The Economist: as dificuldades em montar um arsenal para defender a democracia na Ucrânia

Produção de armamentos deverá aumentar, mas poderá ser vagarosa demais para conflitos futuros; e também para a Ucrânia

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Por The Economist

“Eu sou um técnico de bombas”, diz uma camiseta que cobre uma cadeira da Fábrica de Munição do Exército de Scranton, Pensilvânia. “Se me vir correndo, tente me acompanhar.” Na realidade, são os técnicos de bombas que estão em dificuldades para manter o ritmo, à medida que os Estados Unidos enviam enormes quantidades de munições para a Ucrânia usar na guerra com a Rússia. A fábrica em Scranton produz as cápsulas de aço dos projéteis M795 de 155 milímetros, usados em obuses; os EUA enviaram à Ucrânia mais de 1 milhão desses projéteis no ano passado. Mas essas quantidades prodigiosas de munição não são suficiente: os ucranianos estão disparando em um mês o que os americanos são capazes de produzir em um ano.

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O processo de fabricação de projéteis é um elemento importante. Cilindros espessos, de 6 metros de aço sólido, são inicialmente cortados em lingotes atarracados. Depois são aquecidos em uma fornalha a mais de 1.000ºC, esticados em cilindros mais compridos, resfriados e tornados ocos. Uma ponta vira o “nariz” em forma de cone — um processo que Rich Hansen, supervisor da fábrica do Exército, compara a arrancar o topo de uma lata de Coca-Cola e espremer o que sobrar na forma de uma ponta aguda deixando um único vinco. Qualquer imperfeição, nota ele, faria o projétil desviar do alvo.

Depois de pintados, os projéteis acabados são transportados em caminhões e trens para outra instalação do Exército, em Iowa, onde são recheados de explosivos. Ao todo, cerca de uma dúzia de componentes produzidos em diversos lugares entram em um projétil de obus pronto para o disparo. Galvanizar essa cadeia de fornecimento para produzir quantidades muito maiores de munições está se provando surpreendentemente difícil.

Munidos de um olhar distanciado

Como os generais, estrategistas militares sempre travam sua última guerra. As últimas guerras que o Ocidente travou foram contra o Iraque, o Taleban afegão e o Estado Islâmico. A primeira contra um poder militar mediano completamente superado em termos de tecnologias e táticas. As outras duas (incluindo os desdobramentos da segunda guerra no Iraque) foram contrainsurgências em larga escala, não guerras entre países com capacidades militares remotamente comparáveis e indústrias de defesa muito menores.

Um trabalhador prepara um projétil de artilharia de 155 mm Scranton Army Ammunition Plant, em Scranton Foto: Brendan McDermid/Reuters - 16/2/2023

Ao longo de pelo menos cinco anos, estrategistas militares mencionaram a crescente possibilidade de conflitos futuros contra uma Rússia revanchista, dentro da Europa, ou no Pacífico, contra uma China que tenta invadir Taiwan. Mas isso não se refletiu nem em formação de estoques de munições essenciais nem no investimento na capacidade industrial necessária para produzi-las no ritmo exigido por qualquer guerra que dure mais do que algumas semanas.

O conflito na Ucrânia tornou-se um lembrete desagradável de que guerras de alta intensidade, que o Ocidente de fato não experimentava desde 1945, consomem munições em ritmo extraordinário. Uma lição similar teve de ser aprendida na 1.ª Guerra, quando os franceses enfrentaram escassez de projéteis depois de apenas seis semanas, e os britânicos e os alemães, logo após. Essa crise de munições levou à queda do governo britânico em 1915. Conforme o historiador Hew Strachan observou, o que começou como um problema militar transformou-se rapidamente em problemas na indústria e na política.

Com as forças russas e ucranianas entrincheiradas, a guerra ao longo do inverno se assentou como um duelo de artilharia. Os ucranianos sabem que estão recebendo cerca de 20 mil projéteis e foguetes diariamente. Eles têm conseguido manter um fogo de barragem com 5 mil a 6 mil disparos na maioria dos dias — o que equivale à aquisição anual de países menores da Otan antes da guerra — mas a intensidade do conflito pode estar diminuindo à medida que ambos os lados buscam conservar munição.

