Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, disse no ano passado que seu maior medo era estar em um submersível durante uma das expedições da sua empresa explorando os destroços do Titanic e se deparar com “coisas que o impediriam de conseguir voltar para a superfície”.
Meses antes de estar entre as cinco pessoas a bordo de um submersível desaparecido por dias no Atlântico Norte, Rush disse ao programa “CBS Sunday Morning”, em dezembro, que ele não achava que mergulhar em um submersível era “tão perigoso assim”. Mas quando questionado pelo apresentador da CBS News David Pogue sobre os perigos existentes a 4 mil metros abaixo da superfície do mar, Rush disse que ele temia que o navio não fazer seu caminho de volta à superfície por uma variedade de razões.
“O que mais me preocupa são coisas que iriam me impedir de ter capacidade para voltar à superfície”, afirmou. “Saliências, rede de pescas, riscos de emaranhamento. E isso é apenas uma técnica, uma técnica de pilotagem. É muito claro, se for uma saliência, não passe por baixo dela. Se é uma rede, não vá perto dela. Desse jeito, você pode evitar isso se você está de vagar e constante”.
Na mesma entrevista, Rush, o cofundador da empresa privada de turismo e pesquisa que já conduziu mais de uma dezena de expedições abaixo d’água desde 2010, disse que, embora as medidas de segurança apropriadas estavam sendo tomadas pela OceanGate, “havia um limite” para a suas preocupações sobre segurança. “Eu quero dizer, se você apenas quer permanecer seguro, não saia da sua cama”, disse. “Não entre no seu carro, não faça nada. Em algum momento, você vai assumir algum risco, e realmente é uma questão de risco-recompensa. Eu acredito que posso fazer isso com a mesma segurança quebrando regras.”
A entrevista ganhou maior repercussão à medida em que as buscas pela embarcação da OceanGate chegavam em seu quarto dia, na quarta-feira, 21, com uma equipe de resgate lutando contra o tempo pelo suprimento de oxigênio ser estimado até esta quinta-feira, 22, de acordo com a Guarda Costeira dos Estados Unidos.
A busca não produziu nenhum resultado positivo na manhã de quarta-feira, mas o Primeiro Distrito da Guarda Costeira informou que uma aeronave canadense P-3 detectou ruídos subaquáticos na área onde as equipes procuram o submersível Titan e as operações foram redirecionadas para lá.
Empresa é criticada pela falta de segurança
Rush, de 62 anos, está dentro do submarino acompanhado pelo empresário britânico Hamish Harding, 58, pelo empresário britânico-paquistanês Shahzada Dawood, de 48 anos, e seu filho, Suleman, de 19, e pelo comandante aposentado da marinha francesa Paul-Henri Nargeolet, 77. À medida que a busca continua, a supervisão das medidas de segurança da OceanGate foi questionada devido a uma ação judicial de 2018 movida por um ex-funcionário que alegou que a empresa não fez o suficiente para abordar o “controle de qualidade e questões de segurança relacionadas ao Titan”.
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David Lochridge, ex-diretor de operações marítimas da empresa, disse em uma denúncia obtida pelo The Washington Post que a OceanGate se recusou a pagar um fabricante para construir uma janela de visualização que atendesse à profundidade exigida de 4.000 metros. Lochridge, cujo processo acabou sendo encerrado, também disse na denúncia que os passageiros pagantes não saberiam ou não seriam informados de que “materiais inflamáveis perigosos estavam sendo usados dentro do submersível”.
Em dezembro, Rush falou com a CBS sobre as expedições de oito dias da OceanGate para ver os destroços do Titanic – uma viagem única que custa US$ 250 mil para cada passageiro. O CEO disse a Pogue que queria ser astronauta quando crescesse, até ter uma epifania que pudesse explorar em outro lugar. “Eu queria ser uma espécie de capitão Kirk”, disse ele, em referência ao personagem de “Jornada nas Estrelas”. “Eu não queria ser o passageiro na parte de trás. E percebi que o oceano é o universo. É aí que está a vida.”
A certa altura, o correspondente da CBS descreveu o submersível como sendo do tamanho de uma minivan. O jornalista também observou a Rush que os elementos do submersível apresentavam o que ele chamou de “jerryriggedness”, que ele comparou a algo que as pessoas veriam em “MacGyver”, o personagem fictício da televisão conhecido por suas habilidades de engenharia pouco ortodoxas.
Rush não concordou com essa avaliação, dizendo que a empresa trabalhou com a Boeing, a Nasa e a Universidade de Washington para garantir que o vaso de pressão, o tubo de fibra de carbono que ajuda a manter os passageiros vivos a bordo, estivesse de acordo com os padrões. Contanto que o vaso de pressão não falhe, Rush disse que “todo o resto pode falhar” e o submersível ainda estaria em boa forma. “Seus propulsores podem ir. Suas luzes podem ir. Todas essas coisas podem falhar. Você ainda estará seguro. E assim, isso permite que você faça o que chama de coisa do MacGyver”, disse ele à CBS.
“Você só precisa ter muito cuidado para que o sistema de suporte à vida, o próprio submarino, o sistema de oxigênio, a limpeza de dióxido de carbono, todas essas coisas precisem ser abotoadas.” Rush reconheceu seu medo de que o submersível não consiga voltar à superfície, mas argumentou que “nem mesmo houve um ferimento grave, muito menos uma fatalidade” na atividade submersível por décadas.
Pogue, que partiu em uma expedição no verão passado para a história que correu em dezembro, twittou na terça-feira que notou “muitas bandeiras vermelhas” durante seu tempo na viagem, e é por isso que ele desafiou Rush sobre a segurança e a construção do submersível. Quando eles estavam a bordo do Titan, Rush deixou uma mensagem para Pogue e os telespectadores em casa assistindo seu submersível mergulhar fundo na água: “Agora somos as cinco pessoas mais seguras do planeta”./Washington Post.
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