The Economist: Como a reabertura da China perturbará a economia mundial

País deve sofrer com alta de casos de covid, mas atividade econômica deve ser retomada de maneira mais acentuada posteriormente

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Por The Economist
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Por quase três anos completos – 1.016 dias, para sermos exatos – a China esteve fechada para o mundo. A maioria dos estudantes estrangeiros deixou o país no início da pandemia de covid-19, turistas deixaram de visitar, cientistas chineses deixaram de comparecer a conferências internacionais e executivos expatriados foram impedidos de retornar para suas empresas na China. Então, após a China abrir suas fronteiras, em 8 de janeiro, abandonando os últimos vestígios de sua política “covid zero”, a retomada do contato comercial, intelectual e cultural surtirá enormes consequências, a maioria benigna.

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Mas, primeiramente, haverá horror. O coronavírus varre a China. Dezenas de milhões de pessoas estão se contaminando todos os dias. Os hospitais estão sobrecarregados. Apesar de a política covid zero ter poupado muitas vidas quando foi introduzida (sob grande custo às liberdades individuais), o governo chinês fracassou em se preparar apropriadamente para o relaxamento estocando medicamentos, vacinando mais idosos e adotando protocolos mais robustos para decidir o encaminhamento de cada paciente.

Se o coronavírus se espalhar descontroladamente, aproximadamente 1,5 milhão de chineses morrerão nos próximos meses.

Viajantes usam máscara enquanto esperam bagagens no Aeroporto Internacional de Pequim, na China, em imagem desta segunda-feira, 9. País reabriu fronteiras após quase três anos Foto: Mark Schiefelbein/AP

Não há muito o que estrangeiros possam fazer para ajudar. Por temer aparentar fraqueza, o governo chinês recusa até ofertas gratuitas de vacinas eficazes da Europa. Mas o restante do mundo pode se preparar para os efeitos econômicos da grande virada do Partido Comunista, que não serão suaves.

A economia chinesa poderia se contrair no primeiro trimestre, especialmente se autoridades locais mudarem de rumo e trancarem cidades para manter baixo o número de casos. Mas eventualmente a atividade econômica será retomada de maneira acentuada, juntamente com as demandas chinesas por mercadorias, serviços e commodities. O impacto será sentido nas praias da Tailândia, em empresas como Apple e Tesla e em bancos centrais de todo o mundo. A reabertura da China será o maior evento econômico de 2023.

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Conforme o ano avançar e o pior da crise de covid passar, muitos dos enfermos retornarão ao trabalho. Consumidores e viajantes gastarão mais livremente. Alguns economistas estimam que o PIB nos primeiros três meses de 2024 poderia ser um décimo mais alto do que no atribulado início de 2023. Tamanha retomada em uma economia tão gigantesca significa que a China, sozinha, será capaz de alimentar grande parte do crescimento global durante o período.

Crescimento

Essa é a expectativa do partido, que espera ser julgado não pela tragédia que sua incompetência está agravando, mas pela recuperação econômica que se seguirá. Em seu discurso de fim de ano, o chefe do partido, Xi Jinping, agradeceu aos trabalhadores que combatem a pandemia por se manter corajosamente em suas funções ao mesmo tempo que citou “desafios duros” à frente e prometeu que “a luz da esperança está bem diante de nós”. Ele se mostrou ávido para olhar além da pandemia, enfatizando as chances de uma acentuada retomada econômica em 2023 e expondo razões para estar orgulhoso de viver em uma China ascendente sob governo do partido.

O fim do autoimposto isolamento da China será boa notícia para lugares que dependem de gastos dos chineses. Os hotéis de Phuket e os shopping centers de Hong Kong sofreram quando os chineses foram trancados em casa. Agora, chineses em busca de viagens estão congestionando sites de turismo. As reservas no Trip.com subiram 250% em 27 de dezembro em comparação com o dia anterior. Economistas estão prevendo um aumento no PIB de Hong Kong de até 8% com o tempo. Exportadores das commodities que a China consome também se beneficiarão. O país compra um quinto do petróleo produzido no planeta; mais da metade da produção de cobre refinado, níquel e zinco; e mais de três quintos do minério de ferro.

Efeitos colaterais

Mas, em outros lugares, a recuperação da China surtirá dolorosos efeitos colaterais. Em grande parte do mundo, ela poderia resultar não em maior crescimento, mas em inflação ou taxas de juros mais altas. Bancos centrais já estão elevando as taxas de juros em ritmo frenético para combater a inflação. Se a reabertura da China aumentar a pressão nos preços a um grau desconfortável, os bancos centrais terão de manter suas políticas monetárias mais restritivas por mais tempo. Países que importam commodities, incluindo grande parte do Ocidente, correm risco maior de tal perturbação.

Veja o mercado do petróleo. A crescente demanda chinesa deve ser capaz de mais que compensar o consumo em queda na Europa e nos Estados Unidos conforme suas economias diminuem. De acordo com o banco Goldman Sachs, uma rápida recuperação da China poderia ajudar a levar o preço do barril de petróleo Brent a US$ 100, uma elevação de um quarto em comparação com os preços atuais (mas ainda menor do que os picos alcançados após a Rússia invadir a Ucrânia). Custos crescentes de energia se provarão outra dificuldade no sentido de domar a inflação.

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Para a Europa, a reabertura da China é outra razão para são ser complacente a respeito de fornecimentos de gás neste ano. A covid zero, ao suprimir a demanda chinesa por gás, tornou menos custoso do que poderia ser para a Europa encher seus tanques de armazenamento em 2022.

Competição

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Uma forte recuperação da China resultará em mais competição para importar gás natural liquefeito. Em dezembro, a Agência Internacional de Energia, que prognostica desdobramentos no setor, alertou a respeito de um cenário no qual o inverno se inicia pontualmente em 2023 no mesmo momento em que a Rússia fecha completamente a torneira do gás enviado para a Europa por gasoduto. Isso pode resultar em uma escassez equivalente a até 7% do consumo anual do continente, forçando a introdução de racionamentos.

Para a própria China, a normalidade pós-pandêmica não será um retorno ao status quo anterior. Depois de ver o governo chinês fazer valer a política covid zero de forma draconiana e então retirá-la sem a preparação devida, muitas casas de investimento passaram a considerar a China uma aposta mais arriscada. Empresas estrangeiras estão menos confiantes que suas operações não serão perturbadas. Muitas estão dispostas a pagar custos maiores para fabricar em outros países. O investimento nacional em novas fábricas parece estar diminuindo de ritmo ao mesmo tempo em que o número de empresas deixando a China salta, segundo alguns relatos.

Normalidade anormal

Enquanto as autoridades chinesas enfrentam dificuldades para reparar o dano, elas deveriam recordar a história. A grande reabertura anterior da China, após o entorpecente isolamento dos anos de Mao, levou a uma explosão de prosperidade à medida que mercadorias, pessoas, investimentos e ideias surgiam dentro de suas fronteiras em ambas as direções. Tanto a China quanto o mundo se beneficiaram de tais fluxos, algo que políticos em Pequim e Washington raramente reconhecem. Com sorte, a atual reabertura da China será por fim bem-sucedida. Mas algo da paranoia e do humor xenofóbico que o partido atiçou durante os anos pandêmicos certamente perdurará. Resta saber exatamente quão aberta a nova China será. l TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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