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A Ucrânia, depois de gastar a maioria de seus projéteis de 152 milímetros e 122 milímetros usados em seus sistemas de artilharia da era soviética, depende hoje cada vez mais tanto dos projéteis de 155 milímetros quanto das armas para dispará-los. Mas os estoques mantidos por seus aliados ocidentais, que têm abastecido a Ucrânia até aqui, diminuem rapidamente. Os EUA começaram a enviar obuses de menor alcance, com projéteis de 105 milímetros, para compensar a escassez em calibres maiores.

A Ucrânia logo passará a depender do que as indústrias de armamentos dos EUA e da Europa forem capazes de produzir (além de alguns projéteis conseguidos pelos americanos com aliados na Ásia como a Coreia do Sul, que possui uma indústria de armamentos considerável, mas regulamentada por regras estritas de exportação). Atualmente, os EUA são capazes de fabricar aproximadamente 180 mil projéteis de 155 milímetros por ano, enquanto a Europa, de acordo com Bastian Giegerich, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um centro de análise, produziu cerca de 300 mil no ano passado. Somado, esse montante equivale aproximadamente ao que a Ucrânia consome em três meses na guerra.

Sinal disparado

Os sinais de alerta têm acendido há anos. Em 2011, durante uma campanha europeia de bombardeios contra a Líbia, países europeus esgotaram as bombas de precisão que possuíam em questão de semanas e tiveram de ser reabastecidos pelos EUA. Durante a campanha para expulsar o Estado Islâmico do Iraque e da Síria, os estoques americanos de bombas inteligentes baixaram de forma preocupante.

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Francis Tusa, editor da newsletter Defence Analysis, estima que os membros europeus da Otan provavelmente possuem apenas 10% do que seria necessário até nos estágios iniciais de uma guerra na Europa. Ele calcula que o custo de construir estoques na Alemanha para cobrir 30 dias de guerra de alta intensidade seria de € 20 bilhões (R$ 110 bilhões). O chanceler alemão, Olaf Scholz, prometeu gastar outros € 100 bilhões (R$ 552 bilhões) em defesa nos próximos anos, mas nada disso foi designado para a o reabastecimento dos estoques de munições.

Parte do problema é uma tendência presente tanto entre políticos quanto entre militares de priorizar a compra de “plataformas” — navios e aviões, por exemplo — em vez das munições que elas disparam. “É impossível comprar nove décimos de um navio”, afirma Eric Fanning, ex-autoridade do Pentágono que trabalha atualmente para o grupo de lobby Aerospace Industries Association, “mas você pode comprar nove décimos da quantidade de mísseis que precisa”. As munições, portanto, tornam-se “acertadoras de contas” nas aquisições de armas, explica Stacie Pettyjohn, do Centro para uma Nova Segurança Americana (CNAS), um instituto de análise.

Grandes empresas do setor de defesa americanas e europeias tendem a vender para um único comprador: o governo de seu país. “Quando eu entro numa loja de ferramentas, eu sempre posso comprar um martelo, porque há muitos clientes interessados. Mas na indústria da defesa, quando o governo para de comprar algum item, ele desaparece”, afirma Fanning.

Mesmo em relação a armas ainda em produção, os fabricantes regulam sua capacidade de acordo com o que esperam ser encomendado. “A base industrial de defesa dos EUA mira eficiência máxima em produção em tempos de paz”, afirma Jim Taiclet, diretor da Lockheed Martin, o maior conglomerado americano no setor de defesa. Isso significa de fato que as empresas normalmente têm capacidade de produzir munições apenas no ritmo necessário para substituir as que são gastas em treinamentos.

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Crescimento explosivo

Governos ocidentais e empresas do setor de defesa enfrentam dificuldades atualmente para aumentar sua produção. O esforço ecoa os dias iniciais da pandemia de covid-19, quando os países perceberam que não possuíam estoques reserva de trajes de proteção nem respiradores. Desafortunadamente, tarda um pouco mais para criar linhas de produção e cadeias de fornecimento para armas do que para luvas médicas e máscaras. Em 11 de fevereiro, durante uma cúpula em Bruxelas, os governos da União Europeia concordaram em utilizar um modelo similar ao criado para aquisições e fornecimentos das vacinas contra a covid, estabelecendo um fundo conjunto para encomendas de projéteis de 155 milímetros. Ao fazê-lo, eles esperam incentivar a indústria de armas a aumentar a produção.

