O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na quinta-feira, 07. Essa foi a primeira conversa telefônica entre os dois desde que Trump venceu a eleição, de acordo com várias pessoas informadas sobre o assunto.
Durante a ligação, que Trump fez de seu resort na Flórida, ele aconselhou o presidente russo a não aumentar a guerra na Ucrânia e o lembrou da considerável presença militar de Washington na Europa, segundo uma fonte inteirada com a ligação, que, como outros entrevistados para esta história, falou sob condição de anonimato para discutir um assunto delicado.
Os dois homens conversaram sobre a meta de paz no continente europeu e Trump expressou interesse em dar continuidade às conversas para discutir “a resolução da guerra da Ucrânia em breve”, disseram várias das pessoas.
Em sua campanha presidencial, Trump disse que daria um fim imediato à guerra na Ucrânia, embora não tenha dado detalhes sobre como pretendia fazer isso. Ele sinalizou em particular que apoiaria um acordo em que a Rússia mantivesse algum território capturado e, durante a ligação, levantou brevemente a questão da terra, disseram fontes familiarizadas com o assunto.
A ligação, que não foi relatada anteriormente, ocorre em meio à incerteza geral sobre como Trump redefinirá o tabuleiro de xadrez diplomático mundial de aliados e adversários dos EUA após sua vitória decisiva na terça-feira, 05. Trump disse à NBC na quinta-feira, 07, que havia conversado com cerca de 70 líderes mundiais desde a eleição, incluindo o presidente ucraniano Volodmir Zelenski - uma ligação da qual Elon Musk também participou.
O governo da Ucrânia foi informado sobre a ligação de Putin e não se opôs à realização da conversa, disseram duas pessoas próximas do assunto. As autoridades ucranianas há muito entenderam que Trump se envolveria com Putin em uma solução diplomática para a Ucrânia, afirmaram as fontes.
As ligações iniciais de Trump com líderes mundiais não estão sendo conduzidas com o apoio do Departamento de Estado e de intérpretes do governo dos EUA. A equipe de transição de Trump ainda não assinou um acordo com a Administração de Serviços Gerais, um procedimento padrão para transições presidenciais. Trump e seus assessores desconfiam de funcionários de carreira do governo após o vazamento de transcrições de telefonemas presidenciais durante seu primeiro mandato. “Eles estão apenas ligando diretamente para ele [Trump]”, disse uma das pessoas familiarizadas com as ligações.
“O presidente Trump venceu uma eleição histórica de forma decisiva e os líderes de todo o mundo sabem que os Estados Unidos voltarão a se destacar no cenário mundial. É por isso que os líderes iniciaram o processo de desenvolvimento de relações mais fortes com o 45º e 47º presidente, porque ele representa a paz e a estabilidade globais”, disse Steven Cheung, diretor de comunicações de Trump, em um e-mail.
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Inicialmente, Moscou reagiu com frieza à vitória de Trump, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, dizendo aos repórteres que Putin não tinha planos de ligar para o novo presidente de “um país hostil que está direta e indiretamente envolvido em uma guerra contra nosso Estado”.
Mas na quinta-feira, Putin parabenizou publicamente Trump por sua vitória, elogiando sua resposta “viril” à tentativa de assassinato na Pensilvânia, e disse que estava “pronto” para falar com Trump.
Peskov não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
No início deste domingo, 10, um jornalista do canal de TV estatal russo Rossiya, Pavel Zarubin, publicou uma entrevista com Peskov na qual o porta-voz do Kremlin disse que os sinais de uma melhora nas relações sob a presidência de Trump eram “positivos”.
“Trump falou durante sua campanha sobre como ele vê tudo por meio de acordos, que ele pode fazer um acordo que levará todos à paz. Pelo menos ele fala sobre paz, não sobre confronto e o desejo de infligir uma derrota estratégica à Rússia”, disse Peskov.
Embora a estratégia de Biden e Harris em relação à Ucrânia fosse previsível, Peskov acrescentou: “Trump é menos previsível, e também [é] menos previsível até que ponto Trump manterá as declarações que fez durante a campanha eleitoral. Vamos esperar para ver”.
Um ex-funcionário dos EUA que estava familiarizado com o telefonema de Putin disse que Trump provavelmente não quer entrar no cargo com uma nova crise na Ucrânia provocada pela escalada russa, “dando-lhe incentivo para querer evitar que a guerra piore”.
A ligação de Trump com Zelensky na quarta-feira, 06, foi amigável, mas ocorre no momento em que as autoridades em Kiev estão ansiosas sobre o que uma presidência de Trump pode significar para o esforço de guerra, disseram fontes familiarizadas com a ligação.
A Ucrânia precisa de bilhões de dólares em apoio econômico e militar todos os meses para continuar a se defender de seu maior e mais bem equipado inimigo, que fez avanços militares significativos nos últimos meses. Trump reclamou do custo da guerra para os contribuintes dos EUA e observou em particular que a Ucrânia pode ter que abrir mão de parte de seu território, como a Crimeia, para obter a paz.
As tensões entre a Ucrânia e a campanha de Trump aumentaram após a visita de Zelensky a uma fábrica de munição na Pensilvânia em setembro. A visita ao estado foi criticada como um golpe político por aliados de Trump, incluindo o presidente da Câmara, Mike Johnson (R-Louisiana), que pediu que Zelensky demitisse sua embaixadora nos Estados Unidos, Oksana Markarova.
Zelensky está agora analisando candidatos para substituí-la, disse uma autoridade na Ucrânia. A embaixada ucraniana em Washington não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Siobhán O’Grady, em Kiev, Isabelle Khurshudyan, em Los Angeles, Catherine Belton, em Londres, e Aaron Schaffer, em Washington, contribuíram para esta matéria.
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