KIEV- Em uma invasão militar de larga escala, por terra, mar e ar, tropas russas avançam rumo a Kiev e já estão no arredor da Ucrânia. No norte do país, tropas russas vindas de Belarus entraram em uma área perto da antiga usina nuclear de Chernobyl e tomaram o local. Acompanhe ao vivo o conflito neste link, aberto para não assinantes.
Tropas russas confirmaram que entraram em território ucraniano a partir da Península da Crimeia, anexada pelo Kremlin em 2014. Segundo o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, o sul do país concentra grande parte dos combates. A base aérea de Hostomel, sete quilômetros a noroeste da capital, Kiev, que também foi tomada pelos russos. Batalhas também estavam sendo travadas ao sul, perto de Henichesk, Skadovsk e Chaplynka.
A invasão começou na madrugada, depois de o presidente Vladimir Putin ordenar uma operação especial no leste do país, controlado por separatistas pró-Rússia. Bombardeios foram registrados contra alvos militares em Kiev, Kharkiv, Lviv e outras cidades. A comunidade internacional condenou a invasão e o presidente americano Joe Biden deve anunciar ainda hoje uma resposta americana à crise.
Cerco a Kiev
Nos arredores de Kiev, a cerca de 30 km do centro da capital, uma equipe da CNN registrou o momento em que um grupo de paraquedistas russo estabelecia um perímetro de segurança ao redor de uma base aérea recém-conquistada.
De acordo com a emissora americana, oficiais ucranianos temem que o plano russo seja não apenas cercar a capital, mas invadi-la, depondo o governo atuale substituindo por um governo pró-Rússia.
O Ministério da Defesa russo confirma que 74 instalações militares ucranianas foram destruídas até o momento, incluindo 11 bases aéreas.
O ministro da Defesa, Serguei Shoigu, ordenou que os militares ucranianos fossem tratados "com respeito" e aqueles que depuserem suas armas sejam retirados com segurança.
Mais cedo, Zelenski, comparou o ataque russo à invasão promovida pela Alemanha nazista na 2ª Guerra. "A partir de hoje, nossos países estão em lados diferentes da história mundial. A Rússia embarcou em um caminho do mal, mas a Ucrânia está se defendendo e não desistirá de sua liberdade, não importa o que Moscou pense."
Temor de desabastecimento
Horas após a invasão russa, os supermercados de Kiev, capital da Ucrânia, já enfrentam corrida por alimentos. A reportagem do Estadão encontrou prateleiras vazias em um estabelecimento nas proximidades da Praça da Independência, área central da cidade, e filas nos caixas. O temor é de desabastecimento.
Os funcionários do supermercado estavam apreensivos e os clientes, apressados. A recomendação do governo local é permanecer em suas casas ou em ambientes seguros o máximo possível e, ao som do alarme de emergência, dirigir-se a bunkers instalados em estações de metrôs. É a senha para a possibilidade de início de bombardeios.
alarme de emergência soou no fim da madrugada desta quinta-feira após a Rússia invadir a Ucrânia. Bombardeios foram registrados até mesmo em Kiev, que está a 700 quilômetros da fronteira.
Apesar da recomendação do governo, a população, com medo da guerra, tem fugido de Kiev pelas estradas e ferrovias. Congestionamentos são registrados em todas as saídas da capital. Há milhares de pessoas lotando estações de ônibus e trens do metrô, a maioria com bagagem nas mãos, tentando deixar a capital ucraniana às pressas.
Pressão internacional
Autoridades de países como EUA, Reino Unido, Alemanha, França e Japão expressaram indignação e pediram sanções após a Rússia atacar a Ucrânia, nesta quinta-feira, 24, com bombardeios contra alvos militares em Kiev, Kharkiv e outras cidades no centro e no leste. A Otan denunciou como “ataque irresponsável e não provocado” da operação militar do presidente Vladimir Putin; e a União Europeia prometeu “enfraquecer a base econômica do país e sua capacidade de modernização”.
A decisão de Putin gerou repercussão imediata no Conselho de Segurança de Organização das Nações Unidas (ONU) que estava reunido no momento da invasão. O enviado da Rússia à ONU, Vasily Nebenzya, defendeu seu país, dizendo que Moscou não está sendo agressiva contra o povo ucraniano, mas contra a “junta” que ocupa o poder em Kiev.
Entenda o conflito
A invasão da Ucrânia pela Rússia é o ápice da escalada de tensões que começou em meados de novembro de 2021, e que se intensificou esta semana quando o presidente russo, Vladimir Putin, decidiu reconhecer a independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia - movimento que serviu de pretexto para a entrada de tropas russas no país.
As hostilidades entre Rússia e Ucrânia não são novas e remontam ao fim da Guerra Fria. Com o colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, a aliança militar entre europeus e americanos avançou rumo a leste, com países que antes eram da esfera soviética passando à zona de influência ocidental. Na madrugada desta quinta-feira, 24, o presidente Vladimir Putin decidiu atacar a Ucrânia, após três meses de pressão militar.
Com a ascensão de ao poder de Putin na Rússia, em 2000, lentamente começou uma reação russa no sentido de conter essa expansão para o leste. Isso ocorreu porque, para Putin, é fundamental uma espécie de 'zona-tampão' entre a Rússia e o Ocidente para a defesa estratégica de seu país.
Diante disso, primeiro, o Kremlin trabalhou para desestabilizar governos pró-Ocidente na Ucrânia e no Caucaso, ainda na primeira década deste século. A partir de 2007, a preocupação de Putin com o avanço da Otan o levou a operações militares contra a Geórgia, em 2008, e contra a Ucrânia, com a anexação da Crimeia em 2014.
No fim de 2021, Putin mobilizou militares e linhas de suprimento na fronteira, para pressionar a Otan a desistir de avançar para as ex-repúblicas soviéticas, e até mesmo, a retirar tropas de países como Bulgária e Romênia.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.