Doug Bush, chefe de aquisições do Exército, afirma que o Pentágono aprendeu a partir da experiência da pandemia a emitir contratos com uma velocidade sem precedentes e dar à indústria um “sinal de demanda”. O Congresso, enquanto isso, autorizou um uso maior de contratos de múltiplos anos para dar às empresas mais certeza a respeito da demanda. Mas até agora esses contratos têm sido usados principalmente para aeronaves, navios ou tanques caros, não para as munições que eles disparam. Dinheiro também está sendo gasto na solução de gargalos de produção.

Como resultado desses esforços, afirma Bush, a produção de mísseis terra-ar Stinger, disparáveis a partir de lançadores portáteis, aumentará seis vezes (de níveis baixíssimos); a de Javelins (as armas antitanque que ajudaram a impedir a ofensiva inicial dos russos) dobrará; o mesmo ocorrerá em relação aos lançadores Himars, que também comprovaram sua eficácia na Ucrânia destruindo depósitos de armas, postos de comando e instalações militares dos russos em posições bastante recuadas, distantes das linhas de frente.

A produção dos projéteis de 155 milímetros triplicará e possivelmente aumentará seis vezes, para mais de 1 milhão de unidades ao ano, quando o Pentágono construir uma nova linha de produção no Texas e emitir contratos para uma empresa no Canadá. Mas grande parte da capacidade extra não estará disponível até 2024 — ou até 2028. “A economia americana é capaz e sabe como fazer isso”, afirma Bush. “Não é simplesmente uma questão de tempo. É uma coisa nova. A mobilização industrial na 2.ª Guerra e na Guerra da Coreia também levou tempo.”

Um processo similar transcorre na Europa. Armin Papperger, diretor da alemã Rheinmetall, afirma que sua empresa é capaz de aumentar a produção rapidamente de 70 mil para 450 mil projéteis ao ano ou mais e concordou recentemente em comprar a fabricante espanhola de munições Expal Systems. A Rheinmetall também está instalando uma nova fábrica de munições na Hungria. A fabricante checa de armas CSG, que produziu 100 mil projéteis no ano passado, espera aumentar sua produção para 150 mil unidades este ano. A norueguesa Nammo também poderia aumentar sua produção. Países do antigo Pacto de Varsóvia consideram até a reabertura de antigas fábricas de projéteis de 152 milímetros, para que a Ucrânia possa continuar usando sua artilharia soviética.

Mas apesar de toda conversa sobre urgência, os governo europeus não têm assinado muitos contratos de aquisição. Papperger afirma estar preparado para “pré-financiar” parte do investimento necessário para acelerar a produção de projéteis e mísseis, mas há limites para o que empresas privadas podem fazer sem pedidos firmes.

A Ucrânia, enquanto isso, precisa das armas agora — tanto para resistir à ofensiva russa quanto para lançar a sua própria. Os projéteis são o requerimento mais premente, mas a rápida diminuição na quantidade de munições guiadas, particularmente Javelins e Stingers, poderá causar problemas ainda maiores no futuro. Mesmo nos ritmos de produção recentemente acelerados, de acordo com Seth Jones, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um instituto de análise americano, substituir os 8,5 mil Javelins que a Ucrânia recebeu levará quase sete anos. Quanto aos Stingers, a Ucrânia já recebeu a mesma quantidade (1,6 mil) do que todos os compradores, exceto os EUA, ao longo dos últimos 20 anos. O Pentágono provavelmente encomendará alternativas mais avançadas em vez dos Stingers para substituí-los, mas repor os armamentos usados na Ucrânia levaria mais de seis anos.

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Resoluto mas não resiliente

A raiz do problema é a fragilidade da indústria da defesa. Tanto nos EUA quanto na Europa o estado da cadeia de fornecimento pode ser supreendentemente opaco mesmo para as principais empresas que fabricam as armas e os departamentos de governos que as compram.

