ENVIADA ESPECIAL A LONDRES - Economia, imigração, habitação e saúde. De acordo com levantamento do YouGov, esses são os quatro tópicos escolhidos pela população como assuntos centrais das eleições no Reino Unido. Nesta quinta-feira, 4, cidadãos dos 4 países que compõem a nação britânica (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) vão às urnas para definir o próximo primeiro-ministro e bancada que irão governar o país.
Depois de 14 anos sob liderança do partido Conservador, a previsão é que o Parlamento do Reino Unido seja comandado por um primeiro-ministro trabalhista. Liderando os rankings com 40% das intenções de voto, de acordo com levantamento da BBC em 2 de julho, o partido de Keir Starmer é favorito para formar a Casa dos Comuns, e, com isso, enfrentar os desafios propostos pela população.
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O desafio do Brexit: economia e imigração
Aprovado em 2020, sob a liderança de Boris Johnson, o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) ainda demonstra ser um tópico sensível de campanha para os principais candidatos ao parlamento britânico.
O motivo é claro: os efeitos do Brexit são negativos na economia do país e não tem boa reputação entre cidadãos britânicos, como explica Andrew Blick, professor da King’s College of London. “Não existe substituto dos acordos da União Europeia para a economia inglesa,” afirma.
O professor identifica atualmente dois grandes desafios econômicos para o próximo primeiro-ministro: encontrar acordos comerciais que permitam ao setor de manufatura fechar negócios e a atração de investimentos para o país. Dados oficiais estimam que o Reino Unido sofreu uma queda de 10% nos investimentos após o Brexit.
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”Existe uma barreira regulatória que impede que o Reino Unido faça acordos comerciais com países da União Europeia, e isso prejudica muito o setor agrícola do país, por exemplo. O Reino Unido não tem outros parceiros comerciais que se igualem. Além disso, o Brexit causou uma saída de investimentos no país “, explica.
O impacto da saída da União Europeia se reflete também no fenômeno da fuga de cérebros do país, resultando na falta de mão de obra para setores essenciais. A cidadã alemã e estudante de mestrado, Lena Omelchenko, conta que não sabe o que será do seu futuro na Inglaterra, que dependerá das decisões que o próximo primeiro-ministro tomar sobre imigração.
Por ter vindo para o país após a votação do Brexit, a estudante tem dias contados para residir no Reino Unido. “Já aumentaram o salário mínimo para vistos de trabalho. Eu tenho medo que criem algo novo e meu visto de formatura deixe de existir e eu tenha que ir embora” ela afirma.
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O desafio da saúde
Esperando há 10 meses por um medicamento para tratar de uma doença autoimune, Frank (que pediu para ter o nome trocado) conta que já cansou de aguardar por uma resposta do hospital. “Eu corri atrás de transferir meu tratamento no mesmo dia que cheguei na Inglaterra, porque já conhecia a reputação do sistema de saúde daqui. Me falaram que seria realmente difícil, e está sendo como me avisaram,” ele se lamenta.
Frank costumava receber seus medicamentos em outro país, e, ao se mudar para a Inglaterra, viu que dar continuidade no seu tratamento incluiria uma longa fila de espera e horas a fio no telefone. “O pior de tudo é que eles ainda me avisaram que se eu não ouvisse nada deles em 3 meses, eu ficaria por conta própria de ter que fazer ligações e correr atrás de uma consulta,” reclama.
Tratando de uma doença tópica, o paciente precisa de injeções semanais; um estoque que já beira o fim. “Eles me dizem que tem poucos dermatologistas e equipe para me atender. Estou esperando uma visita da enfermeira desde maio e sempre mudam a data. Dessa vez me disseram que virão semana que vem. Vamos ver,” conta.
O caso de Frank é um entre os 7,6 milhões em fila de espera no país, um número quase três vezes maior do que em 2010. De acordo com dados oficiais, o NHS, sistema de saúde do Reino Unido, não atinge metas de tratamento desde 2016. Além de um desafio para pacientes, o NHS é um desafio de investimento. Em termos de infraestrutura, estima-se que as pendências de manutenção atingiram 12 bilhões de libras esterlinas (R$ 85,5 bilhões) no último ano — um valor considerado 185,7% acima da taxa de alto risco (4,2 bilhões de libras esterlinas ou R$ 30 bilhões).
De acordo com a The Health Foundation, organização de consultoria de saúde, a situação que o sistema de saúde britânico enfrenta no momento é a pior da história. “Não existem soluções rápidas, mas o serviço de saúde pode recuperar com um plano de longo prazo que combine a combinação certa de mudança política, inovação e melhoria radicais e investimento a longo prazo,” afirmam em um relatório recente.
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Os desafios de moradia
Em Londres, dividindo um apartamento de dois quartos com três amigos, Himani Seth se queixa da dificuldade de encontrar moradia acessível na cidade: “encontrar um lugar decente para alugar que fosse acessível foi um desafio enorme.”
De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS), a média de preço de aluguéis na cidade de Londres subiu cerca de 10% no último ano. Dados do ONS também mostram que, no ano que terminou em março de 2022, moradores de Londres gastavam em torno de 35% de sua renda com aluguéis. Para aqueles que desejam realizar o sonho da casa própria, a meta parece mais distante ainda. O preço médio de uma casa em Londres é de 502 mil libras esterlinas (R$ 3,7 milhões), o que equivale a onze vezes a média salarial do país.
A situação, para Himani, não é diferente. Ela conta sobre a dificuldade de manejar gastos morando na Inglaterra. “Tenho que fazer um esforço muito grande para administrar o aluguel e outras despesas básicas. Durante as férias, tive que trabalhar em dois empregos para economizar o suficiente para sobreviver durante o período letivo. Além disso, quase não como fora ou faço compras para economizar,” explica.