Terremoto na Turquia: Como construções precárias e crise de refugiados agravaram a tragédia

Número de mortos já passa de 7 mil, com milhares de desaparecidos ainda sob os escombros e histórias dramáticas de sobreviventes da tragédia

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Por Redação
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Construções precárias e sem estrutura para resistir a tremores e um grande número de refugiados sírios vivendo em situação frágil aumentaram a letalidade do forte terremoto que abalou a Turquia e a Síria na segunda-feira, 6. O número de mortos já passa de 7 mil, com milhares de desaparecidos ainda sob os escombros e histórias dramáticas de sobreviventes da tragédia.

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A Turquia e o norte da Síria são regiões sismicamente turbulentas, sobre três placas tectônicas que se movimentam com frequência, mas os terremotos de 6 de fevereiro são os mais devastadores desde o de 1999, que matou 18.733 pessoas e o de maior magnitude desde 1939.

O terremoto destruiu milhares de edifícios em uma área que se estende desde a costa mediterrânea da Turquia até Diyarbakir, a quase 500 quilômetros de distância. O abalo foi sentido também no Líbano, Israel e na Jordânia.

Família enterra vítimas de terremoto que abalou a Turquia e a Síria em Alepo: refugiados estão entre os que mais sofrem com o tremor  Foto: Ghaith Alsayed / AP

Construções precárias

Especialistas dizem que os padrões de construção mal aplicados, em um país cuja economia há muito depende da construção para impulsionar o crescimento, pioraram a catástrofe. A Turquia introduziu no começo dos anos 2000 códigos exigindo que as novas construções fossem resistentes a terremotos, principalmente após o tremor em Izmit em 1999, mas eles têm sido frequentemente aplicados de maneira indulgente em um país onde mais da metade de todos os edifícios foram construídos ilegalmente.

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“O fator número um para esse grande número de vítimas é a qualidade da construção”, disse Ross Stein, chefe da empresa de modelagem de catástrofes Temblor, à revista Scientific American logo após o terremoto. “Isso supera todo o resto. A qualidade da construção é controlada por um código de construção e pela aplicação desse código.

A Turquia passou pelo terrível terremoto de Izmit em 1999 tinha códigos de construção modernos poucos anos depois daquele terremoto, mas as imagens mostram prédios inteiros que desabaram ao lado de outros que estão intactos”.

Imagens transmitidas por canais de notícias turcos mostraram fileiras de prédios e blocos de apartamentos em Kahramanmaras, uma cidade 70 quilômetros a nordeste de Gaziantep. Em Urfa, perto da fronteira com a Síria, um prédio de quatro andares aparentemente não danificado pelo terremoto desabou horas depois.

Henry Bang, geólogo e especialista em gerenciamento de desastres no Centro de Gerenciamento de Desastres da Universidade de Bournemouth, disse ao Guardian: “Alguns edifícios ficaram de pé, enquanto muitos prédios [de vários] andares desabaram como um baralho de cartas. Isso mostra que a maioria dos edifícios não tinha as características relevantes para fornecer estabilidade durante um terremoto”.

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“Aqueles cujas paredes desmoronaram são provavelmente edifícios muito antigos que foram construídos com materiais de construção relativamente mais fracos. Os edifícios mais altos que desabaram sem dúvida não foram construídos com características resistentes a tremores”, afirmou a Reuters Ian Main, professor de sismologia e física das rochas na Universidade de Edimburgo, concorda com essa visão. “Olhando para algumas das fotos dos prédios danificados, fica evidente que a maioria deles não foi projetada para resistir a terremotos muito fortes. Os blocos nas fotos sinalizam isso”.

‘Colapso da panqueca’

Segundo os especialistas, pelas imagens e vídeos é possível constatar que muitos dos prédios sofreram o chamado “colapso da panqueca”. “Isso acontece quando as paredes e pisos não estão bem amarrados, e cada andar desmorona verticalmente sobre o andar de baixo, deixando uma pilha de lajes de concreto com quase nenhum espaço entre elas. Isso significa que as chances de sobrevivência de quem está dentro são ínfimas”, afirmou ao Guardian Ian Main. “Deveria haver códigos sísmicos para impedir isso, mas eles não são suficientemente bem aplicados. Não é incomum ver um bloco em pé com poucos danos, e o próximo a ele – devido a construção duvidosa ou uso de materiais ruins – completamente achatado.”

Arquitetos e planejadores urbanos do país há muito alertam que os códigos de construção relacionados à atividade sísmica são insuficientemente aplicados e foram prejudicados por uma polêmica anistia para construção ilegal – introduzida pelo próprio governo – que rendeu à Turquia cerca de US$ 3 bilhões em receitas.

“Essa devastação extraordinária é perpetuada pela persistência em repetir políticas urbanas errôneas e decisões politicamente carregadas, como a lei de anistia de zoneamento de 2018″, disse a Reuters o professor Pelin Pinar Giritlioğlu, presidente da filial de Istambul da União das Câmaras de Engenheiros e Arquitetos Turcos.

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“Você pode ter arquitetos e engenheiros civis [dando suas próprias recomendações], mas a questão é se eles estão sendo ouvidos.

“E há uma dimensão política também. Quantos aspectos do desenvolvimento da cidade são resultado de negociações locais nos bastidores.”

Drama dos refugiados

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A maioria dos mortos no terremoto estava na Turquia, mas centenas vivam na fronteira com a vizinha Síria, no norte do país controlado pelos rebeldes. A região afetada dentro da Síria está dividida em uma área controlada pelo governo nacional, uma ocupada pela Turquia e outras mantidas por rebeldes. Nessa região, que teve quase 1500 mortos, a situação precária e o grande número de refugiados conribuiu para o alto número de mortes e prejudica os esforços de socorro.

O enclave, centrado na província de Idlib, abriga milhões de sírios deslocados que fugiram de suas casas durante a guerra civil no país. Muitos dos deslocados vivem em condições precárias em campos improvisados. Muitos outros lá e em áreas vizinhas controladas pelo governo estão alojados em prédios enfraquecidos por bombardeios anteriores, deixando-os ainda mais vulneráveis a choques de terremotos.

O terremoto causou danos totais ou parciais a edifícios em pelo menos 58 aldeias, vilas e cidades no noroeste da Síria, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

Os combates ainda acontecem de tempos em tempos com as forças sírias apoiadas pela Rússia nas proximidades. Partes do território são administradas por grupos rebeldes, incluindo uma facção militante ligada à Al-qaeda, enquanto outras partes estão sob uma administração apoiada pela Turquia conhecida como Governo Interino Sírio.

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Danos graves

“Este desastre vai piorar o sofrimento dos sírios que já lutam com uma grave crise humanitária”, disse Carsten Hansen, diretor para o Oriente Médio do Conselho Norueguês de Refugiados, em comunicado. “Milhões já foram forçados a fugir pela guerra na região mais ampla e agora muitos mais serão deslocados pelo desastre.”

O terremoto pode afetar 23 milhões de pessoas na região, advertiu a OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta terça-feira, 7. Na véspera, a organização afirmou que previa um balanço de óbitos próximo de 20 mil.

Segundo a diretora da entidade, Adelheid Marschang, do total de pessoas expostas, cinco milhões já estão em estado de vulnerabilidade. Trata-se do caso de refugiados da Guerra da Síria, por exemplo, e da população local que vive em áreas urbanas e rurais afetadas por mais de uma década de conflitos. / AP, AFP, NYT e W.POST

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