THE NEW YORK TIMES - A decisão do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, de substituir seu diretor de inteligência doméstica e outra graduada autoridade ucraniana jogou uma rara luz sobre a guerra da Rússia na Ucrânia, dois adversários que buscam penetrar as redes de segurança do rival e obter informações de inteligência cruciais.
Enquanto duelos de artilharia e ataques de mísseis tornaram-se a marca da guerra que castiga a Ucrânia e os Exércitos de ambos os lados, uma batalha clandestina ocorre para detectar e neutralizar qualquer pessoa que tenha intenção de colaborar com o inimigo.
Zelenski aludiu a essa batalha em um discurso televisionado na noite do domingo. Ao anunciar a demissão do diretor do Serviço de Segurança da Ucrânia, Ivan Bakanov, e da procuradora-geral do país, Irina Venediktova, Zelenski notou que centenas de investigações sobre traição foram abertas contra funcionários de corporações policiais ucranianas.
O presidente não sugeriu que nenhuma das autoridades que ele havia demitido era suspeita de traição; Bakanov -- seu amigo de infância -- e Venediktova são considerados aliados de Zelenski. Mas outras autoridades do governo ucraniano os culpam por fracassar em descobrir criminosos que trabalham pelos interesses da Rússia.
“Todos estão esperando tempo demais por resultados mais concretos e, talvez, mais radicais por parte dos chefes desses dois organismos, no sentido de livrá-los de colaboradores e traidores do Estado”, afirmou o conselheiro presidencial Andrii Smirnov a emissoras de TV ucranianas nesta segunda-feira, defendendo a decisão de Zelenski de substituí-los.
Mais sobre a guerra
Até agora, a Ucrânia iniciou 651 investigações criminais contra funcionários de corporações policiais, da Procuradoria e de organismos de investigação pré-judicial a respeito de “traição e atividades de colaboração”, afirmou ele. “Tamanha variedade de crimes apresenta questões sérias para as lideranças relevantes”, afirmou Zelenski.
Ainda que a Ucrânia esteja quase totalmente unida em oposição à invasão russa, seus profundos laços culturais e históricos com a Rússia se traduziram, em certas regiões do país, em bolsões de apoio a Moscou.
Isso é particularmente verdadeiro nas proximidades da Crimeia, no sul da Ucrânia, que o presidente Vladimir Putin anexou para a Rússia em 2014, e em partes do leste ucraniano, nas regiões próximas da fronteira russa. Autoridades ucranianas afirmaram que esses laços se traduziram em apoio prático às forças russas desde a invasão.
Zelenski mencionou no domingo “a transferência de informação para o inimigo, assim como outras formas de cooperação com os serviços especiais de Moscou”, afirmando que qualquer um “que trabalhar para os interesses da Federação Russa também será responsabilizado”.
Desde o início da guerra, mais de 800 pessoas suspeitas de envolvimento em operações de sabotagem e reconhecimento para a Rússia foram detidas e entregues para o Serviço de Segurança da Ucrânia, afirmou no mês passado Yevhen Yenin, primeiro-vice-ministro ucraniano de Assuntos Domésticos.
Os ucranianos frustraram recentemente uma conspiração que tinha como alvo a liderança do governo do país, disse Yenin, afirmando que atualmente existem 123 grupos de contrassabotagem na Ucrânia, empregando cerca de 1,5 mil membros operando dentro de corporações policiais ucranianas.
Autoridades americanas afirmaram no domingo que têm trabalhado há anos com Kiev para melhorar sua segurança operacional e encontrar espiões russos nos serviços de inteligência ucranianos.
Insurgência
Enquanto os ucranianos se esforçam para combater sabotadores e simpatizantes da Rússia em suas fileiras, os russos estão enfrentando uma insurgência organizada e cada vez mais eficiente que empreende uma campanha para identificar e assassinar representantes do Kremlin apontados para administrar territórios ocupados.
Autoridades pró-Rússia deram passos para intensificar seu controle sobre a população nos territórios ocupados, tais como criminalizar críticas à Rússia. Mas os ucranianos continuam a relatar ataques bem-sucedidos contra depósitos de munição cruciais para os russos no território ocupado.
Serhii Khlan, membro do Conselho Regional de Kherson, afirmou em um post no Facebook nesta segunda-feira que “explosões foram ouvidas na comunidade de Nova Kakhovka desde o início da manhã”. Ele afirmou que eram “munições (da Rússia) queimando e explodindo”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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