Trump começa a comandar os EUA com discurso agressivo e nacionalista

Sem recorrer ao tom conciliatório típico de posses, presidente afirma que só haverá a ‘América em primeiro lugar’; magnata promete resgatar supremacia americana com mais segurança na fronteira, criação de empregos e ‘fim de carnificina’

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Por Cláudia Trevisan, CORRESPONDENTE e WASHINGTON

WASHINGTON - Donald Trump tomou posse nesta sexta-feira, 20, como 45.º presidente dos EUA com um discurso sem palavras conciliatórias na direção de seus críticos, no qual apresentou um retrato sombrio do país e do mundo, atacou a classe política, repetiu suas promessas populistas e reforçou o nacionalismo extremo que marcou sua campanha eleitoral. 

Magnata republicano assume presidência americana Foto: AFP

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“A carnificina americana acaba aqui e acaba agora”, disse. “De hoje em diante, uma nova visão governará a nossa terra. De hoje em diante, só haverá a América em primeiro lugar.” O presidente eleito descreveu os EUA como um país explorado por outras nações, que acusou de roubarem os empregos, a indústria e a riqueza americana. 

Abusando de superlativos, prometeu resgatar a supremacia supostamente perdida e tornar a América grande de novo, com a criação de empregos, segurança das fronteiras e prosperidade. Trump disse que os EUA manterão alianças internacionais e criarão novas para derrotar o “terrorismo islâmico radical, que será erradicado da face da terra”.

A posse foi assistida por centenas de milhares de pessoas reunidas no Mall, o extenso gramado que vai do Congresso ao Memorial Lincoln. No momento em que Trump começou a falar, uma leve chuva caiu sobre a capital americana.

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O bilionário, que fez campanha como um outsider que nunca ocupou um cargo público, iniciou seu discurso com um ataque à classe política, da qual dependerá para colocar em prática grande parte de sua agenda. Algumas de suas propostas poderão ser aprovadas por decreto, mas muitas dependerão do Congresso. “Políticos prosperaram, mas os empregos se foram e as fábricas fecharam. O establishment político protegeu a si, mas não aos cidadãos.”

O partido de Trump tem maioria nas duas Casas, mas o presidente e sua legenda nem sempre estão alinhados ideologicamente. Há desconforto crescente entre republicanos no Senado com os gestos conciliatórios do novo presidente em direção ao presidente russo, Vladimir Putin, e as suspeitas de interferência de Moscou na eleição.

Derrotada por Trump na disputa de novembro, a democrata Hillary Clinton participou da cerimônia. Vestida de branco, ela estava acompanhada de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton. Trump não apertou a mão de Hillary quando chegou ao terraço em que a posse ocorreu. Segundo o Washington Post, Trump cumprimentou a ex-adversária após a cerimônia. “Obrigado por estar aqui”, disse o presidente, de acordo com o jornal.

O tom beligerante do discurso de Trump contrastou com o de seus antecessores, que costumam usar seu primeiro pronunciamento à nação para tentar curar feridas abertas na disputa eleitoral. O bilionário ignorou as divisões provocadas por sua vitória e falou como se sua presidência tivesse aprovação unânime dos americanos. 

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“Os discursos de posse têm o objetivo de serem inspiradores, não deprimentes”, disse o cientista político David Cohen, professor da Universidade de Akron. “Não creio que Trump seja capaz de realizar gestos conciliatórios e não creio que isso mudará. Nós teremos quatro anos bastante turbulentos.” Cohen acredita que o pronunciamento indicou uma grande mudança na política externa americana, com maior ênfase no isolacionismo em detrimento do internacionalismo. 

O discurso de 16 minutos seguiu a tradição de apresentar os princípios que vão orientar o governo. O principal tema foi a promessa do resgate de empregos e fábricas que teriam sido “roubados” por outros países. Foi ela que garantiu a vitória de Trump com os votos do “cinturão da ferrugem” do Meio-Oeste americano, onde muitos edifícios que abrigavam fábricas se transformaram em ruínas.

O tom nacionalista da gestão Trump ficou evidente em um de seus primeiros atos como presidente: a criação de um Dia Nacional do Patriotismo. Apesar de o novo presidente dizer que sua posse atrairia um público recorde, fotos aéreas mostraram um número muito inferior ao registrado na posse de Barack Obama, em 2009, quando 1,8 milhão de pessoas se reuniram em Washington. As autoridades da capital esperavam entre 700 mil e 900 mil pessoas para a cerimônia desta sexta.

A posse do novo presidente também foi desfalcada de estrelas do mundo artístico. A comunidade de Hollywood apoiou em peso a candidatura de Hillary e vários artistas recusaram o convite para se apresentar durante as celebrações. Depois da cerimônia, Trump desfilou ao lado da mulher, Melania, do Congresso até a Casa Branca. Mais tarde, ele quebrou o protocolo ao deixar o veículo blindado para saudar seus eleitores.

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