O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva na noite de quinta-feira, 27, para remover “ideologia inapropriada” do famoso complexo de museus da Smithsonian Institution, em Washington, que ele acusa de se envolver em “doutrinação” em questões de raça e gênero.
A ordem executiva, nomeada “Restaurando a Verdade e a Sanidade da História Americana”, encarrega o vice-presidente J.D. Vance a eliminar o que ele considera “impróprio” da Smithsonian Institution, incluindo seus museus, centros educacionais e de pesquisa, e o Zoológico Nacional. O documento da Casa Branca descrevendo a ordem disse que ela se concentrará em remover a “ideologia antiamericana”.
Trump tem tentado erradicar o que ele chama de cultura “woke” desde que retornou à Casa Branca em janeiro e acusou o Smithsonian Institution de reescrever a história americana.

A instituição, guardiã oficial da história americana, atua de forma independente como uma parceria público-privada criada por um ato do Congresso em 1846. A ordem é um ato sem precedentes para editar uma instituição que vem se expandindo ao longo de muitas décadas para incluir uma narrativa mais ampla, rica e diversa da história da nação.
“Na última década, os americanos testemunharam um esforço concentrado e generalizado para reescrever a história da nossa Nação, substituindo fatos objetivos por uma narrativa distorcida, movida pela ideologia em vez da verdade”, diz a ordem executiva. “Este movimento revisionista busca minar as conquistas notáveis dos Estados Unidos, lançando seus princípios fundadores e marcos históricos sob uma luz negativa.”
A ordem de Trump chama a abordagem evolutiva do museu de uma reconstrução da história que é “inerentemente racista, sexista, opressiva ou de outra forma irremediavelmente falha”.
Historiadores ficaram imediatamente consternados com a decisão. “Atacar a ideia de que contar toda a história dos Estados Unidos é uma conspiração ideológica para lançar uma luz negativa sobre os Estados Unidos é um testemunho de uma insegurança surpreendentemente frágil sobre nossa nação e seu passado”, disse Chandra Manning, professora de história americana na Universidade de Georgetown ao Washington Post.
“Parece sugerir que se permitirmos que alguém ouça toda a história dos desafios que os americanos superaram, nossa nação irá se despedaçar. O povo americano não é tão frágil assim”, disse Manning.
A ordem de Trump citou exemplos de exibições que, segundo ele, retratam valores americanos e ocidentais como “inerentemente prejudiciais e opressivos”. Ela também proíbe que mulheres transgênero sejam incluídas no futuro Museu de História das Mulheres Americanas, que atualmente existe como uma exibição online e estima que a construção possa levar mais de 10 anos.
“Antes amplamente respeitada como um símbolo da excelência americana e um ícone global de conquistas culturais, a Smithsonian Institution, nos últimos anos, ficou sob a influência de uma ideologia divisiva e centrada na raça”, diz a ordem.
A decisão ainda tem como alvo específico uma das mais recentes adições ao portfólio de 21 museus do Smithsonian — o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, inaugurado em 2016 sob a liderança do historiador Lonnie G. Bunch III, que se tornou o 14º e primeiro secretário afro-americano do Smithsonian em 2019.
A ordem alega que o museu “proclamou que ‘trabalho duro’, ‘individualismo’ e ‘família nuclear’ são aspectos da ‘cultura branca’”. Essas frases apareceram em um infográfico no site do museu há cinco anos, em uma seção que abordava a maneira como a raça é frequentemente discutida. Ela foi removida em 2020 , depois que Donald Trump Jr. gerou críticas sobre essas palavras em uma postagem nas redes sociais.
O Smithsonian é governado por um Conselho de Regentes, composto por nove cidadãos, seis membros do Congresso, o presidente do Supremo Tribunal John G. Roberts Jr. e Vance.
Não está claro quanto poder Vance pode ter para implementar a ordem além de argumentar para reter o financiamento. Autoridades do Smithsonian não retornaram um pedido de comentário.
Restaurar quaisquer monumentos ou memoriais removidos desde 1º de janeiro de 2020 também faz parte da ordem executiva. Esse foi o início de um acerto de contas americano com a forma como os ícones confederados eram homenageados em espaços públicos. Várias estátuas e memoriais foram removidos ou realocados por governos locais./Washington Post e AFP.