O ex-presidente Donald Trump domina as intenções de voto para as primárias republicanas apesar de acumular problemas com a justiça americana. Trump é o preferido por 54% dos eleitores do partido, segundo a pesquisa feita pelo The New York Times em parceira com a universidade Siena College divulgada nesta segunda-feira, 31.
O levantamento é uma má notícia para o governador da Flórida, Ron DeSantis, que aparece com 17% das intenções de voto. Os resultados da pesquisa mostram que o principal rival de Trump enfrenta dificuldades para convencer os eleitores republicanos de que ele seria a melhor escolha para enfrentar Joe Biden em 2024.
A campanha tem argumentado que ele teria um percurso mais fácil na disputa pela Casa Branca e que governaria com mais eficiência.
O governador ancora o discurso na vitória expressiva que o reelegeu governador, no ano passado. Antes um estado-pêndulo, a Flórida consolidou uma tendência republicana na última eleição de meio de mandato e adota políticas cada vez mais conservadoras sob o comando de Ron DeSantis, que promete fazer o mesmo em todo país se for eleito presidente.
A plataforma conservadora de Ron DeSantis no estado inclui a proibição do aborto a partir de seis semanas de gestação, uma das legislações mais restritivas de todo país. Além da lei conhecida como “Don’t Say Gay” (Não Diga Gay em tradução livre), que veta educação sexual nas escolas. Essa última está no centro da batalha deflagrada pelo governador contra a Disney, que criticou a política anti-LGBT.
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A pesquisa, no entanto, revela que os eleitores republicanos não estão convencidos. DeSantis perde para Trump em todos os segmentos: homens, mulheres, jovens, idosos, com ou sem ensino superior, moradores de áreas urbanas ou rurais e até entre os mais conservadores.
Entre os entrevistados que se dizem mais identificados com a batalha ideológica travada por Ron DeSantis, o governador tem 36% das intenções de voto contra 61% que preferem Donald Trump. Entre os que se declaram muito a favor da lei contra o aborto adotada na Flórida, 70% querem que Trump seja o candidato republicano para disputar a Casa Branca de novo em 2024.
O servidor de Miami Marcel Paba, de 22 anos, disse ao The News York Times que aprova o governo do estado, mas não acha que ele possa bater o entusiasmo que o ex-presidente desperta.
“Existem mais fãs obstinados de Trump do que de Ron DeSantis. Mesmo na Flórida”, disse ele. “Não vejo pessoas usando boné do Ron DeSantis em lugar nenhum, sabe?”
A declaração reflete o sentimento expressado na pesquisa, que ouviu 932 pessoas: os republicanos gostam do governador, mas preferem o ex-presidente.
“Se não estivesse concorrendo contra Trump, DeSantis provavelmente seria a minha próxima escolha”, afirma o técnico de manutenção em Ohio Staton Strohmenger, de 48 anos.
Os republicanos veem o ex-presidente como um “líder forte” (69%), que “faz as coisas” (67%) e que é “capaz de derrotar Joe Biden” (58%). A maior parte também considera Trump uma figura “divertida” (54%).
Os outros candidatos do partido tem no máximo 3% das intenções de voto para as primárias, incluindo Mike Pence, que foi o vice de Donald Trump.
Acúmulo de processos pode atrapalhar Trump
A predileção por Trump é majoritária entre os republicanos apesar dos processos do ex-presidente que avançam na justiça americana. A parcela anti-Trump corresponde a 1/4 dos eleitores do partido.
Apenas 19% afirmam que o comportamento dele depois da derrota em 2020 ameaçou a democracia americana e só 17% acreditam que ele cometeu crimes graves, apesar das acusações que pesam contra o republicano.
Trump foi o primeiro ex-presidente da história americana a virar réu. Ele é acusado de colocar em risco a segurança nacional no caso dos documentos secretos encontrados na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida.
O caso ganhou novos desdobramentos esta semana com a acusação contra o caseiro Carlos de Oliveira, de 56 anos, que compareceu a um tribunal de Miami nesta segunda.
Oliveira teria tentado convencer um outro funcionário que não foi identificado a apagar imagens das câmeras de segurança. O caseiro ouviu as acusações contra ele acompanhado do advogado e foi liberado sob o pagamento de fiança de US$ 100.000, equivalente a R$ 472 mil.
Saiba mais sobre o caso dos documentos secretos
Além de Trump e do caseiro, a lista de acusados no caso dos documentos secretos inclui o assistente pessoal do ex-presidente Waltine Nauta. Ele, por sua vez, teria tentado impedir que as autoridades recuperassem os arquivos.
O início do julgamento está marcado para maio de 2024, durante as primárias do partido Republicano. Por isso, o cenário é imprevisível apesar das pesquisas favoráveis para o ex-presidente.
Trump ainda responde a 34 acusações de falsificação de registros financeiros no caso que envolve a atriz pornô Stormy Daniels. De acordo com a promotoria de Nova York, a fraude teria o objetivo de impedir que casos do ex-presidente se tornassem públicos antes das eleições de 2016. O julgamento também está marcado para começar durante as primárias, em março do ano que vem.
Investigação sobre eleição de 2020 avança
Trump também é investigado pela tentativa de reverter o resultado das eleições de 2020, quando foi derrotado pela democrata Joe Biden.
Na Georgia, os promotores apuram a ligação em que o ex-presidente sugere à principal autoridade eleitoral do estado, o republicano Brad Raffensperger, que ajuda “encontrar” os votos necessários para vencer Biden.
A investigação da Geórgia foi motivada pelo telefonema de 2 de janeiro de 2021 que Trump fez ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, um colega republicano. Trump sugeriu que o principal funcionário eleitoral do estado poderia ajudar a “encontrar” os votos necessários para colocá-lo à frente do democrata Joe Biden no estado.
“Tudo o que quero fazer é o seguinte: só quero encontrar 11.780 votos, que é um a mais do que temos”, disse Trump. Na gravação vazada ele ainda insiste falsamente: “nós ganhamos o estado”. Na verdade, a Georgia deu uma vitória apertada para Biden, que levou os 16 delegados estaduais por menos de 12 mil votos.
Nesta segunda-feira, o republicano sofreu um revés nesse caso. O ex-presidente acionou a justiça para tentar impedir a procuradora Fani Willis de processá-lo, mas o pedido foi negado e Trump pode ser acusado formalmente nas próximas semanas.
A procuradora já indicou que o júri para decidir se Trump será indiciado ou não deve ser acionado ainda no mês de agosto./The New York Times, AP e AFP
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