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The Economist: O que a Ucrânia significa para o mundo

O desfecho do conflito determinará a autoridade do Ocidente; leia o artigo da The Economist

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Por The Economist

Os escritórios do Quartel-General Supremo das Potências Aliadas na Europa (Shape), o centro de comando da Otan nas proximidades de Mons, na Bélgica, são o oposto de imponente. Em vez de granito e mármore, os corredores de teto baixo são revestidos de placas de gesso e carpetes em mosaico. Os generais de quatro estrelas preferem gabinetes bem acima das querelas, naturalmente — mas o Shape tem apenas três andares. Erguidas no fim dos anos 60, essas instalações foram planejadas para ser temporárias.

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Nunca antes a fragilidade do Shape contradisse tanto o monumental senso de missão da Otan. A invasão de Vladimir Putin à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, revitalizou a aliança — que se armou com seu primeiro novo conjunto de objetivos desde 1967, ano em que os escritórios do Shape foram inaugurados. Enquanto a antiga Otan foi reativa, a aliança agora é reconstruída para dissuadir a Rússia em tempos de paz e responder imediatamente a agressões com uso de força assim que Moscou ameaçar se intrometer em territórios de seus membros. “Estamos melhorando rapidamente a prontidão das nossas forças”, afirma o general sir Tim Radford, segundo no comando do Shape, “e toda a nossa capacidade de resposta militar em geral está aumentando exponencialmente”.

A guerra transformou ainda mais a Ucrânia. Putin planejou um ataque-relâmpago para derrubar o governo, a culminação de uma campanha de agressão e desestabilização que começou na Crimeia e na região do Donbas em 2014. Em vez disso, sob as ruínas pulverizadas do Donbas e abrigos antibombas por todo o país, Kiev forjou para si uma democracia renovada, mais unificada, mais inclinada para o Ocidente e mais resiliente. A Rússia, enquanto isso, foi reorganizada em torno da guerra e da hostilidade mais ampla de Putin em relação à Otan mesmo enquanto as sanções e o êxodo de seus cidadãos mais escolarizados arruinam suas perspectivas econômicas a longo prazo. Sua derrocada para o militarismo despótico, ao lado do fortalecimento da Otan e da transformação da Ucrânia, tornaram a guerra uma disputa entre sistemas ideológicos rivais.

Soldados ucranianos conduzem tanque russo capturado no campo de batalha na região de Kupiansk, em imagem de 15 de outubro de 2022. Vitórias da Ucrânia na guerra aproximaram ainda mais o país e a Otan Foto: Clodagh Kilcoyne/Reuters

O futuro da Ucrânia ainda está na balança — e o mais provável é que continue indefinido nos próximos anos. Putin poderá aceitar um cessar-fogo em algum momento que considerar conveniente, mas a reformulação que ele operou na sociedade russa é direcionada totalmente no sentido de agressão no exterior e repressão doméstica. Qualquer fim concebível para o massacre irá, portanto, exigir fortes garantias de segurança do Ocidente e envios grandes e duradouros de armas e ajuda financeira — quase como se um segundo Estado de Israel, muito maior, tivesse aparecido nas fronteiras orientais da Europa. Alguns líderes europeus argumentam que isso requer adesão plena à Otan. Se a reconstrução da Ucrânia fracassar e sua economia fraquejar, a democracia do país também começará a falhar. Os generais da Otan calculam que a Rússia seria capaz de reconstruir suas forças terrestres em três a cinco anos. Por fim, as condições acabariam favoráveis para Putin ou seu sucessor tentar a sorte novamente.

Por isso, tanto na guerra quanto na paz, a Ucrânia colocará em teste a determinação do Ocidente, sua unidade, até sua capacidade industrial. O conflito levanta particularmente três questões fundamentais de geopolítica: que papel os Estados Unidos desempenharão na segurança europeia; se os membros europeus da Otan podem assumir responsabilidade de maneira crível por uma parte maior da defesa da região; e quais alianças envolverão o mundo na maior guerra na Europa desde 1945. As respostas não são cruciais apenas para o destino da Ucrânia — são uma medida da autoconfiança e da estatura do Ocidente.

