Sob críticas, Câmara da França aprova projeto para combater jihadismo

Para Macron, texto reafirma os ideais republicanos do país, mas oposição diz que matéria estigmatiza os muçulmanos

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

PARIS - Os deputados franceses aprovaram em primeira votação, nesta terça-feira, 16, um polêmico projeto de lei do presidente Emmanuel Macron que, segundo ele, reafirma os princípios republicanos e combate o islamismo radical. O país é atormentado por ataques jihadistas desde 2015.

O presidente da França, EmmanuelMacron Foto: Christian Hartmann/Reuters (20/2/2020)

PUBLICIDADE

O texto, que pretende reforçar o arsenal legislativo para combater extremistas islâmicos, passou com 347 votos a favor, 151 contra e 65 abstenções.

A leiconsidera o separatismo um crime, fortalece o controle das associações e do financiamento de locais de culto, estabelece uma autorização prévia para o ensino em casa e prevê medidas de combate às ameaças disseminadas na internet.  Segundo críticos, a legislação estigmatiza os muçulmanos.

"É uma ofensiva laica extremamente forte", disse o ministro do Interior, Gérald Darmanin, à rádio RTL nesta terça-feira, 16. "É um texto duro, mas necessário para a República", acrescentou.

Publicidade

Esta lei, uma das últimas grandes iniciativas de Macron antes das eleições presidenciais de 2022, é uma resposta aos ataques jihadistas na França, que começaram com a ofensiva sangrenta contra a revista satírica Charlie Hebdo em janeiro de 2015 e que não pararam desde então. 

Só no final do ano passado, três ataques de extremistas aconteceram na França: duas pessoas foram feridas em frente à antiga sede do Charlie Hebdo em Paris; um professor de história foi decapitado por mostrar a seus alunos charges do profeta Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão; e três pessoas foram mortas na basílica de Notre Dame de Nice (sudeste).

Macron afirmou que quer lutar contra o "islamismo radical", esta "ideologia que afirma que as suas próprias leis são superiores às da República" e às vezes tenta "derramar sangue".

No entanto, nega que seja uma guerra contra o Islã ou qualquer outra religião. "O que estamos fazendo na França é combater o terrorismo que é feito em nome do Islã, não o Islã", explicou em uma entrevista à Al-Jazeera em outubro.

Publicidade

Entre as principais medidas do projeto está um melhor controle de associações e locais de culto, bem como maior proteção para líderes moderados que correm o risco de serem derrubados por um "golpe" extremista.

Para receber subvenções, as associações terão de se comprometer a "respeitar os valores e princípios da República" e o financiamento e gestão dos locais de culto serão melhor regulamentados. 

O texto também propõe critérios mais rígidos para autorizar o ensino domiciliar para crianças com mais de três anos de idade, a fim de evitar que os pais retirem seus filhos das escolas públicas e os matriculem em estruturas islâmicas clandestinas.

Os médicos, por sua vez, seriam multados em15 mil euros (cerca de R$ 97 mil) e um ano de prisão se emitirem certificados de virgindade e os controles serão reforçados para prevenir casamentos forçados e poligamia.

Publicidade

Após o assassinato do professor Samuel Paty em outubro, um ataque covarde que abalou a França e o mundo, os crimes específicos de incitação ao ódio online e divulgação de informações pessoais na internet foram incluídos no projeto com punição de três anos de prisão e multa de 45 mil euros (R$ 292 mil)

Manifestantes participaram de ato na Praça da República, em Paris, em homenagem ao professor Samuel Paty, decapitado na sexta-feira, 16. Foto: Bertrand Guay/ AFP

Para a esquerda francesa, o texto estigmatiza os muçulmanos. "É uma lei inútil e, além disso, perigosa, porque ameaça as liberdades", estima o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon. 

Cerca de 200 pessoas protestaram em Paris no domingo, 14, contra o projeto, que acusaram de "reforçar a discriminação contra os muçulmanos".

No campo da direita, o líder do grupo parlamentar Os Republicanos, Damien Abad, disse que o texto ignora questões essenciais como a radicalização nas prisões e a migração. / AFP

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.