavírus se espalhava com alarmante facilidade por nações da América do Sul, sobrecarregando os sistemas hospitalares e matando milhares diariamente. De repente, a região, que havia sido o epicentro da pandemia de covid-19, respira mais aliviada.

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Novas infecções caíram drasticamente em quase todos os países da América do Sul, à medida que as taxas de vacinação aumentaram. O alívio foi tão rápido, mesmo com a variante delta causando estragos em outras partes do mundo, que os especialistas ainda não conseguiram explicar as razões do novo cenário.

Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Uruguai e Paraguai tiveram surtos fortes nos primeiros meses do ano, justamente quando as vacinas começaram a chegar à região. As medidas de contenção eram desiguais e em grande parte frouxas porque os governos estavam desesperados para dar um impulso a suas economias enfraquecidas.

“Agora, a situação desacelerou na América do Sul”, disse Carla Domingues, pesquisadora de saúde pública que dirigiu o programa de imunização do Brasil até 2019. “É um fenômeno que não sabemos explicar.”

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Trabalhadores da saúde fazem homenagem a mortos pela covid-19 em Santiago, no Chile Foto: Esteban Felix/AP

Não houve nenhuma nova varredura ou medidas de contenção em grande escala na região, embora alguns países tenham imposto controles de fronteira rígidos. Um fator importante na recente queda nos casos, dizem os especialistas, é a velocidade com que a região finalmente conseguiu vacinar as pessoas. 

 Os governos na América do Sul, em sua maior parte, não enfrentaram a apatia, a politização e as teorias da conspiração em torno das vacinas que deixaram grande parte dos EUA vulneráveis à variante delta, altamente contagiosa.

No Brasil, que teve uma implantação lenta e caótica da vacina, quase 64% da população recebeu pelo menos uma dose de imunizante, índice que supera o dos EUA. Isso levou o presidente Jair Bolsonaro, que inicialmente havia semeado dúvidas sobre as vacinas, a se gabar no mês passado. “O Brasil tem um dos melhores desempenhos em vacinação no mundo”, disse ele em um post no Twitter.

No Chile e no Uruguai, mais de 70% da população foi totalmente vacinada. Na medida em que os casos caíram, as escolas em grande parte da região retornaram presencialmente. Os aeroportos estão ficando mais cheios, uma vez que mais pessoas começaram a viajar a trabalho ou lazer. Na semana passada, a queda nos casos levou a ONU a fornecer uma projeção mais otimista do crescimento econômico na região. Espera-se agora que as economias na América Latina e no Caribe cresçam 5,9% este ano, um leve aumento na estimativa de 5,2% de julho. 

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 “Conseguimos retardar a maior circulação da variante delta e avançar com a maior campanha de vacinação de nossa história”, disse recentemente Carla Vizotti, ministra da Saúde da Argentina, onde mais de 61% da população recebeu ao menos uma dose da vacina.

Alto risco

Chrystina Barros, especialista em saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse temer que a queda nos casos leve as pessoas a se tornarem complacentes com o uso das máscaras, e descuidadas ao evitar multidões enquanto a pandemia continua uma ameaça. “Há um sério risco de colocar a própria eficácia da vacina em risco”, disse. “A desaceleração da pandemia não pode estimular as pessoas a relaxarem em relação à crise.”

Jairo Méndez Rico, um especialista em doenças virais que assessora a Organização Mundial da Saúde (OMS), sustenta que a variante delta está demorando para ganhar força na América do Sul porque muitos na região têm imunidade natural por terem contraído o vírus. No entanto, ele disse que a nova cepa ainda pode provocar novos surtos. / NYT, TRADUÇÃO THAÍS FERRAZ e LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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