Trabalhistas abandonam radicalismo e caminham para maior vitória da história no Reino Unido

O líder da legenda Keir Starmer expurgou a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação ao partido

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Por William Booth (The Washington Post) e Karla Adam (The Washington Post)

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, e seu governista Partido Conservador alertam os eleitores afirmando que, se o Partido Trabalhista ganhar a próxima eleição, seu país se tornará um “Estado socialista de partido único”. Pode soar assustador. Mas onde estão os socialistas?

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, anunciou para o país na quinta-feira que o antigo Partido Trabalhista morreu.

Saíram: as universidades gratuitas.

Entrou: “a geração de riqueza”.

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Com um foco implacável, ao longo de anos trabalhando em comissões complexas, interligadas e com frequência secretas, Starmer expurgou eficazmente a extrema esquerda de seu partido, negando aos seus representantes não apenas lugar nas cédulas das eleições de 4 de julho, mas também filiação à legenda.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de um compromisso de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Manifesto

Na quinta-feira, Starmer lançou o manifesto de seu partido — todos os partidos britânicos chamam suas plataformas de “manifesto” — a quilômetros de distância das promessas eleitorais cinco anos atrás.

Bem-vindos a um “Partido Trabalhista transformado”, como Starmer definiu a legenda dúzias de vezes durante o discurso em Manchester no qual pronunciou o manifesto.

Alguns críticos qualificaram Starmer como “persistente” e “implacável” ao observar sua tentativa de reinventar o Partido Trabalhista. Outros usam termos como “tedioso” ou “opaco”. Sua própria equipe de relações públicas empurra a narrativa dele ser o “Starmer sem drama” (que não soa tão bem quanto “Obama sem drama”).

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Starmer não está fazendo uma campanha espalhafatosa. Nenhum showzinho. E isso é proposital. “Se você está 20 pontos à frente nas pesquisas, não há porque assustar os eleitores”, afirmou o diretor do instituto de análise britânico More in Common, Luke Tryl.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, posa para uma foto ao lado de um ônibus trabalhista em Manchester, Reino Unido  Foto: Stefan Rousseau/AP

Sublinhando suas principais promessas, Starmer afirmou que o Partido Trabalhista terá foco em segurança, em vigilância de fronteiras e na economia — e em colocar mais policiais nas ruas para combater delitos menores e “comportamentos antissociais”, como beber e usar drogas em público.

O manifesto descreve planos de impulsionar a riqueza racionalizando regras, trabalhando proximamente com as empresas e colocando o dinheiro dos contribuintes — como o Fundo de Riqueza Soberana, de US$ 9 bilhões — em parcerias com indústrias importantes, para baixar o risco do investimento privado.

Starmer prometeu não aumentar impostos sobre renda, seguros nacionais e valor agregado — para as pessoas comuns. Mas afirmou que fechar brechas que permitem evitar impostos e novos tributos sobre pagamentos como mensalidades de escolas particulares poderiam gerar mais de US$ 10 bilhões.

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Ele usou repetidamente o termo “pessoas trabalhadoras”, não “os trabalhadores” aos quais seus antecessores se referiam. “Geração de riqueza é nossa prioridade número um; crescimento é o nosso principal empreendimento”, prometeu ele.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, posa para uma foto ao lado do líder da oposição, Keir Starmer, durante a abertura do Parlamento britânico  Foto: Hannah Mckay/AFP

Apoiadores tradicionais

Alguns apoiadores tradicionais do Partido Trabalhista, como os sindicatos, expressaram preocupação, afirmando que o manifesto favorece muito mais o patrão do que o empregado.

Sunak, que prometeu US$ 22 bilhões em cortes de impostos se os conservadores vencerem a eleição, respondeu ao manifesto trabalhista postando, “Se você acha que eles vão ganhar, comece a economizar”. Ele afirmou que as promessas trabalhistas “ocasionariam os impostos mais altos na história”.

Starmer teve o discurso da quinta-feira interrompido por uma manifestante que acusou o líder trabalhista de defender “as mesmas velhas políticas dos conservadores” e abandonar os jovens.

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Starmer declarou, “Nós deixamos de ser um partido de protesto cinco anos atrás. Nós queremos ser um partido de poder”, conforme a manifestante era retirada por agentes de segurança.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma coletiva de imprensa após um evento de campanha em Southampton, Reino Unido  Foto: Kin Cheung/AP

Na última eleição geral, em 2019, o então líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn — cujo vice afirmava que seu livro favorito era “O Capital”, de Karl Marx — prometeu cuidado domiciliar a idosos gratuito, incluindo serviços como fazer compras para os atendidos e arrumação de suas residências. Corbyn disse que seu partido nacionalizaria as ferrovias, o fornecimento de gás e eletricidade, o serviço postal, empresas de água e a internet de banda larga.

