PEQUIM - Todos os olhos estão voltados para Xi Jinping no 20.º Congresso do Partido Comunista da China. Salvo uma grande surpresa, o líder chinês mais poderoso em décadas estenderá seu tempo na presidência, desfazendo o acordo tácito anterior de cumprir dois mandatos de cinco anos.
Com a autoridade nas mãos de um único homem, é fácil esquecer os 2.295 delegados restantes presentes no conclave em Pequim. Mas é entre eles que os especialistas procuram pistas sobre quanto poder Xi tem – e por quanto tempo ele pode mantê-lo.
O foco principal será o Comitê Permanente do Politburo, o órgão de sete membros no topo do poder decisório. Se Xi for capaz de encher o comitê com aliados, haverá poucos sinais de controle do seu poder.
A rotatividade no topo do partido já havia sido incentivada por um limite de idade informal conhecido como “sete para cima, oito para baixo”, pelo qual funcionários com 67 anos de idade ou menos assumem novos cargos, enquanto os de 68 anos ou mais se aposentam. Aderir a essa regra cria dois novos espaços para Xi preencher com aliados.
Mas essa norma pode não valer mais. Xi, de 69 anos, ignorou a regra para si mesmo – e também pode fazê-lo para promover aliados ao Politburo. “Não tem mais a ver com idade. Agora, é saber se você está do lado de Xi ou não”, disse Yang Zhang, sociólogo da Escola de Relações Internacional da American University.
Um indicador do poder de Xi será se membros extras do atual comitê forem empurrados para a aposentadoria antecipada, com maior atenção para o primeiro-ministro, Li Keqiang, que aos 67 anos não atingiu o limite de idade.
A outra grande questão é se um sucessor emergirá da remodelação. Antes de Xi, um caminho para futuros líderes começou a se formar, onde um herdeiro aparente assumia uma posição no Comitê Permanente e a vice-presidência cinco anos antes de serem nomeados para o cargo principal. Tanto Xi quanto seu antecessor, Hu Jintao, surgiram assim.
Mas esse precedente também foi quebrado quando nenhum funcionário jovem o suficiente para cumprir três mandatos chegou ao Comitê Permanente do Politburo, em 2017. Analistas não acreditam em um sucessor ungido este ano, já que a extensão do governo de Xi poderia ignorar a geração que dominará os 370 membros do Comitê Central (o órgão abaixo do Politburo) nos próximos 10 anos.
“É do interesse de todos não mencionar a questão da sucessão”, disse Zhang. “Mesmo que os políticos nascidos na década de 60 cheguem ao Comitê Permanente do Politburo, eles serão apenas tecnocratas de Xi.” É mais provável que o eventual sucessor seja da geração dos anos 70. “Mas essa safra de líderes ainda é muito jovem e inexperiente para que um favorito claro seja selecionado neste momento.”
A era Xi
Mesmo que nenhum deles encabece o partido, os funcionários nascidos no anos 50 e 60 são os que implementarão, interpretarão e desafiarão a agenda política de Xi enquanto ele avança com planos ambiciosos para combater a desigualdade e os males sociais, ao mesmo tempo em que assegura a posição do país como potência militar, econômica e tecnológica.
No momento, quatro nomes se sobressaem como possíveis sucessores de Xi. Hu Chunhua, de 59 anos, funcionário mais jovem a chegar ao Politburo; Chen Min’er, de 62, secretário do partido em Chongqing; Ding Xuexian, de 60, uma espécie de chefe de gabinete de Xi; e Li Qiang, de 63, chefe do partido em Xangai.
Mas eles estão longe de serem os únicos funcionários de olho em uma posição no topo do poder. Para o Comitê Permanente do Politburo, outros candidatos incluem o chefe de propaganda Huang Kunming e os chefes do partido de Pequim, Cai Qi, de Tianjin, Li Hongzhong, e de Guangdong, Li Xi.
Além dos principais cargos, ainda mais mudanças ocorrerão. Cerca de metade dos 25 membros do Politburo serão substituídos e dois terços dos cargos no Comitê Central poderão trocar de mãos.
Diplomacia
De particular interesse para os EUA é quem substituirá Liu He, importante consultor econômico que tem sido o principal ponto de contato nas negociações comerciais. He Lifeng, chefe da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, órgão de planejamento econômico, é um provável candidato, dada sua experiência no governo em comércio e investimento internacional.
Analistas também debatem se a China nomeará um novo chanceler para substituir Wang Yi, de 69 anos. Alguns argumentam que é provável que Wang permaneça como um membro influente do Politburo, mesmo que se afaste do cargo.
Seu substituto, se houver, provavelmente se inclinará para a política externa assertiva da China sob Xi. Uma opção é Liu Jieyi, atual chefe do Escritório de Assuntos de Taiwan, a instituição responsável por gerenciar o relacionamento cada vez mais tenso de Pequim com Taipei. Outro é o atual vice-ministro das Relações Exteriores Ma Zhaoxu, que recentemente ressaltou a necessidade de uma “luta diplomática” para proteger os interesses da China.
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