Sugar, uma cadela Chihuahua grávida de dois quilos e meio, estava lutando para dar a luz em meados de maio, um problema que possivelmente a maioria dos veterinários poderiam resolver com relativa facilidade. Em vez disso, um tosador que fingia ser um veterinário estragou a cesárea de Sugar. Uma semana depois, ela morreu.
Na última sexta-feira, 11, Osvaldo “Ozzy” Sanchez, de Naples, na Flórida (EUA), foi acusado de dois crimes: prática de medicina veterinária sem licença e crueldade animal resultante em dor, sofrimento e morte. Sua fiança foi fixada em US$ 60 mil (aproximadamente R$ 300 mil), que foi paga antes de sua libertação, no sábado, 12. Sanchez, de 61 anos, não atendeu a pedidos de comentários do The Washington Post. Os registros do tribunal não constam um advogado vinculado a ele.
No dia 18 de maio, uma das tutoras de Sugar, uma mulher identificada como “BD” nos documentos do tribunal, estava em casa com a Chihuahua de seis anos, enquanto seu marido estava fora da cidade a trabalho, escreveu o detetive do xerife do condado de Collier, Bruce Cordivari, em um declaração juramentada.
Sugar estava tendo problemas para ter a sua ninhada, então BD ligou para seu marido, identificado como “LP” na declaração, para saber o que fazer. Como a mulher não podia dirigir naquela semana, afirma o depoimento, o casal descartou sua clínica veterinária habitual para tratamento. Em vez disso, LP contatou Sanchez, que já havia tratado um dos outros cães do casal, acrescenta. LP foi informado de que Sanchez era médico veterinário quando foram apresentados pela primeira vez por um amigo em comum, de acordo com o depoimento.
Sanchez disse a LP que ele estava perto da casa do casal e poderia dar uma olhada em Sugar. Ele supostamente avisou LP que poderia precisar fazer uma cesariana. Sanchez chegou na casa do casal em uma van estampada com o logo “Ozzy Pet Grooming”, escreveu o detetive no depoimento. Sanchez levou Sugar para a van, onde a examinou. Ele disse a BD que teria que operar, então injetou no cachorro um analgésico e anunciou que teria que esperar que o sedativo fizesse efeito.
BD aproveitou a oportunidade para voltar para dentro de casa para fazer alguma coisa. “Quando ela retornou à van, Sanchez já havia cortado Sugar e ela estava gritando alto de dor”, afirma o depoimento. BD questionou o suposto veterinário sobre os gritos de Sugar, levando-o a injetar mais sedativo no cachorro, segundo o depoimento. Então ele supostamente removeu um filhote natimorto de Sugar e “jogou-o no lixo em sua van”.
Ele costurou a incisão de Sugar antes de sair, afirma a declaração. O casal diz que pagou ao falso veterinário US$ 600 pelo procedimento. Embora Sanchez tenha dito a BD que Sugar acordaria em algumas horas, a chihuahua permaneceu desacordada por mais de cinco horas. Quando acordou, estava grogue e não conseguia andar, de acordo com o depoimento.
As coisas pioraram a partir daí, segundo o depoimento. No dia seguinte, Sugar começou a tremer e “não estava bem”, tanto que seus donos temeram que ela morresse. No outro dia, 20 de maio, eles levaram ao veterinário usual, que percebeu que Sugar estava estava com icterícia, extremamente letárgica e “próxima da morte”, afirma o depoimento.
Os donos de Sugar disseram a ele que ela havia passado por uma cesariana em casa, o que foi um sinal de alerta para o veterinário, já que esse procedimento geralmente é realizado em um ambiente médico. O veterinário notou que a incisão havia sido costurada com “algum tipo de fio” em vez de suturas estéreis, afirma o depoimento.
Ele encontrou a ferida vermelha e inchada e descobriu que havia sido revestida com um incomum “spray brilhante prateado” que ele nunca tinha visto antes, de acordo com o depoimento. O médico veterinário e a sua equipe trataram Sugar por dias, alimentando-a por sonda e dando medicação para dor e inflamação.
Entretanto, ela não melhorou. Depois de cinco dias, a equipe recomendou aos donos de Sugar que a transferissem para outra clínica veterinária, com uma máquina de ultrassom tecnologicamente mais avançada. No dia 25 de maio, os veterinários que examinaram Sugar descreveram seus pontos como “amadores e pouco profissionais”, observando que nunca haviam visto tal padrão de sutura, de acordo com o depoimento.
Quando a equipe contatou Sanchez para obter mais informações sobre a cesariana, ele teria gritado com eles e dito que não teria tempo para falar, antes de desligar. Um ultrassom revelou que o estômago de Sugar estava significativamente distendido e inflamado e que seu pâncreas estava inchado e inflamado, descreveu o depoimento.
Depois de um procedimento de duas horas, os donos de Sugar a levaram de volta para a clínica habitual, a deixaram lá para mais tratamentos e foram para casa. Mais tarde naquela noite, a equipe telefonou para avisá-los de que Sugar havia falecido. Era uma morte evitável, disseram autoridades.
O veterinário do casal disse ao detetive que, se um veterinário de verdade tivesse realizado a cirurgia original, Sugar provavelmente teria sobrevivido, afirma o depoimento. Ele disse que nem ele nem os outros veterinários da clínica jamais tiveram um animal morto por causa de uma cesariana, de acordo com o depoimento.
O detetive Cordivari verificou os registros do estado e não encontrou licença veterinária para Sanchez. Ele encontrou uma licença de empresa que Sanchez obteve quatro anos antes. Em 2019, ele criou uma companhia limitada chamada “Ozzy Tree Service and Lawn Care”, segundo a Divisão Estadual de Corporações. Um ano depois, ele mudou o nome da empresa para “Ozzy Pet Grooming”.
Uma semana depois que Sugar morreu, Sanchez supostamente ligou para os seus donos em uma noite para perguntar quem havia feito uma queixa criminal contra ele. Ele disse a BD que não tinha uma licença veterinária e que poderia ir para a cadeia. Sanchez deve ser indiciado em 5 de setembro. Ele pode pegar 10 anos de prisão se for condenado pelas duas acusações./Washington Post.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.