Grande parte do mundo concluiu que o poder dos EUA e seus aliados está diminuindo em razão de seu fracasso em triunfar no Afeganistão e no Iraque, sua responsabilidade sobre a crise financeira e uma sucessão de governos assolados por discórdia e populismo. Se a Ucrânia sucumbir ao caos russo, a percepção de declínio do Ocidente se aprofundará. Mas se a Ucrânia prevalecer, a lição vai reverberar por todo o mundo. Isso inclui o Pacífico, onde a luta entre a Rússia ditatorial e a Ucrânia apoiada pelo Ocidente deveria ser vista como prólogo para a disputa definidora de século entre China e EUA.

O Atlântico encolhe

Entre as três questões geopolíticas, a mais premente é o papel dos EUA na Europa. “A segurança europeia não mudou só um pouco, ela se transformou fundamentalmente”, afirma Michael Clarke, ex-diretor do Royal United Services Institute (Rusi), um centro de análise. Em 2019, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que a Otan sofria de “morte cerebral”, porque sob os presidentes Donald Trump e Barack Obama os EUA tinham virado as costas para a Europa. A Ucrânia provou que esse julgamento foi equivocado.

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“A guerra trouxe de volta a ideia dos EUA enquanto potência europeia importante”, afirma Fabrice Pothier, ex-formulador de políticas da Otan e diretor da consultoria Rasmussen Global. Sob o presidente Joe Biden, os EUA enviaram o equivalente a US$ 48 bilhões (cerca de R$ 248,8 bilhões) em armas e assistência para a Ucrânia. Kori Schake, ex-autoridade que trabalha atualmente no American Enterprise Institute, um centro de análise, disse ser evidente que sem os EUA a Europa não teria se unido para fornecer à Ucrânia a ajuda que o país precisou.

A ajuda não indica apenas generosidade dos EUA, sinaliza também sua força. A um custo equivalente a cerca de 5% do orçamento anual dos EUA em defesa, as forças ucranianas despedaçaram o mito da destreza militar da Rússia, destruindo mais de mil tanques russos em menos de um ano. “Costumávamos pensar que a Rússia tinha o segundo melhor Exército no mundo”, afirma Schake. “Mas percebemos agora que ela não tem o melhor Exército nem entre os países da ex-União Soviética.”

A dúvida é qual será a opção dos EUA quando a guerra quente acabar e a Ucrânia precisar de reconstrução durante uma paz fortemente armada. Schake prevê que as autoridades americanas argumentem que, já que seu país forneceu a maior parte da assistência durante os combates, os europeus deveriam pagar pela reconstrução e o rearmamento da Ucrânia. Ao mesmo tempo, afirma ela, o Pentágono pode concluir que o estado enfraquecido das forças terrestres da Rússia significa que os EUA não precisam mais de um grande contingente militar em solo europeu.

À espreita por trás desse cálculo está a necessidade dos EUA colocarem foco na China. Uma retirada dramática não seria de seu interesse: se as garantias de segurança dos EUA não forem confiáveis na Europa, elas não seriam consideradas confiáveis na Ásia. “Xi Jinping está nos observando atentamente”, afirmou o senador Roger Wicker, o republicano há mais tempo na Comissão de Serviços Armados, no mês passado. “Ele quer ver se cumpriremos nosso compromisso enquanto avalia suas oportunidades para invadir sua própria vizinha e nossa amiga, Taiwan. Nossos aliados no Indo-Pacífico também estão observando atentamente — e até ajudando na Ucrânia.”

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Por essa razão, afirma Andrew Michta, do Centro Europeu George C. Marshall para Estudos de Segurança, na Alemanha, os EUA tendem a insistir que “compartilhamento de fardo” se torna “mudança de fardo”. Com isso ele quer dizer que os EUA ainda ajudam a defender a Europa por meio de sua dissuasão nuclear e outras capacidades em alta tecnologia, mas deixam para os Exércitos europeus a função de fornecer a maior parte das forças convencionais. Isso eleva a antiga demanda para que os membros europeus da Otan assumam mais responsabilidade pela defesa de seu próprio continente, que foi impelida de diferentes maneiras tanto por Obama quanto por Trump.

