O The New York Times procurou pensadores, líderes políticos e especialistas para obter suas visões sobre o que poderia ser feito pelo futuro do Oriente Médio
Do dia 25, até a quarta-feira, 27, o Estadão republica 10 artigos que refletem sobre o futuro da relação entre palestinos e israelenses - e o que pode ser feito para chegar à paz. Serão em média três textos por dia, com publicação pela manhã, à tarde e à noite.
THE NEW YORK TIMES - As perspectivas de governança em Gaza depois que Israel encerrar seu ataque são sombrias. A Autoridade Palestina não gostaria de ser vista como alguém que está fazendo o trabalho de segurança de Israel e, de qualquer forma, é quase certo que seria rejeitada pelos habitantes de Gaza. A liderança palestina, juntamente com os Estados Unidos e a Europa, não aceitará a reocupação israelense do enclave.
Mas há outra opção: uma presença transitória liderada pela ONU em Gaza. A Alemanha recentemente lançou a ideia em um documento não oficial, sugerindo que as Nações Unidas deveriam assumir o controle de Gaza após o término das operações de Israel. Embora o secretário-geral da ONU, António Guterres, tenha dito que um protetorado da ONU não é a solução para Gaza, ele também afirmou que a comunidade internacional “precisa entrar em um período de transição”.
A noção de uma presença administrativa da ONU em Gaza não é nova. Em 2014, Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, solicitou que as Nações Unidas colocassem Gaza e a Cisjordânia sob proteção internacional; a ONU realizou uma análise, mas não tomou nenhuma medida. Talvez seja hora de voltar a pensar seriamente em uma missão especial da ONU em Gaza.
Parece improvável que as Nações Unidas sejam solicitadas a enviar uma nova força de manutenção da paz, mas elas poderiam apoiar uma coalizão de vizinhos árabes dispostos a desempenhar um papel de segurança transitório. A chave seria envolver atores que tanto israelenses quanto palestinos vejam como garantidores de sua segurança. Ter as Nações Unidas no comando de uma coalizão poderia funcionar, embora Israel possa não gostar disso.
Outra opção seria redirecionar ou expandir os recursos da ONU no local, possivelmente como um complemento às forças que seriam fornecidas pelos países vizinhos. Antes da guerra, a United Nations Relief and Works Agency (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos) empregava 13.000 pessoas em Gaza, que ajudavam a fornecer ajuda direta, educação, assistência médica e serviços sociais aos residentes de Gaza. Israel e seus defensores já estão criticando a agência, o que pode complicar qualquer papel futuro. Mas, dada a escala dos esforços de recuperação necessários e a proximidade da agência, essas funções poderiam ser expandidas e fortalecidas em uma base provisória após a guerra.
Como alternativa, o escritório principal do coordenador especial da ONU para a paz no Oriente Médio em Jerusalém poderia supervisionar ou apoiar um período de transição. Uma hipótese remota poderia ser um papel para a Organização de Supervisão de Trégua das Nações Unidas, que mantém observadores militares na região desde 1948 para evitar uma escalada entre Israel e seus vizinhos. A vantagem de trabalhar com as missões existentes é que elas estão lá; a desvantagem é que elas não foram criadas para essa tarefa.
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Uma lição fundamental das operações anteriores da ONU é que será necessário ter uma estratégia clara de saída. Em Gaza, isso será um desafio, provavelmente exigindo um processo de reconciliação palestina e eleições que evitem lançar as bases para o Hamas 2.0. Mesmo que um novo governo viável seja eleito, o que poderá acontecer com os tecnocratas que trabalharam no governo de Gaza, mas que não são leais ao Hamas? Algo como o processo de limpeza do partido Baath do Iraque - que despojou o Iraque de quase todas as suas capacidades administrativas em nome da eliminação da influência de Saddam Hussein - não deve ser repetido.
Uma missão de transição liderada pela ONU em Gaza pode parecer improvável. Mas, em meio à falta de soluções prováveis, à crescente perda de vidas em Gaza e à falta de clareza sobre como seria a vitória para Israel, essa pode ser a melhor esperança que temos.
*Emma Bapt é pesquisadora visitante do Centro de Pesquisa de Políticas da Universidade das Nações Unidas. Adam Day dirige o escritório do centro em Genebra e trabalhou para as Nações Unidas no Líbano.
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