Som de batida, comissário ferido e orações: os segundos antes da queda do avião no Cazaquistão

Dois comissários de bordo e um passageiro relataram os momentos antes do avião da Embraer operado pela Azerbaijan Airlines, que carregava 67 pessoas, cair nas margens do Mar Cáspio, matando 38 pessoas

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Por Ivan Nechepurenko (The New York Times) e Milana Mazaeva (The New York Times)

Em um primeiro momento, houve um estranho barulho de batidas do lado de fora do avião. Depois, enquanto um comissário de bordo estava em pé na cabine, algo atingiu seu braço, cortando-o. Os passageiros, sentindo que algo estava terrivelmente errado, ficaram em pânico. Alguns começaram a rezar.

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Um passageiro recordou ter pensado que seria a última oração da sua vida. Depois, silêncio.

A cena caótica a bordo do voo 8243 da Azerbaijan Airlines Flight 8243 foi descrita por dois comissários de bordo — Zulfugar Asadov e Aydan Rahimli — e um passageiro, Subhonkul Rakhimov, em entrevistas para o The New York Times nesta sexta-feira, 27, com uma emissora de TV do Azerbaijão.

Eles estavam entre os 29 sobreviventes do avião que caiu na quarta-feira com 67 pessoas a bordo de Baku, Azerbaijão, a caminho de Grozny, Rússia, e provocou bola de fumaça preta e chamas laranja nas margens do Mar Cáspio, no Cazaquistão. O piloto estava entre os que não sobreviveram.

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Destroços do Embraer 190 da Azerbaijan Airlines no solo perto do aeroporto de Aktau, Cazaquistão Foto: Administração da região de Mangystau via AP

Autoridades de três países — Azerbaijão, Cazaquistão e Rússia — abriram investigações sobre a causa do acidente.

De sua cama de hospital em Baku, relembrando o terror do voo, Asadov, um dos comissários, disse em uma entrevista por telefone: “graças a Deus estou vivo”.

Ele e outros sobreviveram disseram que o avião teve problemas perto de Grozny. A aeronave, um Embraer 190, já havia feito três tentativas de pouso na cidade, na república russa da Chechênia, de acordo com Asadov. E então começou a agir de forma esquisita.

Dados recebidos do avião mostraram que sua velocidade vertical oscilou mais de 100 vezes durante os últimos 74 minutos de voo, de acordo com o Flightradar24.

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Depois de ouvir o som peculiar vindo da fuselagem externa do avião e seu braço ter sido cortado — pelo que ele não sabe o que foi — Asadov disse que ele pegou uma toalha e o enfaixou seu braço firmemente.

Aydan, a outra comissária que sobreviveu, ajudou Asadov a tratar seu braço, ele contou. Ela disse à rede de televisão azerbaijana Xezer Xeber que ouviu dois estrondos do lado de fora do avião e que fragmentos penetraram na cabine.

Nesta sexta-feira, 27, a Azerbaijan Airlines disse que os resultados preliminares da investigação do Azerbaijão mostraram que o avião havia sofrido “interferência externa física e técnica”.

Embora as agências de inteligência dos Estados Unidos ainda não tenham informações definitivas, autoridades americanas disseram que existem indícios preliminares de que o avião foi abatido por um sistema antiaéreo russo, provavelmente um míssil terra-ar.

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Chocados com o impacto no avião, alguns passageiros se levantaram em pânico, disseram testemunhas.

Rakhimov, o passageiro, disse em uma entrevista à agência Reuters de um hospital em Baku que ele também ouviu um estrondo. Depois que ele viu que a fuselagem do avião estava danificada, ele disse que esperava que a aeronave colapsasse. Ele começou a rezar. “Eu achei que era a minha última oração”, disse.

Milagrosamente, o avião seguiu voando.

Aydan e Asadov estavam sentados na parte de trás do avião, eles contam, falando com outros comissários de bordo pelo telefone. Então, o avião caiu.

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Rakhimov, descrevendo o impacto, disse que ele foi atingido e seu corpo se torceu repetidamente. De repente, houve silêncio, ele disse, até que as pessoas ao redor dele começaram a gemer, presumivelmente com dor devido aos ferimentos.

“Eu percebi que nós estávamos no chão”, disse. “Eu não sabia o que fazer — se ria ou chorava.”

Nesta sexta-feira, a Azerbaijan Airlines disse que havia suspendido voos regulares para oito cidades russas. A empresa também interrompeu voos para Makhachkala, no vizinho Daguestão.

Investigadores do Azerbaijão, Cazaquistão e Rússia estão investigando o acidente. No Azerbaijão, os investigadores disseram que acreditam que um sistema de defesa aérea russo Pantsir-S1 danificou o avião, de acordo com duas pessoas em Baku que foram informadas sobre o inquérito e falaram sob condição de anonimato.

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Em um comunicado, a Rosaviatsia, agência de aviação russa, disse que ofereceu cooperação total na investigação.

A filha de Asadov, Konul, disse em uma entrevista por telefone que soube da tragédia quando o marido dela a ligou e disse para voltar do trabalho. “Ele me disse: ‘Não se preocupe, seu pai está vivo, mas o avião em que ele estava caiu’”, ela conta. Sua mãe já estava ciente do que tinha acontecido, e na casa de Asadov, seu filho e vizinhos já estavam reunidos.

Passageiro ferido é transportado de um avião médico no Aeroporto Internacional Heydar Aliyev, nos arredores de Baku, Azerbaijão. Foto: AP

Ela disse que começou a assistir vídeos do acidente na internet e não conseguia acreditar que alguém pudesse ter sobrevivido à queda. Ela só conseguiu falar com o pai no dia seguinte ao desastre.

“Quando ouvi a voz dele”, ela conta, “pensei que estava sendo enganada, que ele não poderia ter sobrevivido a algo assim, que alguém estava fingindo sua voz para me confortar”.

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Quando ela e sua família chegaram ao hospital, parentes de Aydan, a outra comissária de bordo que sobreviveu e prestou os primeiros socorros ao pai dela no avião, também estavam lá.

A filha de Asadov disse que ela e sua família nunca se acostumaram com o trabalho do pai. “Eu ligo para ele toda vez antes do voo se o tempo estiver ruim, e depois do voo eu ligo para minha mãe e pergunto se ela falou com ele”, ela disse.

No dia em que o avião caiu, ela disse que não ligou para o pai porque o tempo estava bom em Baku, e ela não pensou no fato de que o clima poderia ser ruim onde ele estava voando.

Depois da queda, Rakhimov disse que teve sorte: ele estava sentado na parte de trás do avião. A parte da frente da aeronave recebeu a maior parte do impacto, mas a parte da cauda foi cortada, mostram vídeos e imagens do acidente.

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Quanto à Aydan, ela disse na entrevista para a TV: “Abri meus olhos e vi trabalhadores. Eu perguntei onde eu estava, e eles disseram que estávamos em Aktau”, a cidade no Cazaquistão.

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