Antes da guerra, os EUA viam o compartilhamento de fardo principalmente como uma maneira de cortar custos. Hoje, afirma Fiona Hill, especialista em Rússia que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional, ele também possui uma lógica estratégica mais ampla: “O que os russos estão dizendo é: ‘OK, os EUA ainda são uma força de ocupação na Europa; a Europa não tem segurança; nós queremos ser a potência dominante do mesmo jeito que a Alemanha foi na 1.ª e na 2.ª Guerra.” Hill prevê um debate sério a respeito de como “reequipar” a segurança europeia em torno da Ucrânia sem que os EUA dominem tudo, porque uma maior responsabilidade europeia contraria a perspectiva russa de que a Otan não passa de uma ferramenta dos americanos.

O que levanta a segunda questão: a Europa é capaz de corresponder ao desafio? A guerra ajudou o continente a pensar mais estrategicamente, acredita Pothier. Em apenas um ano, algumas das amarras que diminuíam seu espaço de manobra diplomática, como a dependência alemã em relação ao gás natural russo, foram em grande medida desmanteladas. No terceiro dia da guerra, o chanceler Olaf Scholz declarou um ponto de inflexão no panorama global da Alemanha, comprometendo-se em gastar € 100 bilhões (R$ 552 bilhões) para transformar as Bundeswehr em tropas mais assertivas — mas resta constatar quão eficaz será esse gasto.

As consequências de Finlândia e Suécia juntando-se à Otan serão mais imediatas e provavelmente ainda mais significativas. Se a Turquia concordar em aderir — e deveria — ela trará muito contingente, equipamento e competência em combate. A Finlândia, por exemplo, é capaz de reunir 280 mil soldados em poucas semanas, o que equivale a mais de duas vezes o tamanho do contingente militar na ativa e na reserva do Reino Unido.

Cidadãos em ato pela paz na Ucrânia realizado em Milão, na Itália, no dia 25 de fevereiro. Conflito reacendeu debate sobre segurança da Europa e o papel da Otan Foto: Matteo Corner/EFE

Geograficamente, Finlândia e Suécia também ajudarão na segurança dos Estados bálticos, que são difíceis de reabastecer através da estreita fatia de território polonês localizada entre Belarus e o enclave russo de Kaliningrado. Apesar de ampliar enormemente a fronteira da Otan com a Rússia, “os militares nórdicos e escandinavos podem somar recursos”, afirma Hill, “tornando-se uma linha de defesa bastante formidável”. Adicionalmente, se Putin ou seu sucessor atacar um membro da aliança, ele teria de se preocupar em defender uma fronteira mais extensa.

Membros da Otan na Europa continental também têm mostrado uma nova seriedade em relação à aplicação de sanções, afirma o analista Tom Keatinge, do instituto Rusi. No passado, suas sanções foram com frequência simbólicas. Apesar de líderes ocidentais terem sido bombásticos ao fingir que as sanções fariam a Rússia se ajoelhar rapidamente, os Estados da UE levaram as medidas suficientemente a sério para atualizar suas legislações repetidamente para conseguir implementá-las. Isso importa porque sanções são trabalhosas. “Elas são um jogo de tiro ao alvo que, espera-se, por fim o atinja”, afirma Keatinge. “A forma do alvo muda, e você, portanto, precisa manter sua mira.”

Considerando o ponto em que a Europa estava antes da invasão russa, tudo isso assinala progresso. Emerge uma visão de que o centro de gravidade da Otan está oscilando da França para a Alemanha, em direção leste e norte. A defesa europeia é cada vez mais redefinida na Polônia e nos países nórdicos, assim como na Ucrânia. O Reino Unido pós-Brexit também mostrou que em defesa e segurança ainda é capaz de ocupar a vanguarda na Europa. Graças ao seu novo vigor, afirma Pothier, a Europa, desde sempre uma economia gigante, está deixando de ser anã na política e assume uma presença mais imponente nos assuntos globais.

