Os resultados das primárias democratas e republicanas desta Superterça ofereceram pistas importantes sobre os rumos da campanha presidencial dos Estados Unidos. Mas, segundo analistas, sua maior relevância decorre da confirmação de que Donald Trump possui o domínio total do Partido Republicano — um fato consolidado através dos milhões de eleitores que aproximaram hoje o ex-presidente da nomeação partidária às eleições gerais, que devem ocorrer em novembro.
Após garantir sua vitória em vários Estados, o ex-presidente avança hoje com maior força e a passos largos na corrida eleitoral, abalando as alianças dos seus críticos do próprio partido, que apostaram em Nikki Haley como uma alternativa plausível às políticas radicais de Trump.
Além disso, para o analista político Carlos Gustavo Poggio, as vitórias de Trump nesta Superterça também confirmam o que diversas pesquisas têm indicado: que o populismo do ex-presidente atrai, mais do que nos últimos anos, um eleitorado que em outros tempos identificava-se mais com o Partido Democrata.
Confira trechos da entrevista:
Qual é o impacto da Superterça na campanha pela presidência dos Estados Unidos?
A superterça é o primeiro ciclo de primárias que vários estados votam, e que, portanto, indicam quem que é o favorito de cada partido. Em 2016, do lado republicano, Trump levou a maioria dos estados na Superterça. Em 2020, Joe Biden levou a maioria dos estados na Superterça, e esses foram momentos que ajudaram a consolidar a campanha desses dois candidatos.
Nesse ciclo eleitoral, já está muito claro que Donald Trump é o franco favorito. Trump concorre como se fosse um incumbente, então é como se nós tivéssemos dois presidentes concorrendo. Portanto, sobra muito pouco espaço para a emoção nesse sentido. O que a gente tem nessa Superterça, na verdade, é apenas a confirmação do fato de que o Donald Trump tem domínio completo hoje do Partido Republicano.
Entre 2016 e 2024, Donald Trump conseguiu uma captura completa, uma transformação completa [do partido]. O Partido Republicano hoje é muito diferente daquele que era antes de 2016, e essa captura foi uma captura que veio de baixo para cima, por conta desse processo de primárias abertas em 2015 e 2016. E agora Trump está controlando não apenas a questão de ter o apoio de grande parte dos eleitores, mas controlando inclusive o próprio Partido Republicano, conseguindo endosso de muitos políticos, coisa que ele não conseguiu, por exemplo, em 2016.
Mesmo em Virginia e Massachusetts, que eram alguns estados que tinham alguma esperança para Nikki Haley, o Trump ficou muito à frente. Então o Trump tem, de fato, o entusiasmo dos eleitores e claramente está caminhando a passos largos [na campanha].
Com a derrota de Nikki Haley na maioria dos Estados, para onde podem ir os votos da candidata?
A gente vai ter que entender agora qual vai ser o discurso de Nikki Haley, se ela, de fato, vai abandonar [a campanha] ou vai esperar que seja matematicamente impossível a sua vitória.
Algumas primárias são abertas, ou seja, podem votar eleitores de qualquer partido. Outras primárias são fechadas, só podem votar eleitoras do Partido Republicano. Trump, tem o controle de cerca de 80% do Partido Republicano. Onde Nikki Haley conseguiu o apoio foi naqueles estados que permitem os votos de eleitores independentes, e até mesmo eleitores democratas. Então Nikki Haley tem o apoio desses eleitores que eventualmente estão cansados, que pelo menos não querem ver uma repetição da corrida de 2020, que querem uma alternativa tanto a Trump quanto a Biden.
Então é possível que uma parte dos votos de Haley vá, inclusive, para Joe Biden. 0utra parte (uma parte expressiva, claro) é de eleitores republicanos, que rejeitam Joe Biden, mas que achavam que a Nikki Haley era uma candidata melhor que o Biden, que tinha mais chances de ganhar de Biden nas eleições gerais, e esses voltam para o seu berço no partido republicano.
O que dizem os resultados das primárias sobre as chances de Donald Trump e Joe Biden na eleição geral de novembro?
O momento é positivo para Donald Trump. Trump tem mostrado força inclusive entre eleitores que eram tradicionais do partido democrata, como cidadãos hispânicos. Resultados como o que teve em Texas podem confirmar o que as pesquisas têm indicado, que Trump tem capturado parte desse eleitorado que outrora pertencia ou que era dado como certo para o Partido Democrata; notadamente me refiro a eleitores hispânicos, negros e jovens. A situação de Biden hoje é muito complicada. A minha impressão é que esta vai ser uma dessas eleições dos EUA em que vamos ter um número expressivo de votos para terceiros candidatos.
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