The Economist: Sistema de artilharia cumpre um papel vital na Ucrânia

Armas enviadas pelo Ocidente são capazes de impedir avanço das tropas russas e de destruí-las

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Por The Economist
Atualização:

Outros equipamentos vistosos chamam mais atenção. Os mísseis Javelin destruidores de tanques são a estrela de inúmeros memes. Os drones turcos TB2 têm a própria música contagiante. Mas nenhum armamento tem sido mais importante na Ucrânia do que os sistemas de artilharia – o que tende a se tornar ainda mais significativo nas próximas semanas.

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Um conselheiro do general Valeri Zaluzhni, o mais graduado comandante militar ucraniano, explicou recentemente como suas forças impediram o avanço russo em Kiev. “Mísseis antitanques atrasaram os russos, mas o que os matou foi nossa artilharia. Foi isso que quebrou as unidades deles.”

No atual combate no sul e no leste da Ucrânia, onde ambos os lados estão mais entrincheirados, fogo de artilharia tem sido ainda mais determinante. E os sistemas mais sofisticados que os países ocidentais começaram a fornecer para a Ucrânia podem fazer toda a diferença.

Ucranianos disparam contra forças russas em Zaporizhzhia em 28 de março; artilharia vem sendo dominante na guerra. Foto: Stanislav Yurchenko/Reuters Foto: Stanislav Yurchenko/Reuters

A ideia básica por trás da artilharia é bem simples. Os fuzis carregados pelos soldados e os canhões dos tanques acionam o que é conhecido como fogo direto: atingem alvos dentro de sua linha de visão. A artilharia emprega fogo indireto, o que significa que o alvo pode estar atrás de uma colina, a até dezenas de quilômetros de distância.

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Artilharia envolve todo tipo de armamento, de morteiros compactos a canhões ferroviários de 30 toneladas capazes de produzir tempestades de fogo devastadoras sobre amplas regiões. Foi fogo de artilharia que provocou a maioria das baixas na 1.ª Guerra e em cada teatro de combate, com exceção do Pacífico, na 2.ª Guerra.

O objetivo desse poder de fogo pode ser localizar forças inimigas, impedir sua movimentação ou destruí-las, com frequência para permitir o avanço de infantaria e veículos blindados. A Rússia tem a artilharia como elemento central de seu Exército desde o Império Russo e possui consideravelmente mais sistemas do que a maioria das forças ocidentais, sem mencionar a Ucrânia.

A artilharia deverá, portanto, ser um aspecto dominante no combate. Mas um recente artigo de Jack Watling e Nick Reynolds, do Royal United Services Institute (Rusi), grupo de análise em Londres, explica como a Ucrânia tem sido capaz de virar o jogo.

Nas primeiras horas da guerra, a Ucrânia pôde utilizar artilharia para atingir paraquedistas russos que portavam armas leves e aterrissaram no aeroporto de Hostomel, próximo de Kiev.

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Apesar de a artilharia ter ajudado inicialmente as tropas terrestres russas a avançarem pelo sul, em direção a Kiev, sua dependência de estradas pavimentadas significou que elas puderam ser localizadas por forças especiais ucranianas e drones, que informavam a localização dos alvos para as armas ucranianas. À medida que os russos se aproximavam da capital, foram recebidos com fogo pesado – e não tinham como responder à altura.

Na teoria, a artilharia pode ser usada como contra-artilharia. Ela usa radares para formular a trajetória dos projéteis a serem disparados, assim como para detectar a origem do fogo inimigo. As coordenadas são enviadas para as armas amigas, que contra-atacam a fonte dos disparos inimigos.

Mas a Rússia teve dificuldades com seu fogo de contrabateria por uma razão prosaica: seus canhões ficaram presos em estradas congestionadas – lembrem do comboio de 65 quilômetros a noroeste de Kiev – e, portanto, sem alcance.

Trincheiras

Outro problema é que poder de fogo é tão capaz quanto a inteligência que o direciona. Em guerras anteriores, a Rússia utilizou drones para localizar emissões eletrônicas de unidades da artilharia inimiga e atingi-las com seus projéteis, um ou dois minutos após a localização. Mas teve dificuldades para fazer o mesmo na Ucrânia.

