Taxistas param Paris em greve contra Uber

Motoristas de táxi franceses espalham violência virando carros, ateando fogo a barricadas e enfrentando a polícia em protesto contra aplicativo; veja imagens

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Por Andrei Netto CORRESPONDENTE e PARIS

PARIS - Uma greve de 2,8 mil taxistas contra a empresa americana de tecnologia e serviços em transporte Uber descambou para a violência, nesta quinta-feira, 25, em Paris. Depois de anunciarem o movimento de paralisação, motoristas de táxi fecharam os principais acessos da capital, causando congestionamentos. A seguir, saquearam e depredaram 70 veículos que seriam usados por condutores ligados ao Uber e atearam fogo em pneus e paus, formando barricadas. Sete policiais ficaram feridos e 10 pessoas acabaram presas. 

O protesto tinha como alvo a suposta concorrência desleal gerada por motoristas independentes que prestam serviços por meio do Uber - estima-se entre 2 mil e 6,5 mil motoristas. Os taxistas reclamam em especial da versão popular do aplicativo, o UberPop, que segundo sindicatos da categoria oferecem preços semelhantes ao serviço de táxi, mas sem ter de pagar impostos e a licença - que em Paris chega a custar € 335 mil. Dos 17,7 mil taxistas da região de Ile-de-France, apenas uma minoria decidiu aderir ao movimento de greve, mas o impacto foi marcante.

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Desde cedo, os acessos à Gare du Nord, a mais movimentada estação de trens da Europa, e aos aeroportos de Roissy-Charles De Gaulle e Orly foram interrompidos com o objetivo de chamar a atenção da opinião pública francesa. O epicentro das manifestações aconteceu em Porte Maillot, no norte de Paris, onde as cenas de violência levaram à intervenção de soldados da tropa de choque. Depois de bloquear o trânsito, grupos de motoristas desceram de seus carros e vagaram pelo anel rodoviário que circunda Paris, abordando veículos que eles julgavam integrar a frota do Uber.

Em uma das entradas da capital, um automóvel Mercedes-Benz foi cercado, aberto, saqueado e capotado pelos manifestantes. Outros foram depredados a pauladas e pedradas. Presa em meio aos congestionamentos e entre os manifestantes, a cantora americana Courtney Love Cobain, viúva de Curt Cobain, usou o Twitter para pedir socorro. "Eles emboscaram 

nosso carro e estão levando o motorista como refém. Estão batendo no carro com barras de metal. Isso é a França? Eu me sinto mais segura em Bagdá!", escreveu, dirigindo-se ao presidente do país. "François Hollande, onde diabos está a polícia?". 

No final da manhã, uma espessa nuvem de fumaça podia ser vista a quilômetros de distância de Porte Maillot, onde pichações exortavam a "Morte a Uber". Do outro lado da região metropolitana, em Orly, um motorista de Uber atropelou um taxista em uma barreira montada pelos grevistas, por medo de ser atacado. Ele foi interpelado e preso. Manifestações similares, com episódios pontuais de violência, também aconteceram em cidades como Lyon, Nice, Marselha, Bordeaux e Toulouse. Greves também aconteceram em Bruxelas, na Bélgica, e Madri, na Espanha.

Em comum, as manifestações tiveram a ira crescente dos taxistas, que já não se contentam mais em esperar por decisões de Justiça que proíbam o serviço, como aconteceu em Berlim, por exemplo. Os sindicatos da categoria reclamam a ausência de controle e de proteção social entre os motoristas do Uber, além de falta de segurança aos usuários do serviço,

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que não é regulamentado, nem paga os mesmos impostos que os motoristas profissionais. Para acalmar os manifestantes, a Direção de Polícia de Paris divulgou uma nota afirmando que o serviço UberPop já é proibido na França e que em 2015 um total de 384 processos judiciários foram abertos para punir motoristas.

Já o governo francês se dividiu entre o apoio às reivindicações dos sindicatos de taxistas - que por anos exerceram um lobby feroz para manter um número limitado de táxis na capital - e as críticas aos atos violentos. Falando de Bogotá, na Colômbia, o primeiro-ministro, Manuel Valls, advertiu os dois lados: "Os autores destas violências, que estão dos dois lados, devem ser e serão perseguidos".

Já o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, que recebeu a delegação intersindical, prometeu medidas rápidas para reprimir a atuação dos motoristas ligados ao UberPop. Por sua parte, o diretor-geral de Uber France, Thibaud Simphal, menosprezou a iniciativa dos órgãos de segurança. "Deixem que a Justiça faça o seu trabalho. Até aqui ela o fez e houve várias decisões favoráveis a Uber", lembrou. Em 2014, a empresa chegou a afirmar que estava engajada "em uma batalha política contra os taxistas".

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