A defesa europeia é cada vez mais redefinida na Polônia e nos países nórdicos, assim como na Ucrânia

Mas, apesar desse progresso, os membros europeus da Otan ainda são incapazes de assumir o manto americano. “A Europa faz tudo de maneira gradual”, afirma sir Lawrence Freedman, professor de estudos de guerra da King’s College London. “Visões grandiosas para uma nova segurança europeia não dão conta, porque há muitos pontos de vista díspares demais.” Não apenas o poder oscila para o leste, mas o sonho de Macron de uma “autonomia estratégica da Europa” em relação aos EUA parece mais distante que nunca.

Uma preocupação é que a Europa não seja consistente o bastante para promover a reconstrução da Ucrânia. A conta ficará na casa das centenas de bilhões de dólares em um momento em que orçamentos de governo são pressionados em toda a Europa. Dinheiro não é o único fator. A UE também tem um papel em fomentar uma cultura institucional europeia na Ucrânia, incluindo um ambiente regulatório decente e um breque na corrupção. A perspectiva da Ucrânia aderir à UE poderia funcionar como um poderoso estímulo à reforma, mas apenas se a adesão parecer genuinamente alcançável e não, como ocorre com tanta frequência com outros países, um sonho esquivo.

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Outra preocupação é que os fabricantes de armas ocidentais não tenham capacidade de produção suficiente para equipar a Ucrânia para a vitória, muito menos para construir seu arsenal durante a paz e reabastecer os próprios estoques da Otan. A Ucrânia está disparando entre 5 mil e 6 mil projéteis diariamente, o que equivale à aquisição anual desse tipo de munição de um país pequeno da Otan antes da Rússia invadir. As indústrias de defesa do Ocidente esmoreceram desde o colapso da União Soviética.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg (à esq.), ao lado da primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, em encontro em Helsinki, no dia 28 de fevereiro. Governo finlandês decidiu aderir à aliança militar após conflito na Ucrânia Foto: Heikki Saukkomaa/Lehtikuva via AP

Se a Europa não atender essas expectativas — e, neste momento, isso parece uma possibilidade desanimadora e real— a Ucrânia deverá pagar o preço. A função de suprir os lapsos de guardar as fronteiras da Europa e buscar consenso no continente incidiria, novamente, sobre os EUA, possivelmente liderados por outro presidente. “Como as coisas estão, temos um ponto crítico de falha nessa aliança ocidental tão impressionante”, afirma Clarke. “E o ponto crítico de falha é a disposição dos EUA de continuar.”

A grande dúvida geopolítica apresentada pela guerra é se o Ocidente é capaz de vencer a batalha pela opinião internacional. Somente um terço da população mundial vive em países que condenaram a Rússia por sua invasão ao mesmo tempo lhe impuseram sanções, de acordo com a Economist Intelligence Unit, nossa empresa-irmã. Em sua maioria, aliados próximos dos EUA. O restante tende a considerar a guerra uma disputa entre autocratas e hipócritas.

Shivshankar Menon, ex-diplomata-chefe da Índia, fala em nome de muitos. Ele reconhece que a guerra impôs custos econômicos globais e dificultou para o sistema internacional lidar com problemas como desenvolvimento e mudanças climáticas. Mas ele rejeita a ideia de que o Sul Global deve se aliar à Ucrânia por princípio.

“Não se trata de um ponto de inflexão geopolítica para o restante do mundo”, afirma Menon. “Onde estamos, a falha sísmica geopolítica principal ainda é entre China e EUA — e a guerra na Ucrânia não altera essa situação”. Ele considera o atual conflito uma luta envolvendo a segurança europeia. Quem quer que vença, ou se nenhum lado vencer, a Europa permanecerá insegura e preocupada. Menon prevê que a Europa continuará uma potência na economia global, mas não se tornará uma potência geopolítica.

Presidente da China, Xi Jinping, ao lado do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, durante uma visita desse em Wuhan, em 27 de abril de 2018. Os dois líderes adotam neutralidade e pedem saída diplomática para a guerra na Ucrânia Foto: China Daily/via Reuters

Ainda assim, a guerra já perturbou a ordem internacional ao menos de três maneiras. A primeira, na África, no Cáucaso e na Ásia Central, onde diplomatas russos empreendem um esforço contumaz de reforçar sua influência. Apesar da Rússia estar se segurando na África, Moscou perde terreno em todas as outras regiões.