As dificuldades com frequência aparecem nas segundas e terceiras camadas de fornecedores. As empresas são altamente especializadas, mas, com frequência, são pequenas. As barreiras para a entrada de novas empresas são altas por causa da minuciosa certificação requerida para fornecer equipamentos para Forças Armadas e outras peculiaridades de negócios com ministérios da Defesa. Isso significa que componentes específicos de armamentos são com frequência fabricados por uma única empresa, o que eleva o risco de quebra. Gargalos incluem escassez de força de trabalho, semicondutores, ferramentas, componentes menores e mais.

Para tecnologias antigas, como os projéteis de 155 milímetros, o principal obstáculo para o aumento na produção é capacidade industrial bruta — notadamente o equipamento pesado necessário para a forja e as máquinas para rechear as cápsulas. Também existe a necessidade de aumentar o fornecimento dos explosivos: o IMX-101, produzido somente em uma fábrica nos EUA; e o TNT, importado.

Para munições guiadas, a miríade de componentes colabora para muitas perturbações possíveis. A falta de apenas um ou dois componentes pode impedir a produção de um sistema inteiro de armamento. Se o fabricante de uma simples braçadeira quebra, um novo fornecedor tem de ser certificado e seu produto, testado para aferir a compatibilidade. Chips usados em armas — com frequência requerendo capacidade de resistir a extremos de calor, umidade e vibração — são uma dor de cabeça eterna. Os semicondutores mais avançados normalmente não são a preocupação em si, o problema ocorre principalmente em relação aos chips mais antigos, cuja produção pode ter sido descontinuada. “Não há substituição a curto prazo”, nota uma autoridade do Pentágono. Aumentar a produção dos Stingers, por exemplo, exigiu reprojetar partes do míssil para que ele pudesse incluir chips mais modernos.

Uma escassez de motores de foguetes causa preocupação entre os fabricantes de mísseis. Somente duas empresas nos EUA fabricam motores para mísseis pequenos. Uma é subsidiária da Northrop Grumman. A outra é a Aerojet Rocketdyne, que tem sido objeto de várias propostas de aquisição e que Greg Hayes, diretor da Raytheon, uma grande fabricante de armas, descreve como um “elo frágil” na cadeia de fornecimento. Mas estabelecer um fornecedor alternativo poderia levar anos. Motores de foguetes são mais uma preocupação.

Bill LaPlante, subsecretário do Pentágono para aquisições, afirma que os EUA terão cada vez mais de pensar em incluir capacidade de aumento de demanda ao comprar armas. “Temos de nos conformar com o fato de que podemos estar construindo algo que poderá não ser usado.” Executivos da indústria notam que, com previdência, é mais barato estocar do que construir novas ferramentas. No fim, contudo, a capacidade de aumentar a produção surtirá um custo: manter a capacidade de construir armas rapidamente amanhã resulta em armas mais caras hoje.

Questão de padrões

LaPlante também quer que a indústria adote projetos mais padronizados e modulares, para permitir uma facilidade de acionamento e operação similar à de eletrônicos de consumo. A maioria das armas de precisão, nota ele, possui três elementos principais: um sensor para detectar o alvo; um sistema de comando e controle, seja um algoritmo ou um modelo com interação humana; e um “agente”, ou seja, uma ogiva ou outro dispositivo destinado a destruir o alvo. As interfaces entre os três elementos podem ser padronizadas, cada componente pode ser facilmente substituído conforme as armas são melhoradas e novas armas são desenvolvidas.

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Uma terceira maneira de promover maior resiliência é os EUA trabalharem mais proximamente com aliados, afirma LaPlante. Todos poderiam colaborar para o estabelecimento de padrões comuns, produzir armas em mais de um país e desenvolver novas armas conjuntamente. A Austrália, por exemplo, trabalhará com EUA e Reino Unido para desenvolver mísseis hipersônicos e está considerando fabricar munições para os lançadores Himars que está adquirindo. Informantes na indústria afirmam que a norueguesa Nammo poderia se tornar uma terceira fonte de motores de foguetes para os EUA.