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“Apesar de os russos terem artilharia mais pesada, lhes faltou uma boa noção de onde ficavam as posições dispersas das forças ucranianas”, escrevem Watling e Reynolds. A Ucrânia, enquanto isso, recebia informações de inteligência dos americanos a respeito das posições russas.

A artilharia desempenha há muito tempo papel proeminente nos combates em Donbas, leste ucraniano que a Rússia invadiu em 2014. A Ucrânia usou os últimos oito anos para construir trincheiras, fortificações e outras posições defensivas. Atravessá-las requer grande poder de fogo.

Isso já está se aplicando. “Nenhum edifício desses vilarejos é deixado intacto depois de alguns desses bombardeios”, afirma uma autoridade ocidental. “O uso indiscriminado de poder de fogo é realmente marcante.” A Rússia está começando a usar artilharia com mais eficácia, diz a autoridade, concentrando-se em um número menor de alvos ao longo de um front mais estreito, mas com dificuldades em relação a “mirar oportunamente e de maneira acurada”, como ocorreu ao norte de Kiev.

A artilharia também é vital para os contra-ataques ucranianos que ocorrem toda vez que a Rússia toma algum vilarejo. Esta é uma das razões pelas quais os países ocidentais passaram a fornecer armas mais pesadas, apesar de seu receio inicial.

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Nas semanas recentes, a Ucrânia recebeu artilharia em profusão. Em 21 de abril, o presidente, Joe Biden, afirmou que os EUA enviariam inúmeros howitzers – grandes obuses de artilharia. No dia 2, uma autoridade de defesa dos EUA afirmou que 70 desses sistemas já haviam sido entregues. Austrália, Canadá, República Checa, Estônia, França, Holanda, Polônia e Eslováquia também enviaram artilharia ou se comprometeram a enviar. Outros países estariam fazendo o mesmo em segredo.

Michael Jacobson, coronel na reserva do Exército dos EUA, escrevendo no site War on the Rocks, afirma que os sistemas de artilharia da Otan são mais avançados, de disparo mais ágil e mais letais que as armas existentes na Ucrânia. Eles são melhores em fogo de contrabateria, mais fáceis de consertar, pois possuem partes modulares que podem ser substituídas quando necessário, e simples de usar. Ele nota que os sistemas de artilharia franceses Caesar, a caminho da Ucrânia, são “os melhores do mundo hoje”, juntamente com os suecos Archer.

Esses sistemas de artilharia também se adaptam bem aos contra-ataques móveis que a Ucrânia está realizando. Sistemas como o Caesar são autopropelidos, sobre rodas ou ferroviários, o que significa que eles são capazes de se evadir mais agilmente.

‘Fogo massivo’

Poder de fogo potente, contudo, tem seu custo. Artilharia cospe munição a um ritmo prodigioso. Projéteis especializados, como os M982 Excalibur, que o Canadá está doando, podem ser guiados precisamente para um alvo por meio de lasers ou GPS. Então, poucos deles são capazes de grande estrago. Mas esses projéteis deverão ser escassos.

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Se a artilharia é usada para “fogo massivo” – em outras palavras, para cobrir um determinado espaço com uma chuva de projéteis –, o envio americano de 144 mil munições poderia “acabar em dias”, diz Sam Cranny-Evans, outro especialista do Rusi. Além disso, a artilharia ucraniana usa projéteis de padrão soviético e russo, de 152 milímetros, então a munição não poderia ser usada em armas novas.

O desafio não é apenas obter os projéteis, mas também levá-los às linhas de frente. Um projétil de artilharia de 155 milímetros pesa cerca de 50 quilos; alimentar uma dúzia de armas disparando 200 munições requer um carregamento de mais de 100 toneladas. Os comboios de fornecimento são um alvo perfeito – conforme a Rússia descobriu.

Apesar disso, os artilheiros ucranianos têm motivo para se sentir confiantes de que seus estoques de munição não se esgotarão. Em 19 de abril, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, sugeriu que os EUA manterão o fornecimento de novos howitzers pelo tempo que for necessário. “Os EUA estarão na frente, fazendo o que pudermos para ajudá-los a chegar lá.” /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO


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