Quando o Azerbaijão, apoiado pela Turquia, lançou uma guerra limitada contra a Armênia, em setembro, a Rússia não foi capaz de evitar a derrota de sua aliada. O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, deve seu cargo a paraquedistas russos que ajudaram a suprimir uma insurreição pouco antes da guerra na Ucrânia. Mas Tokayev não sentiu nenhum remorso a respeito de ser cortejado por Xi, que o visitou justamente antes de uma cúpula regional em que Putin foi repreendido por China e Índia.

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A segunda perturbação à política global é a ameaça de Putin de usar uma bomba nuclear. Apesar de Putin ter fracassado em dissuadir o Ocidente de fornecer armas avançadas para a Ucrânia, ele postergou sua chegada. Putin foi bem-sucedido pela metade, afirma Pothier. “Ele de fato injetou medo na nossa população e até nos nossos líderes.”

Mesmo uma erosão limitada ao tabu contra o uso de armas nucleares apresenta um problema para todos os países. Se der a parecer que Putin obteve alguma vantagem de suas ameaças, isso servirá como incentivo para outros agressores adquirirem a bomba e ameaçarem usá-la. Dado que Rússia e EUA veem-se em dificuldades para concordar a respeito de controle de armas, o risco da proliferação cresce. Chantagem nuclear é uma preocupação particularmente para a Índia — que desfruta de superioridade em armas convencionais em relação ao seu rival, Paquistão, que por sua vez investiu em armas nucleares de curto alcance para compensar.

Por último, a guerra está levando a Rússia para os braços da China. Na era soviética, a China via a Rússia como uma ameaça. Agora que sua vasta fronteira setentrional está em paz, Xi pode aplicar recursos militares em outras partes. A China também se beneficia de um aliado de mentalidade parecida na ONU, onde pode adotar uma posição em segundo plano enquanto a Rússia atua como valentão. E finalmente, conforme nota Alexander Gabuev, do Fundo Carnegie para Paz Internacional, um instituto de análise, a Rússia é fonte valiosa de commodities que cada vez mais são fornecidas segundo os termos dos chineses.

“Eu provavelmente adicionaria armas russas modernas a essa mistura”, afirma Gabuev. A China, nota ele, ainda depende da Rússia para certos componentes militares cruciais, o que torna a amizade central para qualquer plano que a China possa ter de invadir Taiwan.

Exibição de forças

No Shape, este mês, planeja-se o maior exercício da Otan em sua história, chamado Defensor Incansável. Agendada para o início de 2024, a operação envolverá dezenas de milhares de soldados sob comando da aliança. No passado, a Otan ficou frequentemente aquém da soma de suas partes. Esse exercício testará a nova doutrina, conhecida como “Dissuadir e Defender” e é fruto de quatro anos de trabalho. A ideia é mobilizar o âmago dos Exércitos nacionais para projetar poder em todos os campos, da guerra terrestre à guerra cibernética.

O exercício também tem como objetivo provar a Putin que um ataque contra um membro da aliança poderia ser uma catástrofe. Os generais da Otan querem evitar o tipo de cálculo equivocado que, acreditam eles, Putin cometeu ao invadir a Ucrânia.

Mas a escala de seu erro de cálculo ainda será determinada. O sucesso da Rússia no campo de batalha durante a primavera ou mesmo um congelamento do conflito em sua atual forma combinado a um programa vacilante ou inepto de apoio e rearmamento à Ucrânia confirmaria a visão de Putin de que o Ocidente está em declínio.

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Mesmo os países que consideram a invasão de Putin repreensível ainda poderão concluir que o poder do Ocidente está esmorecendo se o socorro à Ucrânia fracassar. Mas com armas, dinheiro e apoio político a Ucrânia ainda poderá vencer. Por meio da coragem e do poder de seu exemplo, o povo ucraniano conquistou essa chance. Não poderia ter havido melhor investimento na segurança do Ocidente. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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