Um forte terremoto de magnitude 7,8 foi sentido no sudeste da Turquia e no norte da Síria na manhã de segunda-feira, 6, derrubando centenas de prédios e matando mais de 9,5 mil pessoas. Equipes de resgate continuam a trabalhar nos dois lados da fronteira nesta terça-feira, 7, na tentativa de encontrar sobreviventes sobre os escombros que tomaram conta de cidades inteiras.
A tragédia aconteceu às 4h17 no horário local (22h10 no horário de Brasília). O epicentro foi próximo a Gaziantepe, cidade turca de aproximadamente 2 milhões de habitantes perto da fronteira com a Síria. O número de vítimas deve aumentar à medida que equipes de resgate vasculham montes de destroços em cidades e vilas da região.
Era esperada a chegada de ajuda internacional nos dois países nesta terça-feira, principalmente equipes para ajudar nos esforços de resgate. De acordo com a agência de gerenciamento de desastres da Turquia, mais de 24.400 equipes de emergência já trabalham no local, mas com uma faixa ampla de território atingida pelo terremoto, quase 6.000 edifícios desabaram somente na Turquia, dificultando o resgate.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, declarou estado de emergência nesta terça-feira, por um período de três meses, nas 10 províncias do sudeste do país afetadas pelo terremoto devastador que provocou milhares de mortes.“Decidimos declarar estado de emergência para assegurar que nosso trabalho [de resgate] possa acontecer de maneira rápida”, afirmou Erdogan.
Na Turquia, o número de mortos subiu para 7.434 mortos e 20.534 feridos, de acordo com o último boletim oficial divulgado pelo vice-presidente Fuat Oktay nesta terça-feira. Na Síria, pelo menos 1.872 pessoas morreram e 3.640 ficaram feridas, segundo estimativas das autoridades de Damasco e equipes de resgate em áreas rebeldes.
Com base e mapas da área afetada, a responsável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Adelheid Marschang, indicou que “23 milhões de pessoas estão expostas” às consequências do terremoto, “incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis”.
Agências de notícias relatam que edifícios desabaram em uma faixa de fronteira entre que se estende das cidades de Aleppo e Hama, na Síria, até Diyarbakir, na Turquia, a mais de 330 km a nordeste. Em vários momentos, bombeiros prosseguiram com os trabalhos de busca por sobreviventes durante a noite sem ferramentas, desafiando o frio, a chuva ou a neve, assim como o risco de novos desabamentos.
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As condições meteorológicas na região de Anatolia dificultam os trabalhos de resgate e prejudicam as perspectivas dos sobreviventes, que se aquecem em tendas ou em fogueiras improvisadas. “Infelizmente, ao mesmo tempo, também estamos enfrentando condições climáticas extremamente severas”, disse Oktay a repórteres.
Sebastien Gay, chefe da missão na Síria dos Médicos Sem Fronteiras, disse que as unidades de saúde no norte da Síria estavam sobrecarregadas com pessoal médico trabalhando “24 horas por dia para responder ao grande número de feridos”.
O epicentro do terremoto foi registrado na região entre as cidades de Gaziantepe e Kahramanmaras, a uma profundidade de 10 a 24 quilômetros, segundo os serviços geológicos dos EUA e da Alemanha, que monitoram fenômenos do tipo em todo o mundo.
Imagens publicadas nas redes sociais logo mostraram os primeiros efeitos do terremoto, com o desabamento de algumas construções. A transmissão da rede de TV estatal TRT mostrou moradores saindo às ruas sob neve para avaliar os estragos em alguns locais.
Também houve sismos secundários, cerca de dez minutos depois do primeiro, de magnitudes que chegaram a 6,7, segundo a agência Associated Press.
Autoridades de Diyarbakir afirmaram que 17 edifícios colapsaram e que há registro de pessoas presas nos escombros. Em Malatya foram mais de cem edifícios atingidos.
O ministro do Interior afirmou que a prioridade nesse momento é resgatar feridos. O serviço geológico americano alertou para o risco provável de um número grande de vítimas. Segundo testemunhas relataram à agência de notícias Reuters, o tremor durou cerca de um minuto. Relatos indicam que seus efeitos foram sentidos também em cidades de países próximos.
Erdogan tuitou para manifestar solidariedade às vítimas e destacar que os serviços de emergência e resgate foram acionados, para trabalhar em conjunto sob coordenação da Autoridade de Gerenciamento de Desastres e Emergências (AFAD, na sigla em turco), com apoio dos ministérios da Saúde e do Interior.
“Esperamos superar esse desastre juntos, o mais rápido possível e com o mínimo de danos”, escreveu.
Na Síria, o regime relatou desabamentos nas cidades de Aleppo e Hama. Na capital, Damasco, pessoas saíram às ruas com medo devido ao tremor —o mesmo ocorreu em Beitute, no Líbano. Cidades de Chipre e Israel também foram afetadas.
A região de Gaziantepe é um importante centro industrial da Turquia. Atravessado por grandes falhas geológicas, o país está entre os mais propensos a tremores do mundo. Em 1999, um sismo de magnitude 7,4 sacudiu a cidade de Izmit, no noroeste, causando mais de 17 mil mortes e deixando mais de 500 mil pessoas desabrigadas.
Em 2011, um tremor de 7,1 na província de Van matou mais de 600 pessoas. Em janeiro de 2020, 40 pessoas morreram durante um sismo de magnitude 6,8 na Província de Elazing. Meses depois, em novembro, novo episódio em Esmirna fez quase cem vítimas e provocou um minitsunami que inundou cidades próximas e causou danos severos na costa da Grécia.
A Turquia está sobre o encontro de duas placas tectônicas —uma espécie de bloco que flutua sobre o manto, uma das camadas no interior da Terra.
As placas podem se mexer, de forma divergente (movendo-se em direções contrárias), convergente (chocando-se uma contra a outra) e transformante (movendo-se lateralmente); os dois últimos movimentos costumam causar terremotos. /AFP, AP e NYT
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