Corbyn perdeu de lavada para o brexiteer Boris Johnson. Starmer concluiu que o Partido Trabalhista deve retornar para o centro — e especialmente purgar o partido da “mancha do antissemitismo” criada quando vozes pró-palestinos viram ódio anti-Israel e contra os judeus.

Corbyn não foi apenas silenciado. Foi expulso do partido por Starmer e seus aliados centristas. Corbyn tentará agora reconquistar seu assento no Parlamento como independente.

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Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista, conversa com Keir Starmer, atual líder da legenda, em Londres, Reino Unido  Foto: Ben Stansall/AFP

Imagem

Starmer “desintoxicou a imagem trabalhista, colocou o foco em segurança nacional, campo em que havia preocupações sobre Corbyn, e é visto como fiscalmente responsável”, afirmou Tryl, do instituto More in Common. “Ele está tentando seduzir os conservadores brandos: ‘Olha, não tem problema vocês votarem no Partido Trabalhista, nós não faremos nada para subverter as coisas’.”

Starmer segue os passos de Tony Blair, o último trabalhista vencedor, que liderou seu partido em três mandatos consecutivos, algo sem precedentes na política britânica, servindo como primeiro-ministro de 1997 a 2007. Blair posicionou seu partido no “Novo Trabalhismo”, um movimento mais centrista que parecia similar aos democratas moderados e abertos ao diálogo sob o ex-presidente americano Bill Clinton, que era aliado de Blair.

Posteriormente, Blair tornou-se objeto de escárnio da extrema esquerda trabalhista, que se ressentia em razão do ex-primeiro-ministro ter envolvido o Reino Unido na longa guerra no Iraque e criticava seus apoiadores, ou “blairites”, qualificando-os como ”revanchistas”.

Anteriormente nesta campanha, Starmer surpreendeu alguns eleitores ao afirmar que ainda é socialista. (Quando jovem, ele trabalhou como editor de uma revista trotskista chamada Alternativas Socialistas.)

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“Eu me descreveria como um socialista. Eu me descrevo como um progressista. Eu me descreveria como alguém que sempre põe o país em primeiro lugar e o partido, em segundo”, afirmou Starmer.

Sua vice, Rachel Reeves, não fica muito confortável com isso. Questionada sobre também ser socialista, ela respondeu que é social-democrata.

O diretor-executivo da firma de consultoria política Electoral Calculus, Martin Baxter, afirmou que Starmer pode estar tentando amparar sua base de esquerda com essa fala, ou pode acreditar que é realmente socialista, o que pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Socialista” não é um termo que todos os colegas usariam para descrever Starmer atualmente.”Keir Starmer sabe o que é um socialista?”, perguntou o jornal Trabalhador Socialista em uma manchete.

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Agenda

Os conservadores afirmam que Starmer está escondendo sua verdadeira agenda.

Em seu discurso da quinta-feira, Starmer não mencionou a nacionalização de nenhuma indústria. Em vez disso, afirmou que seu governo criaria a empresa Great British Energy, uma estatal destinada a produzir energia mais limpa e mais verde — e uma empresa entre várias competidoras. Ele não falou nada sobre estatizar as ferrovias, mas seu manifesto afirma, “Nós priorizaremos os passageiros no serviço reformando as ferrovias e tornando-as propriedade pública. Faremos isso conforme contratos com operadores existentes expirarem ou forem rompidos por eventuais incumprimentos, sem custar nenhum centavo aos contribuintes em contrapartida”.

Sunak e Starmer foram entrevistados na noite da quarta-feira. Beth Rigby, da Sky News, introduziu seu interrogatório a Starmer disparando: “O sr. disse ao país que Jeremy Corbyn seria um grande primeiro-ministro. Então o expulsou do Partido Trabalhista. O sr. fez campanha por um segundo referendo sobre a UE. Mas agora nem fala da UE. E descartou todas as políticas de esquerda. (…) Sua curta carreira política é na realidade um catálogo de promessas quebradas e mudanças de posicionamento.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, participa de uma entrevista em Londres, Reino Unido  Foto: Aaron Chown/AP

Starmer respondeu que colocou seu partido de volta nos trilhos responsavelmente após a eleição de 2019. “Quando você perde tão feio, você não olha para os eleitores e diz, ‘O que vocês acham que estão fazendo?’ Você olha para o seu partido e diz, ‘Nós temos que mudar’.”

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Baxter notou que Starmer “parece sensato e não é repugnante” para muita gente, mas seu apoio não é profundo. “É motivado por um sentimento anticonservador.”

Até aqui, a grande margem de liderança do Partido Trabalhista nas pesquisas de intenção de voto parece mais um episódio em que os conservadores caminham para a derrota do que os trabalhistas rumando para a vitória.

Não obstante, o apoio ao Partido Trabalhista é amplo e consistente. Os trabalhistas figuram à frente dos conservadores em todas as faixas etárias abaixo dos 70 anos e passaram algum tempo 20 pontos adiante. Quando Blair ganhou de lavada, em 1997, o Partido Trabalhista liderava as pesquisas por apenas 13 pontos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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