The Economist: Como a guerra na Ucrânia está reformulando alianças globais dos EUA

Há sinais de países europeus e asiáticos se apresentando

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Por Anton La Guardia*

WASHINGTON – Os Estados Unidos, afirma-se certas vezes, têm aliados; China e Rússia têm apenas clientes. A maioria dos países transita desconfortavelmente entre os dois campos. Para o presidente Joe Biden, a rede incomparável de alianças e parcerias dos EUA é “o ativo estratégico mais importante” em uma disputa crescente com grandes rivais. Trata-se de uma grande mudança em relação a seu antecessor, Donald Trump, que classificava como aproveitadores a maioria dos aliados.

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Na Europa, aliados se juntaram aos EUA no envio de ajuda à Ucrânia para impedir a invasão russa. Finlândia e Suécia apressam-se em integrar a Otan. Na Ásia, enquanto isso, o esforço dos EUA para conter a China depende pesadamente de sua rede de alianças formais e da floração de parcerias. Em 2023, os EUA querem fortalecer o “tecido conectivo” entre seus aliados no Oriente e no Ocidente. Biden considera isso parte de uma competição global entre democracias e autocracias. Outra maneira de pensar nesse fenômeno é como um renascimento de antigas noções geopolíticas de conter o interior eurasiático controlando o “anel continental”, neste caso, um cordão de aliados que se estende do Japão ao Reino Unido.

Mas não é fácil montar este quebra-cabeças. A Otan se baseia em defesa mútua: atacar um significa atacar todos. As alianças dos EUA na Ásia são um sistema de “raios da roda” de tratados bilaterais de defesa, com pouco planejamento ou treinamento comum. Os EUA tentaram sobrepor a suas alianças no Indo-Pacífico parcerias específicas: exercícios trilaterais de defesa com mísseis juntamente com Japão e Coreia do Sul; exercícios navais envolvendo Japão e Austrália; e a multifacetada colaboração quadrilateral, com Japão, Austrália e Índia, em relação a diversos assuntos, de vacinas a pirataria marítima.

Militares japoneses caminham próximo a um sistema de defesa Patriot em Tóquio, em imagem de 9 de abril de 2013. País asiático vai expandir o arsenal militar em 2023 Foto: Yoshizaku Tsuno / AFP

Alguns novos tendões ligam aliados europeus e asiáticos. Sob a nova aliança Aukus, EUA e Reino Unido fornecerão à Austrália submarinos propelidos por energia nuclear (não carregados com armas atômicas) e os países colaborarão em outros campos, como cibersegurança e mísseis hipersônicos. As relações com a França, desgastadas porque o Aukus fez os australianos rasgarem um contrato de compra de submarinos franceses, estão em reparo. Aliados no Indo-Pacífico aderiram às sanções do Ocidente contra a Rússia e compareceram à cúpula da Otan em Madri, em junho de 2022. Países europeus mandaram navios de guerra para o Pacífico.

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Alguns americanos proeminentes gostariam de ampliar o Grupo dos 7 países democráticos mais industrializados para um “G-12″, acrescentando nações como Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia e instituições como Otan e União Europeia. Há também conversas a respeito de uma maior cooperação em compras militares conjuntas, dadas as demandas por armas para ajudar a Ucrânia, repor os arsenais do Ocidente e desenvolver as forças aliadas.

Grupos emergentes incluem o “I2U2″ — reunindo Israel, Índia, Emirados Árabes Unidos e EUA — no sentido de desenvolver tecnologias para segurança alimentar e energia limpa; que, por sua vez, descende dos Acordos de Abraão, patrocinados pelos EUA, entre Israel e vários Estados árabes impelidos pelo medo do Irã.

Mas há vulnerabilidades. Uma é Taiwan, talvez o lugar que corra maior risco de invasão e ainda o menos integrado à rede americana de alianças oficiais. Outro lapso é a Índia, que se aproximou dos EUA mas ainda se apega a uma antiga tradição de não alinhamento e fortes laços militares com a Rússia. Espere que o duradouro galanteio dos americanos continue. Uma esperança é que, ao testemunhar o desempenho frustrante das armas russas na Ucrânia, a Índia acelere sua transição para aquisição de armas do Ocidente. A vulnerabilidade mais grave é a ausência de uma estratégia comercial genérica para aproximar entre si os amigos dos EUA e encorajar um “escoramento entre amigos”, transferindo cadeias de fornecimento sensíveis da China para países mais amigáveis.

Militar americano e militar indiano marcham lado a lado com a bandeira dos respectivos países durante exercício conjunto das duas defesas, em imagem do dia 30 de novembro. Índia se aproxima de aliança com os EUA cada vez maior Foto: Manish Swarup / AP

A maior distância, os países asiáticos estão mantendo a porta aberta para o retorno dos EUA ao pacto comercial conhecido como Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP). Mas não se anime: o legado das guerras comerciais de Donald Trump e o protecionismo de Biden ainda são potentes.

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China e Rússia estão construindo seus próprios clubes. A adesão à Organização para Cooperação de Xangai, um grupo eurasiático, cresce. O mesmo se vê nos Brics, grupo que reúne grandes economias emergentes. Em um momento de escassez de energias, os produtores de petróleo árabes do Golfo se alinharam à Rússia, na Opep+, para manter altos os preços do petróleo, o que enfurece os americanos.

Biden abrandou sua divisão do mundo entre democracias e autocracias em parte, com intenção reconstituir laços com o Sul Global. Há muito trabalho a ser feito a se julgar pelas votações nas Nações Unidas em outubro de 2022. Em Nova York, a Assembleia-Geral da ONU decidiu por 143 votos a 5 condenar a anexação russa de território ucraniano. Poucos dias antes, contudo, em Genebra, os membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU votaram favoravelmente ao bloqueio do debate a respeito de um relatório da ONU sobre abusos de direitos humanos contra uigures em Xinjiang.

Os EUA afirmam não almejar um mundo de blocos e potências rivais. Mas muitos países temem que a rivalidade entre grandes potências esteja levando o mundo a uma nova Guerra Fria.

*Anton La Guardia é editor de Diplomacia na The Economist

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