Projéteis de artilharia de 155 mm são vistos durante o processo de confecção na fábrica de munições do Exército de Scranton Foto: Brendan McDermid/Reuters - 16/2/2023

Mas padronizações e aquisições conjuntas são coisas difíceis, ainda mais quando tenta-se promovê-las através de fronteiras nacionais. A Otan tem feito campanha por isso há mais tempo do que qualquer um é capaz de se lembrar. A Agência Europeia de Defesa foi estabelecida em 2004 para impulsionar a colaboração entre os membros da União Europeia, mas não possui nenhuma autoridade e é obrigada a depender de persuasão. Somente cerca de 18% do gasto em defesa dentro da UE é colaborativo.

As empresas do setor de defesa em competição por contratos querem preservar as tecnologias que as distinguem; os países, por sua vez, querem proteger o que consideram paladinos nacionais. Apesar de agradecida pelas armas que recebe independentemente de quem as envia, a Ucrânia está tendo de lidar com um arsenal junto e misturado, no qual cada incompatibilidade colabora para a complexidade logística. “Estamos exportando nossa fragmentação para a Ucrânia”, nota um ministro da Defesa europeu.

Se guerras de Estado contra Estado fossem simplesmente um torneio entre a capacidade industrial dos antagonistas, o poder econômico de Europa e EUA deveria ser adequado para lidar com algozes como a Rússia ou, conforme os desdobramentos, a China. A economia russa é menor do que a alemã mesmo depois dos ajustes no custo de vida. UE e EUA juntos superam a China facilmente. Mas democracias liberais levam mais tempo para colocar suas economias em pé de guerra do que regimes autoritários e são muito mais relutantes em fazê-lo.

Ágil algoz

As fábricas de armamentos da Rússia não estão aguardando para negociar contratos com o Kremlin; elas já estão trabalhando a todo vapor. As sanções podem estar evitando que as empresas comprem os microprocessadores necessários às munições de precisão (daí os relatos de que aliados da Rússia, como Casaquistão, têm feito encomendas enormes de eletrodomésticos ocidentais, para tirar seus chips e repassá-los para fabricantes russas de armamentos), mas poucos apostariam que a Rússia conseguirá projéteis suficiente para a próxima ofensiva e a seguinte. Putin sem dúvida subscreve à máxima de Stálin: “a quantidade tem uma qualidade própria”.

Quanto à China, ao longo dos últimos 20 anos o país tem construído o maior estoque do mundo de mísseis guiados de precisão de lançamento terrestre. Os chineses buscam impedir forças navais e aéreas dos EUA, principalmente frotas de porta-aviões, de chegar a Taiwan para socorrer a ilha durante um bloqueio ou uma invasão da China. Para contrabalançar o arsenal chinês, os EUA precisariam de grandes quantidades de mísseis balísticos de precisão, para ameaçar as forças navais da China a partir de um ponto fora do alcance das formidáveis defesas antiaéreas chinesas.

Não são essas as armas enviadas para a Ucrânia, portanto o esforço para defender um aliado dos EUA não está colocando em risco a segurança de outro. Mas os americanos não possuem nem de perto arsenal suficiente. O CSIS simulou um conflito entre EUA e China no Estreito de Taiwan no qual os EUA esgotam seu inventário de mísseis antinavios de longo alcance em menos de uma semana. Este ano, o Pentágono planeja comprar 88 mísseis desse tipo. Atualmente leva dois anos para produzir a maioria das munições relevantes, aponta Jones. E esses prazos são para a entrega dos primeiros mísseis, não dos últimos.

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A China também teria dificuldades para se manter lutando? O país possui, de longe, a maior capacidade de manufatura industrial no mundo e nenhuma timidez em ditar diretrizes para empresas privadas e estatais. E também tem a vantagem de poder decidir o momento de uma eventual invasão.

Guerras são vencidas ou perdidas por todo tipo de razão. Lideranças, táticas, moral, logística e tecnologia desempenham seus papéis. Mas ficar sem munição antes que o outro lado nunca é uma estratégia vencedora. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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