Sobrevivente de Auschwitz ensina jovens sobre Holocausto pelo TikTok aos 84 anos

Com ajuda do neto de 17 anos, Tova Friedman responde jovens que perguntam a ela sobre realidade dos campos de concentração

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Por Marisa Iati
Atualização:

Usuários do TikTok com frequência inundam o perfil de Tova Friedman com perguntas inquiridoras: Por que ela não tentou escapar de Auschwitz? Ela ouvia pessoas gritando nas câmaras de gás? Alguma vez ela quase morreu mas conseguiu uma segunda chance?

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Com a ajuda de seu neto de 17 anos, Tova, de 84 anos, tenta transmitir a sombria realidade de Auschwitz, um campo de extermínio nazista na Polônia, ao mesmo tempo que tenta evitar termos explícitos que possam assustar seus jovens espectadores.

“Eu não quero deixá-los nauseados, então tenho de ser um pouco cuidadosa sobre a maneira de relatar”, afirmou Tova. “Eu sou muito cuidadosa com o vocabulário que escolho.”

Cerca de 500 mil pessoas assinam a conta de Tova no TikTok, segundo noticiou primeiramente o NorthJersey.com, desde que ela e seu neto Aron Goodman lançaram a página no outono de 2021. Eles afirmam que estão tentando combater negacionismo do Holocausto e desinformação compartilhando a experiência de vida de Tova — garantindo que a verdade persevere apesar das posições antissemitas amplamente disseminadas nos EUA.

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“Eu tenho a obrigação terrível de falar”, disse Tova em entrevista. “Não sinto culpa de sobrevivente, sinto uma obrigação de sobrevivente — de falar para recordar.”

Tova Friedman, de 84 anos, exibe marca feita pelos nazistas para identificá-la no campo de concentração de Auschwitz, em imagem do dia 13. Idosa fala sobre o Holocausto para jovens pelo TikTok Foto: Ted Shaffrey/Associated Press

Nascida na Polônia na iminência da 2.ª Guerra, Tova foi primeiro forçada pelos nazistas a viver em um gueto judaico, depois foi mandada para Auschwitz. Aos 6 anos, ela foi retirada de uma câmara de gás por razões que nunca soube. Certa vez, ela se fingiu de morta ao lado de um corpo que ainda não havia esfriado para fugir de nazistas que reuniam prisioneiros para uma marcha da morte, de acordo com suas memórias, e por fim ganhou a liberdade com a libertação de Auschwitz, em 1945.

Na maioria de seus vídeos no TikTok, Tova aparece sentada em um sofá na casa de Aron, em Morristown, Nova Jersey, e fala olhando diretamente para a câmera. Ela também convida seus espectadores para vários outros eventos, incluindo uma gravação em um estúdio de rádio e uma volta por uma parada pró-Israel.

Um post mostra Tova arregaçando a manga de sua camisa, e a câmera fecha em close-up sobre a tatuagem, em seu antebraço, de seu número de identificação em Auschwitz: A-27633. Em outro vídeo, Tova exibe o cartão da Cruz Vermelha que usou como passaporte para viajar depois que o Holocausto acabou.

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Até pouco tempo atrás, o TikTok era em ambiente totalmente desconhecido para Tova, que inicialmente achava que Aron dizia “Tic Tac”. Aron disse que recentemente teve de explicar para a avó por que eles não podem editar um vídeo ao vivo da mesma maneira que fazem com outros posts.

Mas Tova disse que seu neto tornou a adaptação à plataforma quase indolor. Ele dirige a avó para aproveitar ao máximo a curta duração dos vídeos e edita os posts depois. Quando ela não se sente confortável durante as gravações, eles param.

Aron também protege Tova dos comentários antissemitas que seu perfil recebe certas vezes — e disse que tenta não se preocupar muito com isso. Ainda que grande parte do conteúdo do TikTok seja positivo, extremistas antissemitas às vezes cooptam a plataforma para disseminar conteúdo de ódio e teorias conspiratórias, de acordo com a Liga Antidifamação.

“Isso me estimula a continuar o trabalho”, afirmou Aron. “Acho que o mais importante é o impacto positivo das nossas ações”, incluindo uma professora da Índia que quis usar alguns materiais do perfil de TikTok em sua aula.

Aaron afirmou que também aprendeu pouco sobre o Holocausto na escola. Ainda que vídeos no TikTok não sejam capazes de substituir aulas para todos os estudantes em todas as instituições de ensino, Aron disse esperar que seu perfil inspire os jovens a aprender mais por conta própria. Tova, que trabalha como terapeuta, também dá palestras com frequência para estudantes e outros grupos.

Ela disse que faz isso para que as pessoas entendam os perigos do ódio desenfreado. “É um alerta para sermos cautelosos com o ódio que sentimos de alguém ou alguma coisa”, afirmou Tova. “Não há problema em sentir antipatia. (…) Mas agir a partir disso é totalmente diferente.”

Enquanto Aron e Tova tentam expandir seu conteúdo para o Instagram e outras plataformas, eles ainda estão decidindo o futuro do perfil “TovaTok”. Aron vai se mudar no próximo outono de Nova Jersey para St. Louis, onde cursará faculdade, e não está certo sobre o que isso significará para o projeto. Ele disse que poderá expandir o perfil incluindo entrevistas com outros sobreviventes do Holocausto ou gravando vídeos de sua avó por FaceTime.

Tova, de sua parte, não está disposta a abandonar sua página no TikTok. “Eu quero falar o quando puder e alcançar o máximo de pessoas possível enquanto estiver viva”, afirmou ela. /WASHINGTON POST, TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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