Fulgence Kayishema, um policial suspeito de planejar o assassinato de mais de 2 mil pessoas em uma igreja em Ruanda, em 1994, foi preso na África do Sul, na quarta-feira, 24. Ele estava foragido desde 2001, somando 22 anos de busca, e era considerado um dos suspeitos mais procurados do genocídio que marcou o país africano.
Kayishema é descrito como o organizador do assassinato de 2 mil tutsis (grupo étnico de Ruanda), entre homens, mulheres e crianças, que estavam refugiados em uma igreja católica, em 15 de abril de 1994, durante os primeiros dias do genocídio que durou três meses. Mais de 800 mil pessoas foram mortas no massacre, quando membros da etnia hutu se voltaram contra a minoria tutsis, massacrando-os e os hutus moderados que tentaram protegê-los.
A acusação afirma que ele, que ocupava o posto de inspetor de polícia na época, participou diretamente do planejamento e execução do massacre ao adquirir gasolina para incendiar a igreja com as pessoas presas dentro. Quando isso falhou, Kayishema e outros usaram uma escavadeira para derrubar a igreja, enterrando e matando os refugiados. Kayishema e outros então moveram os corpos do terreno da igreja para valas comuns durante dois dias, segundo a acusação.
O Mecanismo Residual Internacional para Tribunais Criminais (IRMCT, na sigla em inglês) disse que ele foi preso em um vinhedo em Paarl, uma pequena cidade em uma região vinícola a cerca de 30 milhas a leste da Cidade do Cabo. Kayishema, que se acredita ter cerca de 60 anos, assumiu uma identidade falsa e atendia pelo nome de Donatien Nibashumba, disse a polícia sul-africana.
Kayishema foi capturado em uma operação conjunta pela equipe de rastreamento de fugitivos do tribunal e autoridades sul-africanas, disse o tribunal, após uma investigação que o rastreou em vários países africanos, incluindo Moçambique e Eswatini (antiga Suazilândia), desde seu indiciamento em 2001.
Kayishema foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional da ONU para Ruanda e acusado de genocídio, cumplicidade em genocídio, conspiração para cometer genocídio e crimes contra a humanidade por assassinatos e outros crimes. Ele estava foragido desde então. Os Estados Unidos chegaram a oferecer uma recompensa de US$ 5 milhões por informações que levassem à prisão de Kayishema por meio de seu programa Rewards for Justice.
“Sua prisão dá aos sobreviventes esperança de que outros fugitivos ainda foragidos também sejam presos”, disse Naphtal Ahishakiye, secretário executivo da organização de sobreviventes do genocídio ruandês Ibuka. “Um crime de genocídio é grave demais para ficar impune.”
A polícia sul-africana disse que ele comparecerá a um tribunal na Cidade do Cabo na sexta-feira, 25, antes de provavelmente ser extraditado para Ruanda. O tribunal disse que já rastreou cinco suspeitos procurados no genocídio de Ruanda desde 2020 e ainda está procurando por mais três fugitivos./AFP
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